O vírus “matou” a Estrela de Maio: um dia virtual - TVI

O vírus “matou” a Estrela de Maio: um dia virtual

O 1.º de Maio pelo mundo [Reuters]

Ruas “despidas” de trabalhadores, sindicatos anulam desfiles por todo o lado

Tradicionalmente, milhões de trabalhadores saem às ruas para as marchas do 1º de maio, mas com metade da humanidade em confinamento, este maio de 2020 vai ser aquilo que nunca foi.

Com os comícios cancelados em muitos países, os sindicatos estão a pedir às pessoas para que coloquem nas suas varandas faixas ou cartazes que façam com que as redes sociais espalhem as mensagens.

A TUC, Central Sindical do Reino Unido, pôs, irremediavelmente, na gaveta todos os eventos planeados para o Dia do Trabalhador. Fez saber, contudo, que "é mais importante do que nunca saudar a contribuição que os trabalhadores fazem ao país", especialmente porque funcionários do Serviço Nacional de Saúde britânico arriscam a vida no combate diário contra o vírus.

A TUC apela às pessoas que publiquem um "pequeno vídeo nas redes sociais num gesto de agradecimento a um trabalhador específico que, em seu entender, tenha feito a diferença" com as hashtags #mayday e #ThankAWorker.

É, pois, um Maio totalmente diferente para a Europa e para grande parte da Ásia, onde sindicatos e sindicalistas foram forçados a tornarem-se virtuais.

Tomar de assalto as redes sociais

A França, habituada a grandes marchas de 1º de maio, na maioria das grandes cidades, vê o movimento sindical  determinado a causar impacto, apesar das restrições.

"Mesmo trancados, vamos todos manifestar-nos no 1º de maio com cartazes e faixas (em casa) e forçar uma invasão das redes sociais", refere fonte sindical francesa.

Os sindicatos querem destacar, em particular, os trabalhadores mal pagos "esquecidos" que "sob o risco de suas próprias vidas" mantêm a sociedade em funcionamento, como trabalhadores da saúde, funcionários de supermercados, etc.

“Olhar para Maio”, em direto, pela televisão

Em Itália, um dos países mais atingidos pelo vírus, o tradicional concerto do 1º de maio, em Roma, seguirá em frente, mas sem público físico.

Várias estrelas italianas famosas devem aparecer no programa "Trabalhe em Segurança: Vamos Construir o Futuro", que será transmitido em direto pela RAI 3, canal de televisão de serviço público italiano.

Na Grécia, a GSEE, maior confederação geral dos trabalhadores gregos, apelou aos  seus membros o "respeito pelas regras que proíbem as reuniões de mais de 10 pessoas" impostas pelo governo de Atenas.

À AFP, agência de notícias France Press, o historiador francês Stephane Sirot disse:

Este 1º de maio não tem precedentes na história dos sindicatos. A única comparação em que consigo pensar é em tempos de guerra. É a primeira vez que um problema de saúde pública entra em cena".

Este historiador francês questiona-se quanto tempo este ativismo virtual pode durar com tantos trabalhadores em risco devido ao colapso da economia global que o vírus trouxe.

"Vai ser muito complicado para os sindicatos. Os comícios em massa, que são uma das suas ferramentas essenciais, continuarão a ser proibidos, mesmo quando os países terminarem os confinamentos e outras medidas restritivas.”

Stephane Sirot usa o adjetivo complicado na antevisão do que será o sindicalismo dentro de uma nova normalidade:

"O ativismo sindical tem tudo a ver com marchas, muitas reuniões" e contato pessoal, e numa era de distanciamento social, isso será complicado.”

Chineses preparados para ficar perto de casa no primeiro grande feriado desde a pandemia de coronavírus.

China espera número recorde de turistas, em 2020, no Dia do Trabalhador

“Tianjin não é a melhor alternativa, mas eu só quero viajar. Qualquer lugar é melhor do que nenhum lugar”,  diz Jiang Qin, trabalhadora em Pequim, a pouco mais de 100 quilómetros de Tianjin.

É a ânsia de sair de casa. Para milhões de chineses, não importa como, o importante mesmo é sair, largar as quatro paredes. No pós-confinamento, a China vai sair de casa, mas não vai para muito longe.

O feriado de cinco dias, a partir de 1º de maio, será a primeira "mini temporada alta" deste ano, na China. É esperado o dobro do número de pessoas que viajaram durante o Festival Ching Ming, no início de abril. São quase 90 milhões de chineses que vão de mini férias durante o feriado de maio. Ainda assim, menos de metade dos que foram no ano passado. Seja como for, os hotéis e as principais operadoras de viagens dizem estar otimistas com os números de reservas; muitas empresas estão a promover "staycations", uma espécie de “faça férias cá dentro”, neste caso “vá de férias mas não vá para muito longe.”

"É encorajador ver sinais de recuperação após um longo e frio inverno", refere Jolyon Bulley, executivo-chefe de um grande grupo de hóteis da China.

Muitas pessoas têm planos para visitar lugares nas províncias de origem ou nas cidades próximas, como se conclui pela pré-venda de bilhetes. Muitas aproveitam, também, os voos domésticos baratos oferecidos pelas companhias aéreas e cadeias de hotéis, com o objetivo de levar as pessoas a viajarem novamente.

