Milhazes: a vida na Suíça entre o futebol e a carpintaria - TVI

Milhazes: a vida na Suíça entre o futebol e a carpintaria

Jogou em vários clubes portugueses, na Roménia, em Chipre e na Grécia. Terminou a carreira profissional em 2018. Após ano e meio como dono de casa na zona de Genebra, onde acaba de trocar o Famalicão pelo Sporting, deitou mãos à obra porque «estava a dar em doido»

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«Depois do Adeus» é uma rubrica dedicada à vida de ex-jogadores após o final das carreiras. O que acontece quando penduram as chuteiras? Como sobrevivem os que não ficam ligados ao futebol? Críticas e sugestões para o email vhalvarenga@mediacapital.pt.

Milhazes, Carlos Milhazes, foi um dos bons laterais esquerdos portugueses nas duas últimas décadas. Formado pelo Varzim, o defesa representou ainda Boavista, Rio Ave e Vitória de Guimarães na Liga, destacando-se igualmente nos campeonatos de Roménia, Chipre e Grécia.

O jogador poveiro terminou a carreira em 2018 e juntou-se à família na Suíça. Matou as saudades da mulher e do filho, dedicando o resto do tempo ao futebol amador. Contribuiu para uma subida de divisão do Famalicão de Genebra e vai passar para o Sporting local, na 3. Liga (sétimo escalão suíço).

Após mais de um ano com o estatuto de «dono de casa», Milhazes quis sentir-se útil e foi trabalhar. A carpintaria do cunhado passou a ser entrar no seu quotidiano. No início de 2010, assinou contrato em part-time e foi aprendendo o ofício, algo completamente diferente do que tinha feito até aqui. Aos 39 anos, sente-se feliz.

Para trás ficaram inúmeras experiências no futebol profissional, experiências que passamos a detalhar: Caçadores das Taipas (2000 a 2002), Varzim (2002 a 2004), Boavista (2004 a 2005), Rio Ave (2005 a 2008), Poli Timisoara da Roménia (2008 a 2009), Vitória de Guimarães (2009 a 2010), novamente Rio Ave (2010 a 2011), Desportivo de Chaves (2011 a 2012), ENP de Chipre (2012 a 2013), OFI Creta da Grécia (2013 a 2015), Levadiakos da Grécia (2015 a 2017) e de novo Varzim (2017 a 2018).

Esta é a sua história.

Maisfutebol – Milhazes, como é que tem sido a sua vida desde 2018, momento em que decide terminar a carreira profissional?
Milhazes – Ora bem: em 2017, eu estava no Levadiakos e tive um contacto do Varzim. Sempre disse que gostaria de terminar a carreira onde comecei, tinha o objetivo de jogar até aos 40 anos, por isso assinei por três anos pelo Varzim, mas não encontrei no clube aquilo que eu esperava. No fim da primeira época, chegámos a acordo e eu achei que estava na altura de me juntar à família. A minha mulher estava há cerca três anos na Suíça, porque ela tem dupla nacionalidade e na cidade onde eu estava na Grécia não havia escola internacional para o nosso filho. Já estava com saudades deles e, quando vês coisas como aquelas declarações do Quinito há alguns anos, ficas a pensar.

Foi por isso que acabou a carreira nessa altura?
Sim. Tive várias propostas para continuar, mesmo da Grécia, mas a minha família sempre se sacrificou por mim e achei que tinha chegado a altura de me sacrificar por eles. Passei a ficar como dono de casa, porque a minha esposa ia trabalhar, e assim consegui acompanhar o meu filho, passar mais tempo com ele. Claro que sentia falta da competição e por isso é que me meti aqui no futebol amador. Aliás, cheguei à Suíça numa sexta-feira e tive um colega meu que me convidou para ir disputar torneio no sábado. Depois outro colega, Bruno Bigas, convidou-me para ir para a equipa dele.

Porque é que as palavras de Quinito (ndr. «O futebol saiu-me caro», disse o treinador em 2016) o marcaram tanto? 
Os jogadores do futebol perdem muita coisa do crescimento dos miúdos, o acompanhamento, ir às festinhas e os outros miúdos perguntarem onde está o pai… Desde pequeno, foi a Sandra, a minha mulher, que lhe deu a maior parte da educação. Quando se ouve uma entrevista daquelas, fica-se a pensar. Foi por isso que em 2018 senti que chegava do futebol profissional e que era altura de acompanhar o Rodrigo, que tem 12 anos, porque hoje estamos aqui e amanhã podemos não estar.

