Os efeitos da crise: mais 24 mil pessoas recebem ajuda - TVI

Os efeitos da crise: mais 24 mil pessoas recebem ajuda

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Cerca de metade dos pobres vive com menos de 250 euros por mês. Conheça os números negros de um Portugal sem razões para sorrir

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As estatísticas não deixam margem para dúvidas. A pobreza está a aumentar em Portugal e a um ritmo sem precedentes. Crise, desemprego e endividamento são palavras com significados que muitos portugueses conhecem bem de perto, às vezes mais do que um prato de comida.

Quase mais 24 mil pessoas recebiam, em Junho, ajuda da Federação Portuguesa de Bancos Alimentares contra a Fome. São mais 9,2% do que no ano passado, batendo todos os recordes em apenas seis meses. E cerca de metade dos pobres vive com menos de 250 euros por mês.

No total, eram 284.847 os assistidos; um número que não pára de aumentar: existem já 4.827 famílias na lista de espera para receber alimentos, segundo as edições do «Correio da Manhã», «Jornal de Notícias» e «Diário Económico», que citam o estudo do Banco Alimentar divulgado este domingo, no Porto, na conferência Portugal Solidário.

«Mais de 20% das instituições que dão apoio social estão em lista de espera», explicou a presidente do Banco Alimentar, Isabel Jonet.

A situação tem vindo a piorar nos últimos três anos. Os desempregados e as famílias mais endividadas são os primeiros a recorrer à ajuda alimentar. Em média, cada instituição apoiada pela Federação Portuguesa dos Bancos Alimentares Contra a Fome assistiu 160,3 pessoas, mais 5,77 do que no ano passado.

Mas o problema é que as instituições estão muito perto do limite que lhes permite satisfazer todos os pedidos. E isto numa altura em que o país vai ter de apertar ainda mais o cinto, com medidas de austeridade que contemplam, por exemplo, o aumento do IVA e cortes nos salários.

O cenário é negro. Um estudo da Universidade Católica para o Banco Alimentar que contou com a participação de 240 mil inquiridos mostra que um em cada quatro pobres não come pelo menos um dia por semana e 72% sentem-se pobres. Mais: 20% não conseguem armazenar comida suficiente até ao fim do mês, porque não tem dinheiro: esta é, de resto, a principal razão apontada por 93% das pessoas.

Se a maior parte dos pobres já está reformado (só 16% é que trabalham e desses, só 60% a tempo inteiro), a verdade é que todos eles vivem com rendimentos muito baixos. Pior, cerca de metade vivem com menos 250 euros por mês e 90% recebem menos do que o salário mínimo.

Endividamento: uma espiral sem fim

As despesas com alimentação (72%) e casa (69%) são as que mais dinheiro roubam às carteiras das famílias. E muitas delas acabaram mesmo por entrar na espiral do crédito para fazer face às necessidades: 31% disseram ter contraído empréstimos, mas destes apenas 10% superam os 500 euros. Certo é que só 41 inquiridos garantiram cumprir sempre com todas as mensalidades.

Isabel Jonet é peremptória: «Portugal é um dos países mais pobres da União Europeia», com «2 milhões de portugueses [a viver] abaixo do limiar da pobreza, ou seja, com menos de 4.969 euros».

As zonas mais problemáticas são o Porto, com 73.137 carenciados e Lisboa, com 72.155. Mas Aveiro (30 mil) e Setúbal (33.600) também estão numa fase crítica. O Algarve também entra para os primeiros lugares (15.500 assistidos), assim como Viana do Castelo (15 mil). Viseu foi a região que menos pessoas teve de ajudar (3.465).

A crise fez das suas e há cada vez mais pessoas da classe média que, sem ver uma luz ao fundo do túnel, recorrem ao Banco Alimentar. A Plataforma Europeia Contra a Pobreza, que vai arrancar dentro de dias, quer ter menos 20 milhões de pobres daqui a 10 anos. O anúncio foi feito pelo presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso. Uma meta para cumprir?
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