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Morreu Saramago: Pilar, a mulher que despertou o génio

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Jornalista espanhola deu uma nova alma ao português, que nunca escondeu o seu amor

«Se eu tivesse morrido antes de te conhecer, Pilar, teria morrido sentindo-me muito mais velho. Aos 63 anos, a minha segunda vida começou. Não posso queixar-me. As coisas que você considera importantes não são tão importantes. Eu ganhei um Prémio Nobel. E daí?»

A declaração de José Saramago ao «New York Times», numa entrevista à jornalista Fernanda Eberstadt, resume a relação forte que desenvolveu com a sua segunda mulher, a espanhola Pilar del Rio.

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Esse amor contrastava com a sua frieza em muitos temas e até com a sua descrença na humanidade. Saramago não se cansou de o propalar e até associar à sua obra, como ficou retratado no documentário «José & Pilar, o retrato de uma relação», de Miguel Gonçalves Mendes.

«Baseado no registo do seu dia a dia em Lanzarote, a sua casa, e nas suas viagens de trabalho pelo mundo este filme ambiciona ser um retrato intimista do casal. Tem como ponto de partida o processo de criação, produção e promoção do romance «A viagem do elefante». A ficção deste romance, ao longo do documentário, irá funcionar como metáfora do percurso do próprio Saramago desde o momento inicial da construção da história em Lanzarote (2006) até o lançamento do livro no Brasil (2008). Desta maneira, a dura e custosa viagem do elefante, entre a corte de D. João III em Lisboa e a corte do arquiduque Maximiliano na Áustria, irá reflectir a própria jornada do autor durante o processo de criação deste livro», refere a sinopse da longa-metragem.

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A 17 de Outubro de 98, no jornal «Público», Pilar del Rio descrevia como se tinha apaixonado pelo português. Uma certa tarde de 1986, em que foi com umas amigas a uma livraria, descobriu a obra: «Vi um livro chamado O Memorial do Convento, e achei curioso o título. Li uma página, li o arranque, comprei, fui para casa e devorei-o».

Logo a seguir, comprou toda a obra traduzida em espanhol. Conheceram-se ainda em 86, juntaram-se em 87 e casaram-se em 88. Os dois mudar-se-iam para Lanzarote, a última morada do autor. Voltaram a casa em 2007, em Castril (Granada), terra natal de Pilar del Rio.

Mas, pelo caminho, ficaram registos da sua passagem, como na Azinhaga, a terra natal de Saramago. A 3 de Junho de 2008 celebrou-se aquele que o escritor considerou «terceiro casamento», quando o Pilar del Rio passou a ser nome de rua na Azinhaga, fazendo esquina precisamente com Saramago. A musa do autor tornava-se, também «filha adoptiva» da terra-natal do seu amado.

O seu nome ficou escrito na antiga Rua da Estação, que passa frente à junta de freguesia e à Biblioteca José Saramago e que se cruza com a rua que em 1987 recebeu o nome do escritor. A placa, de azulejos, com orla em tons de amarelo, exibe o nome de Pilar del Rio seguido da citação constante no livro Pequenas Memórias: «A Pilar que ainda não havia nascido e tanto tardou a chegar». Pilar, que recebeu uma réplica da placa toponímica, desejou que «todos os enamorados do Mundo se encontrem e dêem um beijo nesta esquina».

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