E como tem sido essa experiência no futebol amador na Suíça?
Antes de mais, fui jogar como ponta-de-lança, porque estava farto de jogar à defesa (risos). Entretanto, o presidente do Famalicão chamou-me para falar, porque queria subir o clube à 3. Liga, e assumi esse objetivo. Fizemos uma equipa fantástica, penso que só tivemos uma derrota durante todo o ano. Passámos a ter uma caixinha para multas, como os profissionais, e pedi logo para começar a jogar ao domingo de manhã, porque antes jogávamos à tarde, os miúdos iam para a noite e chegavam todos derretidos. Assim, tirei vantagem sobre as outras equipas. Também jogava pelos veteranos à sexta-feira, porque aqui é partir dos 30 anos, e também conseguimos subir essa equipa. Nas duas equipas, marquei 96 golos. Acho que me enganei na minha posição (risos).

Entretanto, quando é decide que precisava de fazer algo mais na vida?
Ao fim de ano e meio aqui, estava a dar em doido por estar sempre em casa e senti que tinha de fazer alguma coisa. O meu cunhado tem uma carpintaria e pedi-lhe para o ajudar. Comecei a ir para lá sempre e a certa altura ele fez-me um contrato parcial. Levo o miúdo à escola, vou para lá e trabalho de manhã, a aprender algo diferente. Se fosse ao Centro de Emprego, ia escrever o quê no formulário? O que é que um ex-jogador sabe fazer? Acho que em Portugal deviam pensar em dar a reforma aos jogadores com uma certa idade, porque os jogadores não conseguem estudar e nem todos ganham como o Ronaldo e o Messi. Mesmo assim, já vi muito boa gente a ganhar milhões no futebol e depois a chorar na televisão. Aqui na Suíça, podes pegar no que descontas a qualquer momento. Em Portugal, quando acabas, ficas a uma enorme distância de poderes receber. E vais fazer o quê? Talvez fosse melhor ter os jogadores a descontar mais durante a carreira e depois terem a reforma antecipada.

Está a gostar do trabalho na carpintaria?
Sempre gostei de ser eu a tentar resolver as coisas em casa e o meu cunhado, Ricardo Parente, tem-me ensinado muito. Agora, chego a casa e já sei desempenar uma porta, afinar um armário, etc. Sinto-me bem com isso. Quando acabas o futebol, a primeira coisa que pensas é o que vais fazer? Vais treinar? Até para isso tens de ter os cursos, até nisso Portugal está atrasado. Devia haver alguma equivalência em relação aos anos que jogas como profissional. Fui trabalhar não tanto por necessidade, mais para me sentir útil, para fazer alguma coisa, senão começas a dar em doido. Um mês, dois meses aguentas, vês televisão, dormes até mais tarde, mas ficas o dia todo sozinho em casa, a mulher está a trabalhar, o filho na escola, e tu vais para o café?

Fica apenas na carpintaria ou já vai a serviços?
Quando são coisas mais básicas já vou sozinho. A primeira coisa que fiz sozinho foi trocar umas fechaduras de umas portas, mas sempre com o máximo de rigor, porque a empresa (Menuiserie Bosonnet em Petit-Lancy, nos arredores de Genebra) tem 125 anos de existência e uma grande reputação. Por acaso é uma área que gosto e já tenho feito coisas para casa. Por exemplo, se preciso de uma cadeira, fico lá a aventurar-me a fazer uma cadeira. A caixa de madeira para as multas do futebol também fui eu que fiz, o pessoal adorou.

O futebol, de qualquer forma, continuará sempre presente?
De certeza. Neste momento, trabalho de manhã na carpintaria, tenho a família que será sempre a prioridade e o futebol que será sempre a minha paixão. Uma agência de jogadores de Portugal, a Kool4You, tem-me pedido para ver jovens para indicar e essa também é uma área para explorar. Para além disso, já consegui subir o Famalicão à 3. Liga, queria tentar a 2. Liga mas eles não estavam interessados. Por isso, vou mudar-me para o Sporting de Genève, a par do Bruno Bigas, para ser treinador-jogador e tentar essa subida à 2. Liga. Ganha-se alguma coisa nestes escalões mas é apenas um extra.

