A Grande Barreira de Coral, no nordeste da Austrália, está a sofrer o pior episódio de branqueamento de que há registo, anunciou hoje a autoridade gestora.
"O impacto cumulativo sofrido pela barreira este verão foi maior do que nos verões anteriores", declarou a Autoridade do Parque Marinho da Grande Barreira de Coral, que depende do Governo federal australiano, em comunicado.
Anunciado em março, este novo episódio de branqueamento maciço, devido ao aumento da temperatura da água em consequência das alterações climáticas, é o quinto em oito anos.
A Grande Barreira de Coral, que se estende por mais de 2.300 quilómetros ao longo da costa do estado de Queensland, é frequentemente considerada a maior estrutura viva do mundo. Alberga uma biodiversidade extremamente rica, com mais de 600 espécies de corais e 1.625 espécies de peixes.
As observações aéreas mostraram que cerca de 730 dos mais de mil recifes observados estão branqueados, disse.
O branqueamento é causado por um aumento da temperatura da água, que expulsa as algas simbióticas que dão aos corais uma cor brilhante. Se as temperaturas elevadas persistirem, o coral torna-se branco e morre.
Em várias zonas do Parque Marinho, "os corais têm sido expostos a níveis recorde de calor", sublinhou a Autoridade.
Mundo não está a fazer o suficiente
O mundo não faz o suficiente para proteger os recifes de corais, declarou terça-feira o enviado especial das Nações Unidas para os oceanos, em defesa dos ecossistemas marinhos que protegem a biodiversidade, sustentam a vida marinha e produzem oxigénio.
Em entrevista à The Associated Press, por ocasião de uma conferência internacional sobre os oceanos que decorre na Grécia, Peter Thomson sugeriu que todos os recifes de corais deveriam ser incluídos em áreas marítimas protegidas sob o que se designa por iniciativa “30x30” – um plano para designar 30% das áreas terrestre e marítima até 2030.
Os principais cientistas do tema anunciaram na segunda-feira que os recifes de corais estão a experimentar um branqueamento global pela quarta vez, e a segunda em 10 anos, em resultado do aquecimento global dos oceanos devido às alterações climáticas antropogénicas.
Cientistas da agência dos EUA para os Oceanos e a Atmosfera (NOAA, na sigla em Inglês) e da Iniciativa Internacional para os Recifes de Corais disseram na segunda-feira que o branqueamento ocorre em 53 países, territórios ou economias locais confirmadas desde fevereiro de 2023.
Se bem que muito tenha sido feito para proteger estes recifes no mundo, a causa primária é a queima de combustíveis fósseis, que causa as emissões de gases com efeito de estufa e o aquecimento dos oceanos, disse Thomson.
“Está a ser feito o suficiente? A resposta é claramente ‘não’”, acrescentou. “E o que falta é a transição para sair da queima dos combustíveis fósseis”.
Thomson disse que acredita que alguns corais mais resilientes vai sobreviver, e salientou os esforços para preservar os corais em instalações como aquários.
Mas, interrogou, “está-se a enfrentar uma tragédia colossal dos ecossistemas?”, respondendo de imediato: “Sim, definitivamente. E não o podemos evitar”.
Por vezes descritos como florestas tropicais submarinas, os recifes de corais apoiam um quarto das espécies marinhas e formam barreiras cruciais que protegem as linhas costeiras do impacto das tempestades. Além de também permitirem atividades empresariais nas áreas de turismo, pesca e outras.
“Não se pode te um planeta saudável sem um oceano saudável. E a saúde do oceano está em declínio”, acentuou Thomson.
Este embaixador das Fiji, que foi apontado pelo secretário-geral da ONU para a função de enviado especial para os oceanos em 2017, insistiu: “Não se podem condenar os nossos netos a um mundo sem corais, a um mundo em fogo”.