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Naufrágio: sobrevivente só pergunta pela mulher

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No aeroporto, de mãos vazias, só teve uma frase: «Onde está a Luísa?»

David Dourado Marques, o único pescador resgatado com vida do naufrágio da embarcação em que seguia, junto à costa francesa, chegou hoje à noite ao Aeroporto de Francisco Sá Carneiro, no Porto, de mãos vazias e a perguntar pela mulher, que desmaiara minutos antes.

«Onde está a Luísa?», inquiriu David, 47 anos, procurando com os olhos. Depois dos primeiros abraços, de amigos, do pai, da mãe e do filho mais novo, este muito emotivo, o pescador foi então conduzido ao posto de socorros do aeroporto onde Ana Luísa recebeu assistência após sentir-se mal e perder os sentidos.

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David chegou em passo apressado, sem uma lágrima, mudo. Parecia estar ainda atordoado pelo acidente ocorrido com a embarcação francesa «Petit Jolie», que se afundou segunda-feira e levava a bordo três pescadores portugueses e quatro franceses.

Do acidente resultaram dois mortos confirmados, de nacionalidade francesa, estando ainda dados como desaparecidos os restantes quatro pescadores: dois portugueses e dois franceses. David, natural das Caxinas, Vila do Conde, foi o único sobrevivente.

Permaneceu cerca de quatro horas nas águas frias do Atlântico, lutando entre a vida e a morte, antes de ser resgatado por um helicóptero e levado para terra. O naufrágio levou-lhe todos os seus haveres.

Ana Luísa, entretanto, recuperou e foi juntamente com David para casa, em silêncio e ainda combalida. Não houve declarações, nem choros, nem gritos.

No aeroporto, compareceram também o presidente da Câmara Municipal de Vila do Conde, Mário Almeida, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Pesca do Norte, António Macedo, e o presidente da Junta de Freguesia de Caxinas, José Maria Postiga.

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Os filhos de David são uma excepção, visto que contrariaram uma velha tradição do ramo familiar paterno, todo ele ligado à pesca e ao mar: um, já casado, é litógrafo e outro, de 18 anos, estuda Podologia numa escola superior de Famalicão.

Três dos cinco irmãos de David são também pescadores. O pai deles, Otílio da Conceição Marques, de 73 anos, contou à Agência Lusa que, «no dia do acidente, os dois mais novos foram para a Escócia, trabalhar na pesca».

O mais velho dos irmãos Dourado Marques «anda no Mar do Norte, no petróleo». Trabalha num «barco de apoio a uma plataforma petrolífera» e antes «também andou na pesca».

Nas Caxinas é assim: o mar faz parte das vidas de quem lá nasceu e vive e Ana Luísa sabe-o muito bem. «A minha nora não conheceu o pai. Tinha 2 anos quando ele morreu no mar, ali a Oeste de Esposende. Era pescador», narra Otílio, recordando que, na altura, ele próprio «ainda andava no bacalhau».

David saiu ileso do naufrágio. Chegou a ser internado num hospital de Brest, em França, mas teve alta pouco depois e hoje à noite, cerca das 21:15, chegou ao Aeroporto Francisco Sá Carneiro, num voo TAP proveniente de Paris, sem vontade de falar.

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