Continuando no futebol, mas voltando ao início da carreira, como foi terminar a formação no Varzim e ser emprestado ao Caçadores das Taipas?
No primeiro ano foi complicado porque fui chamado ao serviço militar, fiquei tolo. Fui para Lisboa, mas felizmente nos últimos três meses consegui vir cumprir para a Póvoa de Varzim. Até lá vinha de Lisboa na sexta-feira à noite, sábado de manhã ia treinar ao Taipas e depois jogava. Depois, fiz mais um ano no Taipas, um ano fantástico, em que subimos à II Divisão B. Regresso ao Varzim na Liga e inicialmente o treinador queria-me dispensar, tinha o Jorge Luís e o Jorge Ribeiro que tinha vindo do Benfica. Fiquei, o treinador disse-me que eu seria a terceira opção, mas estreei-me com o Vitória de Guimarães em Felgueiras e ainda fiz 21 jogos. O Varzim fez 28 pontos na primeira volta mas acabou por descer, fiz depois uma temporada na II Liga e fui para o Boavista.

17 jogos e um golo no Boavista. Estava à espera de mais?
Tínhamos ali uma equipa engraçada e acabámos no 6.º lugar, mesmo tendo sido um ano confuso. Foi erro meu, perdi um pouco a minha identidade, o treinador começou a moldar-me à imagem dele e costumo dizer que nesse ano desaprendi um bocadinho de jogar futebol. Tanto que no final da época pedi para sair, mesmo tendo mais quatro anos de contrato com o Boavista.

Entretanto, como poveiro e formado no Varzim, vai para o Rio Ave.
Inicialmente nem queria ir, porque o meu primo, Paulo Fangueiro, era vice-presidente lá. Não queria que pensassem que ia por causa dele, mas ligaram-me o presidente e o treinador e convenceram-me. Depois havia essa rivalidade com o Varzim, por eu ser poveiro, tanto é que na apresentação do Rio Ave fui assobiado. Mas depois tudo passou e tive ali uma grande experiência. Quando descemos de divisão no final do primeiro ano, muitos colegas fizeram por ir embora, mas eu quis ficar para ajudar à subida. Infelizmente, morremos na praia. No segundo ano na II Liga estávamos bem lançados e estava nos melhores marcadores da prova quando surgiu a proposta da Roménia.

A proposta do Poli Timisoara era muito tentadora?
Não pude recusar porque também consegui ajudar o Rio Ave, que tinha salários em atraso. Custou-me por deixei a minha mulher grávida em casa mas teve de ser. Fiz lá quatro meses fantásticos e conseguimos apuramento para a Liga Europa. Foi inicialmente por empréstimo mas acabaram por fazer uma proposta definitiva ao Rio Ave. Foi bom porque joguei na Liga Europa, disputei a pré-eliminatória com o Partizan de Belgrado mas a meio da época surgiu a proposta de empréstimo do Vitória de Guimarães.

Ficou feliz por voltar a Portugal em 2009?
Já estava com saudades da família e, quanto o Vitória me bateu à porta, nem hesitei. Sempre gostei daquela massa associativa fantástica. Foi das melhores fases da minha carreira e aprendi imenso com o mister Manuel Cajuda. No fim da época saiu o mister Cajuda, veio o mister Nelo Vingada, mas fiz uma fissura numa costela na pior altura possível. Nesse momento, diz-me o Nelo Vingada: ‘Então tu, que se calhar até ias ser chamado à seleção, porque o Carlos Queiroz ligou-me a perguntar por ti, apareces-me assim com uma fissura?’ Psicologicamente, isso foi matar-me, chegar à seleção era um grande objetivo meu. É uma das mágoas que guardo do futebol português, porque nunca é dada oportunidade. Aliás, chegaram a levar um suplente meu no Varzim ao Europeu de sub-21. Jorge Ribeiro? Sim, foi ele. E tinhas o Miguelito a fazer uma grande época no Rio Ave, na Liga. Porque é que foi um suplente da II Liga? São coisas estranhas do futebol português

Nessa segunda época no V. Guimarães faz apenas 11 jogos, porquê?
Estive dois meses parado devido à fissura e entretanto houve troca de treinador no Vitória. Veio o Paulo Sérgio e as coisas descambaram. Quando não gostam de um jogador, mais valem serem sinceros e diretos com as pessoas do que tentarem mentir. Ainda tinha mais dois anos de contrato com o Vitória mas no final dessa época chegou o mister Manuel Machado e dispensou vários jogadores. Mais uma vez, pedi para sair e surgiu novamente o Rio Ave.

