Ataque contra Israel colocou à vista as fraquezas do arsenal bélico do Irão: eis o que o Ocidente aprendeu - TVI

Ataque contra Israel colocou à vista as fraquezas do arsenal bélico do Irão: eis o que o Ocidente aprendeu

  • CNN Portugal
  • NM
  • 18 abr, 19:14

Perante a eficácia da Iron Dome israelita contra o ataque de Teerão, os analistas encontram limitações notórias no armamento iraniano, mas também quem alerta que de poder dar o caso de “Israel ter tido sorte e o Irão ter tido muito azar”

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O Irão lançou mais de 300 drones e mísseis contra a Iron Dome de Israel na noite de sábado. A eficácia da operação foi reduzida, mas o mundo assistiu a um desfile dos tipos de munições presentes no arsenal bélico de Teerão, mas também ficou a par das limitações do poderio militar iraniano.

De acordo com analistas ouvidos pelo jornal norte-americano The Washington Post, a ineficácia do ataque deveu-se, em parte, à natureza coreografada da operação, que deu tempo suficiente tanto a Israel como aos Estados Unidos para preparem a defesa. Mas também se prendeu com as deficiências e incapacidades de médio e longo alcance do arsenal iraniano.

Nas celebrações do Dia do Exército, esta quarta-feira, o presidente iraniano, Ebrahim Raisi, disse que ficou demonstrado que as forças armadas do Irão estão “prontas” e que o ataque contra Israel foi um “sucesso”, garantindo ainda que “se tivesse sido uma ação em grande escala, nada teria sobrado do regime sionista”.

No entanto, após as munições utilizadas terem sido analisadas, os especialistas garantem que têm dúvidas quanto à veracidade das promessas de Ebrahim Raisi, isto porque, no seu entendimento, não é claro como o Irão venha a ser capaz de infligir danos maiores a Israel com o arsenal que fez desfilar pelo céu do Médio Oriente.

Irão utilizou praticamente tudo o que tinha

O analista John Krzyzaniak, que se tem dedicado a estudar os programas de mísseis do Irão como parte do Projeto Wisconsin - sobre o Controlo de Armas Nucleares - tem despendido os últimos dias, tal como outros analistas, a analisar os vídeos dos lançamentos iranianos de sábado, imagens dos destroços e informações sobre interceções. O objetivo central é identificar as munições iranianas e, até ao momento, a conclusão é simples: “O Irão utilizou praticamente tudo o que tinha para conseguir chegar ao território de Israel”. Krzyzaniak diz estar confiante de que Teerão “utilizou parte de todos os sistemas que possui”.

A única exceção foram mesmo os mísseis Sejjil-1 e Shahab-3. Fabian Hinz, analista iraniano do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, em Berlim, explica que o Shahab-3 “não foi usado porque é um míssil muito antigo” e “o Sejjil é um míssil misterioso”. Hinz recorda ainda que, historicamente, o Irão “usou muito, muito pouco [mísseis Sejjil] durante este tipo de manobras”.

Outros analistas consultados pelo Washington Post justificam que esta não utilização pode advir do facto de o míssil Sjjil ter um custo de produção altamente dispendioso, acrescentando que este tipo de projéctil até já poder não estar sequer em produção.

O número de munições utilizadas por Teerão também permite desvendar alguns detalhes sobre o arsenal iraniano. Os especialistas apontam que o Irão terá cerca de três mil mísseis balísticos armazenados e que estas previsões poderão até pecar por excesso.

“Se esta foi apenas uma vaga de lançamentos de um número desconhecido de vagas futuras, então não se dispararia uma fração significativa do que se tem armazenado logo na primeira ronda”, explica John Krzyzaniak.

Ficou-se ainda a saber mais um dado: por terem sido disparados mais de 100 mísseis balísticos, deduz-se que o Irão terá de ter pelo menos 100 lançadores. No entendimento de Krzyzaniak, isto “mostra que o Irão não sofreu qualquer limitação na produção doméstica de mísseis e lançadores”.

O arsenal de mísseis balísticos iraniano é maior do que o de qualquer outro Estado no Médio Oriente e é quase na sua totalidade desenvolvido internamente. Teerão tem ainda vindo a demonstrar capacidade de atualizar alguns sistemas, melhorando quer o alcance, quer a precisão dos projéteis.

Ainda assim, o ataque contra Israel revelou que as munições iranianas são de baixa qualidade. As Forças de Defesa de Israel anunciaram que intercetaram 99% dos mísseis e drones lançados.

Behnam Ben Taleblu, membro sénior da Fundação para a Defesa das Democracias, que tem escrito vários artigos e relatórios sobre o programa de mísseis do Irão, não tem dúvidas que “estas armas por si só não serão suficientes para o Irão vencer uma eventual guerra [contra Israel]”.

A primeira vaga de lançamentos do Irão foi composta por drones baratos, eficazes e fáceis de produzir, que têm vindo a ser usados em várias localizações do Médio Oriente há anos: os conhecidos Shahed-136. São os mesmos drones que foram fornecidos por Teerão à Rússia e continuam a ser utilizados na Ucrânia.

Pode ter sido um ataque de teste

A estratégia do Irão passou pela mobilização de drones lentos, numa primeira fase, com o objetivo de manter as defesas antiaéreas ocupadas e permitir a passagem das munições mais avançadas. No entanto, falhou e todos os drones foram abatidos antes de entrarem no espaço aéreo israelita.

Outra teoria foi ainda avançada por Ali Hamie, analista militar libanês, que lembrou que, apesar do falhanço operacional, Teerão também aprendeu alguns ensinamentos sobre a defesa antiaérea israelita. Por isso, diz, este “pode ter sido um ataque de teste”. Hamie teoriza que “os iranianos conseguiram o que pretendiam, que era ultrapassar as defesas antiaéreas israelitas e que esta não é uma vitória simbólica, mas sim uma vitória real”.

Irão é incapaz de sustentar "conflito a longo prazo"

Afshon Ostovar, professor de assuntos de segurança nacional na Escola Naval de Pós-Graduação na Califórnia, defende que, em última análise, a força demonstrada pelo Irão no sábado “não é sustentável num conflito a longo prazo”. O especialista entende que, mesmo que Teerão ajustasse o ritmo de novos ataques e tipo de munições utilizadas, teria sempre de “lançar bastante material para que apenas algumas [munições] trespassassem a Iron Dome”.

Tom Karako, diretor do Projeto de Defesa contra Mísseis do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, apresenta ainda uma visão alternativa: “O número de munições necessárias para repelir o ataque foi enorme, caro e poderia ser difícil de replicar”.

Portanto, “Israel pode ter tido sorte e o Irão pode ter tido muito azar”, teoriza Karako.

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