O ex-presidente do BES já tinha utilizado a intervenção inicial para arrasar a auditoria forense encomendada pelo Banco de Portugal, mas foi confrontado pelo deputado do PS Pedro Nuno Santos, ponto a ponto, com as desobediências contidas nesse relatório.
«O ring-fencing foi absolutamente cumprido (…) Foi por causa do ring-fencing que o grupo colapsou. Se não tivéssemos cumprido, se calhar não tinha colapsado».
Salgado admitiu que aumentou a exposição do BES já no primeiro semestre de 2014, mas sublinhou que foi para «reembolsar os clientes» do banco, para que a «confiança se mantivesse». Primeiro, os «clientes particulares», «depois os bancos».
Recorde-se que a auditoria reportou o desvio de dinheiro da conta destinada a reembolsar os clientes do papel comercial para dois bancos, o Montepio e o BCP. O ex-presidente do BES explicou que esse dinheiro tinha chegado a essa conta através de «empréstimos de curtíssimo prazo» a esses bancos, que tinham então que ser pagos.
Confrontado pelo deputado socialista com o facto de, nessa altura, já ser proibido pelo Banco de Portugal esse aumento da exposição ao GES, o banqueiro exemplificou que a proibição do financiamento à ESFG só chegou a 30 de junho.
«O financiamento foi destinado ao reembolso de clientes do grupo. Não contornámos o ring-fencing, fizemos tudo o que podíamos para reembolsar os clientes do banco».
Daí, o ex-presidente do BES ter «a certeza» que não fez «nenhuma desobediência ilegítima», apesar de a auditoria lhe apontar 21 casos.
Aliás, Ricardo Salgado defende que avisou «três vezes» o Banco de Portugal para o «risco sistémico» desse aumento da exposição, apontando novamente as culpas ao supervisor, sendo que voltou a criticar Carlos Costa por ter partido logo do princípio da sua culpa.
«Fiquei profundamente chocado com o julgamento sumário que governador fez [a 3 de agosto] e percebi que estávamos perante um julgamento prévio».
O caso «certamente acabará em tribunal», avisou o banqueiro, acrescentando: «Estou confiante na justiça portuguesa».