Curiosamente, no Rio Ave faz novamente apenas 11 jogos.
Exato. Comecei a titular mas parti o quinto metatarso, fiquei algum tempo parado e entretanto o Tiago Pinto agarrou o lugar. Fez uma excelente época, não há nada dizer. Compreendi perfeitamente. Mas a dada altura, o mister Carlos Brito dá-me uma oportunidade, num jogo decisivo com a Naval. Marquei o golo da vitória, salvámos a época e, na conferência de imprensa, atirei: ‘O mister disse que era a minha oportunidade e penso que a agarrei. Agora, ele é que tem de decidir'. No jogo seguinte, meteu-me no banco, foi uma tremenda injustiça. Mas enfim, nunca fui de dar graxa aos treinadores e consigo dormir de consciência tranquila.

Porquê ir de um clube da Liga para outro que estava na II Divisão B?
Estava sem confiança, ao fim de dois anos a jogar pouco. O mister João Eusébio ligou-me para ir para o Desportivo de Chaves, o presidente Francisco Carvalho também falou comigo e convenceu-me. Futebolisticamente foi bom porque recuperei a confiança, embora o Chaves não tenha conseguido subir. Surgiu entretanto a proposta de Chipre, fiz uma época fantástica no ENP e apareceu o OFI Creta.

Foi uma das melhores experiências da carreira?
Sem dúvida. É um clube fantástico, serei OFI Creta até morrer, foram os melhores anos que passei no futebol, em tudo, o clube, as pessoas. Aquilo é fantástico, as pessoas respeitam quem trabalha, quem dá tudo. Com o mister Sá Pinto fizemos uma época brutal, ele conseguiu fazer ali uma coisa absolutamente fora do normal. O OFI é o principal clube da ilha e é um ambiente terrível para os adversários que jogam ali. Mas não só. Mal o mister Sá Pinto chegou, empatámos um jogo e no treino seguinte os adeptos invadiram aquilo. Estávamos a treinar e começámos a ouvir as motas, os carros a entrar e os adeptos a cercarem alguns jogadores.  Só alguns. Talvez os que não se portavam bem fora dos relvados. Foi duro.

Na época seguinte teve Gennaro Gattuso como treinador. Que tal?
Tem uma personalidade muito forte, como o Sá Pinto, tanto é que no primeiro treino ele mandou-me logo para o banho. Meteu-me na pior equipa, eu não gosto de perder, ao intervalo perguntou-me porque é que eu não subia e eu disse que não valia a pena, que a minha equipa ia perder a bola, porque não tinha qualidade. Disse isso em voz alta, à frente de toda a gente, e eme mandou-me para o banho. Durante o almoço de equipa, chamou-me para a beira dele e disse-me: ‘tens uns ovos grandes’. Admiti que não devia ter dito aquilo à frente dos meus colegas de equipa, ele compreendeu e partir daí ficámos grandes amigos. Ainda hoje mantemos o contacto.

Em janeiro de 2015 muda-se para o Levadiakos, foi uma boa opção?
Se o OFI não tivesse tido os problemas financeiros que teve - havia salários em atraso -, se calhar ainda lá estava hoje em dia, tinha ficado a morar em Creta com a minha mulher e o meu filho.  Pediram-me para fazer o último jogo antes de ir para o Levadiakos, já com o mister Anastoupolos no banco, e ele meteu-me a extremo. Marquei três golos, no final as pessoas gritaram todas para eu ficar, foi emocionante. Se fosse pelo coração, tinha ficado lá.

Tudo correu bem até novembro de 2015, o que aconteceu?
Estava muito bem no Levadiakos, tanto que apareceu um clube grande da Grécia, já estava tudo acertado para janeiro mas foi quando aconteceu a rotura de ligamentos. Nos momentos-chave, aconteceu sempre alguma coisa. Acho que terminava contrato mas o Levadiakos foi fantástico, o presidente disse-me logo que me renovava contrato. Os médicos do OFI ofereceram-se para me operar, mas fiquei em Atenas a fazer a operação, com o médico Stefan Odakis. Eles inicialmente ponderaram meter um ligamento artificial, para eu voltar mais rápido, mas o médico disse que era melhor não, porque o mais importante era o joelho ficar bom para o futuro.

