Campos e Cunha: «Não há forma de sairmos do euro» - TVI

Campos e Cunha: «Não há forma de sairmos do euro»

Campos e Cunha

Ex-ministro diz que deixar a moeda única era «um pandemónio total» e criaria problemas que durariam 20 anos

Relacionados
A nossa permanência no euro é a única certeza que podemos ter. Quem o diz é Luís Campos e Cunha, antigo governador do Banco de Portugal.

«Só há uma coisa de que podemos estar certos: é o euro. Não vai acabar», afirmou na primeira conferência de um ciclo organizado pelo «Diário de Notícias», com a SEDES e a CGD.

O economista lembrou que Nova Iorque também chegou a estar na bancarrota, incapaz de pagar as suas dívidas. «Se Portugal e a Grécia deixassem de pagar aos credores, seria igual para a Zona Euro ao que foi Nova Iorque para os EUA e nunca ninguém pediu a Nova Iorque para sair do dólar», exemplifica.

Para o antigo governador do Banco de Portugal, «não há forma de sairmos do euro. No dia em que quiséssemos sair, isso teria de ser pré-anunciado com 6 meses, demora muito tempo. No dia a seguir, os portugueses iam levantar tudo ao banco, em notas de euros, e o sistema bancário falia».

Para além disso, lembra, as nossas empresas têm contratos feitos em euros. «Como é que depois vai dizer a um alemão que, apesar de ter contratado um pagamento em euros, nós agora usamos outra moeda e, portanto, vamos pagar em escudos?»

«Era um pandemónio total, tínhamos um problema para 20 anos. Não há uma maneira ordeira de sair», conclui.

Além de considerar que uma saída da moeda única seria «económica e institucionalmente impraticável», Campos e Cunha diz não ver «como seria exequível». «É impossível», conclui.

Portugal só tem dois futuros possíveis

O economista só vê dois cenários possíveis para o futuro do país, e nenhum deles é bom.

No melhor, as medidas de austeridade começam a surtir efeito, os mercados começam a estabilizar, nos recuperamos a nossa credibilidade e o acesso ao financiamento no mercado vai voltando, os juros vão baixando, etc. «Neste cenário, não há intervenção externa, as exportações compensam a queda na procura interna, temos um crescimento de 0 a 0,5% este ano, há uma recessão mas seria passageira, no final do ano já estávamos a crescer e as coisas encarrilavam».

No pior cenário, «que é normalmente o das organizações internacionais», o Produto Interno Bruto (PIB) contrai 1,2 ou 1,3%. Mas este «é um cenário que não é credível porque põe problemas suficientemente graves ao nível do Orçamento do Estado, que o tornam virtualmente impossível: não recuperamos a nossa credibilidade, os juros não baixam, e teremos de recorrer ao Fundo Europeu de Estabilização. É o selo internacional da nossa incompetência».

Pior: quando chegarmos a essa fase, ao problema orçamental pode já somarse um problema bancário, uma vez que o sistema financeiro está a ser contagiado e perdeu praticamente acesso a financiamento nos mercados.

«Já acreditei mais no melhor cenário», desabafou o ex-ministro das Finanças de José Sócrates, apontando que «devíamos ter tomado medidas em várias alturas até aqui, devíamos ter evitado o corte de rating», que foi «o princípio do fim».

O ex-ministro de Sócrates considera que esta é uma crise política e que é cada vez mais inevitável um pedido de ajuda externo, mas avisou que, quando um país pede auxílio, isso tem um peço elevado ao nível da imagem e credibilidade, porque a reputação fica arruinada por muito tempo.

Campos e Cunha comparou ainda a actual situação do país com um acidente violento, afirmando que Portugal «estampou-se a 300 à hora».
Continue a ler esta notícia

Relacionados