O Banco Santander Totta esteve perto de desistir da aquisição do Banif durante uma reunião no Banco de Portugal, devido às questões levantadas telefonicamente por Bruxelas sobre a questão dos auxílios de Estado, revelou hoje o presidente Vieira Monteiro.
"Meteram-nos um telemóvel à frente, em alta voz, e falámos com a DG Com [Direção Geral da Concorrência da Comissão Europeia]. A DG Com começou por analisar a nossa proposta no âmbito da venda privada e questionou-nos sobre a nossa proposta", afirmou António Vieira Monteiro durante a sua audição na comissão de inquérito ao Banif.
"Em seguida, entrou-se numa discussão sobre o que era considerado auxílio de Estado. Nós dissemos desde o início que não aceitávamos que fosse considerada ajuda de Estado. Não autorizaríamos que no futuro a DG Com tivesse qualquer controlo sobre a nossa atividade", sublinhou.
E destacou: "Era uma questão ‘sine qua non' [decisiva]. Se isso não fosse aceite, o Banco Santander Totta levantava-se e saía da reunião. Aliás, esteve para acontecer. A conversa ía nesse sentido e nós fechamos os papéis e preparámo-nos para ir embora".
Segundo o gestor, "a terceira parte foi como iríamos fazer a integração dos ativos do Banif".
Vieira Monteiro estava a responder às questões colocadas por Miguel Tiago, deputado do PCP, sobre o conteúdo da conversa telefónica tida com Bruxelas numa reunião que decorreu a 18 de dezembro.
"Até determinado momento falava-se de ajuda de Estado, mas como a conversa era em inglês, pode ter havido algum engano", frisou o líder do Santander Totta, em tom descontraído, ainda que sublinhando que o administrador financeiro do banco, Manuel Preto, que era quem dava as respostas à DG Comp é fluente na língua inglesa, até porque estudou muitos anos no estrangeiro.
Para o deputado comunista, "fica claro que a DG Com recuou face à posição do Banco Santander Totta. Mas não o fez com a Caixa Geral de Depósitos (CGD)".
Esta referência tem por base a intenção manifestada pelo Governo português junto da Comissão Europeia de fazer uma integração do Banif no banco público, que foi recusada por Bruxelas uma vez que a CGD ainda não devolveu os auxílios estatais de que beneficiou em 2012.
CGD foi "quem recebeu mais depósitos" do Banif
O líder do Santander Totta admitiu que a notícia da TVI teve impacto na liquidez do Banif, mas realçou que a Caixa Geral de Depósitos (CGD) foi o banco que mais beneficiou com a fuga de depósitos.
"Que [a notícia da TVI de 13 de dezembro] tem efeito na liquidez do Banif, é evidente", afirmou perante os deputados António Vieira Monteiro, afastando a ideia de que o Santander Totta - que uma semana depois adquiriu o Banif - foi o principal beneficiado desta situação.
Quem recebeu mais depósitos foi a CGD, depois o BCP, depois nós [Santander Totta] e depois o BPI", revelou o gestor durante a sua audição na comissão parlamentar de inquérito ao Banif.
Segundo Vieira Monteiro, o Santander beneficiou, no total, de 242 milhões de euros, contra 377 milhões de euros da CGD e 316 milhões de euros do BCP. "Portanto, foi 14%, o que está dentro da nossa quota de mercado", salientou.
O presidente do Santander Totta especificou que, até 11 de dezembro de 2015, uma sexta-feira, o banco público (CGD) tinha uma percentagem de 12% do dinheiro a entrar, saído do Banif. Depois da notícia da TVI que antecipava a resolução do Banif, um domingo (13 de dezembro), na semana entre 14 e 18 de dezembro, essa percentagem subiu para 25%. Depois de 18 de dezembro, caiu para 19%. "A média [da CGD] de dezembro foi de 21%", assinalou Vieira Monteiro.
Vieira Monteiro disse ainda que o Banco Santander Totta não esteve presente na reunião em que as autoridades decidiram que a venda voluntária do Banif passava a venda no âmbito de uma medida de resolução.
"O Banco Santander Totta não esteve presente em qualquer reunião onde tenha sido tomada a decisão de adotar a medida de resolução do Banif", afirmou o gestor.