Ainda conseguiu voltar a jogar no final dessa época, correto?
Sim, com muito esforço. Os jornais começaram a dizer que não voltava, que estava lesionado e já tinha 35 anos, mas a minha irmã ajudou-me na recuperação e o Vítor Pimenta também. É alguém que já me conhece desde as camadas jovens do Varzim e sempre me acompanhou. Ainda fiz o último jogo da época, recuperei em quatro meses e meio, com o apoio do preparador-físico Cristiano Couto. Trabalhei muito para voltar, na temporada seguinte tive um desempenho fantástico e recebi o troféu da Liga de melhor lateral esquerdo a jogar na Grécia, já com 36 anos. Foi uma chapada de luva branca.

Mesmo assim, em 2017 decide voltar a Portugal e ao Varzim.
Como disse antes, queria acabar onde comecei. A época até arrancou bem, mas despediram um treinador, João Eusébio, ainda na primeira volta, quando estava a cinco ou seis pontos na zona de subida. Nunca irei perceber porquê. Mesmo os adeptos do Varzim devem ter achado as coisas estranhas. Foi para lá uma pessoa que, por ter o historial que tem, nós até achámos que percebia daquilo, mas não. Sim, o Capucho. Foi um dos treinadores que mais me marcou pela falsidade. Tive situações em que ele diz a um colega meu que é um exemplo, que foi o melhor em campo, e no dia seguinte está a dispensá-lo. Mas Deus não dorme, onde é que essas pessoas estão agora? Se calhar vão ter outras oportunidades, pelo nome que construíram, mas não vai passar disso. Foi por isso que vim embora e pela questão familiar.

Em jeito de balanço, acha ainda assim que foi dos melhores laterais portugueses ao longo das últimas duas décadas?
Penso que, ao longo da minha carreira, os números falam por si. Se formos ver defesas esquerdos com tantos golos, assistências e jogos, se calhar estou entre os melhores. Mas se calhar não tinha o empresário certo, o conhecimento certo, não era o irmão da pessoa certa, não tinha um tio no sítio certo…São as coisas do futebol que nunca iremos saber.

Quais foram os três adversários mais difíceis que enfrentou?
Três? Diria o Manú, que jogava no Estrela da Amadora e depois foi para o Benfica, um extremo que me deu uma trabalheira tremenda. Claramente o Quaresma, sempre imprevisível, nunca sabemos o que aquele gajo vai fazer, se vai para a esquerda ou para a direita, e o Hulk, que fisicamente era um bicho. São os que mais me ficam na memória.

E o companheiro de equipa que tinha maior potencial? Coentrão?
É curioso perguntar isso. O Fábio Coentrão fez a estreia como titular pelo Rio Ave porque eu, o Vilas Boas e o Zé Gomes, salvo erro, fomos ter com o Lima Pereira, na semana de um jogo com o Sporting, e pedimos para o por a jogar. Ele tinha acabado de fazer 18 anos. Inclusive, eu até disse que me responsabilizava pelo Fábio, porque ele jogava a extremo, à minha frente. A partir daí, o miúdo foi sempre a subir e fez a carreira que fez. Perdemos o jogo por 1-3 (30 de abril de 2006), em Vila do Conde, mas ele jogou bem e foi elogiado. Eu até marquei o golo do Rio Ave, o Ricardo deu-me uma ajuda (risos). A bola foi rasteira, eu a reclamar comigo mesmo, já tinha virado costas, mas o Ricardo ajudou-me um bocadinho.

Para terminar, o companheiro de equipa que tinha qualidade para muito mais?
Júlio Alves, sem dúvida (ndr. após cinco anos de ausência, jogou esta época pelo Cerveira, no Campeonato de Portugal. Pode ler a entrevista do médio ao Maisfutebol). Ele tinha um potencial enorme, mas se calhar não gostava o suficiente de futebol. Sempre lhe disse isso: ‘foste burro, com esses pés…’. Apanhei-o no Rio Ave, mas sempre foi mais um jogador que se gosta de divertir. Sem dúvida nenhuma que, tecnicamente, o miúdo é muito bom. Dás-lhe a bola e ele sabe o que fazer com ela. Mas faltou-lhe algo.

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