Jiang Qin tem 38 anos. Trabalha num escritório, em Pequim. À Reuters disse que ia sair neste feriado, mas não para muito longe. Ela pretende levar a filha de dois anos para a cidade vizinha de Tianjin, a cerca de 100 quilómetros de distância, depois de ter descartado um plano de ir a Hainan por causa dos requisitos de quarentena de Pequim:

“Tianjin não é a melhor alternativa, mas eu só quero viajar. Qualquer lugar é melhor do que nenhum lugar”.

Incertezas persistentes

No entanto, empresários do setor alertam que é muito cedo para dizer se a eventual recuperação nas viagens de férias será robusta, até porque ninguém sabe a resposta a uma das mais inquietantes perguntas do momento: vai haver uma segunda vaga de contágio pelo coronavírus?

As viagens internacionais continuam fora de alcance para a maioria, devido a restrições de fronteiras impostas por outros países, e sobretudo devido à falta de voos. Mesmo aqueles chineses que conseguirem ir ao estrangeiro, terão de cumprir duas semanas de quarentena quando voltarem à China.

Os principais sites de turismo e alguns restaurantes foram instruídos a limitar a ocupação a até 30% dos níveis normais, o que limita, por agora, qualquer tipo de recuperação.

"As incertezas não desapareceram completamente e ninguém é capaz de dizer exatamente o que vai acontecer", desabafa Jolyon Bulley, executivo-chefe de um grande grupo de hóteis da China que prossegue:

“A recuperação continuará em fases na China, e o que podemos fazer é estar totalmente preparados para a nova normalidade".

A três horas de carro de Xangai, na região montanhosa de Moganshan, fica o Fun Deluxe, um pequeno boutique hotel com apenas 29 quartos. Como contou à Reuters um dos seus gerentes, o hotel confia que as mini-férias do 1º de maio lhe tragam alguma esperança de sobrevivência. Para os cinco dias do feriado, todos os quartos estão reservados. O hotel teve que fechar em fevereiro por causa do surto e, em média, tinha apenas um quarto ocupado por noite desde que reabriu a 6 de março - “não chega sequer para pagar ao nosso “staff” de limpeza”.

"Realmente esperamos que os negócios voltem ao normal após o 1º de maio", deseja o gerente do Fun Deluxe, um boutique hotel

Os feriados não podem ser adiados

Um total de 4.000 pontos de atração serão reabertos para turistas durante o feriado de maio, um número recorde desde o início da pandemia. Entre os destinos mais populares estão o Parque Florestal Nacional de Taiping, na cidade de Xi'an, no centro da China, e a seção Mutianyu da Grande Muralha, em Pequim.

Nas próximas semanas, as companhias aéreas da China estão preparadas para uma série de "viagens de vingança", até porque as reservas crescentes antes do feriado anual do Dia do Trabalhador, ajudaram-nas a recuperar 40% do seu volume de negócios.

A China parece estar agora a controlar a situação da Covid-19. Os governos locais também introduziram políticas de apoio para incentivar os consumidores a comprar e viajar mais, como uma tentativa de fazer restart à economia.

Maio na Rússia: mês nacional de “não trabalho”

Na Rússia, o 1º de maio deste ano, deverá coincidir com o período em que é esperado o pico da pandemia no país.

As autoridades de Moscovo não irão diminuir as ordens de auto-isolamento da cidade durante as férias de maio, que incluem o Dia do Trabalhador e o Dia da Vitória.

O presidente Vladimir Putin decidiu adiar, para data incerta, as  comemorações do 9 de maio, para o qual estava prevista uma grande parada militar na Praça Vermelha para celebrar 75 anos da derrota nazi (e vitória soviética) na Segunda Guerra Mundial.

“Já falta menos de um mês para o Dia da Vitória e agora enfrentamos uma decisão desconfortável e, sejamos diretos, difícil: 9 de maio é uma data sagrada para nós, mas a vida de todas as pessoas não tem preço, defendeu Vladimir Putin, presidente da Rússia, a 16 de abril.

Desconfortável, também, terá sido o anúncio de que o Regimento Imortal, uma tradição anual na qual milhões de pessoas na Rússia desfilam com retratos de familiares que lutaram na Segunda Guerra Mundial, será realizado, este ano, através de uma transmissão de vídeo online.

De resto, o presidente russo prolongou o mês nacional de "não trabalho" até 11 de maio, numa altura em que a Rússia continua a registar aumentos diários acentuados em novas infecções por coronavírus. A ordem de confinamento para Moscovo também foi prolongada até 11 de maio.

Estas medidas de bloqueio podem ser gradualmente aliviadas a partir de 12 de maio, dependendo do grau de cumprimento das medidas de exceção.

Rússia corre risco de um aumento nos casos de coronavírus nos feriados de maio

Uma importante autoridade de saúde russa teme que o país possa sofrer um aumento nos casos de infeção pelo novo coronavírus se as pessoas desrespeitarem as medidas de bloqueio durante os feriados de maio.

O número de casos de coronavírus na Rússia começou a aumentar acentuadamente neste mês de abril, situa-se agora em quase 100.000, com o número de mortes muito perto das 1.000. Nesta 4ª feira, 29 de abril, a Rússia era o oitavo país mais afetado pela pandemia, em todo o mundo, superando a China e o Irão.

Anna Popova, chefe do órgão de vigilância da saúde do consumidor da Rússia, afirma que o país, até agora,  evitou um aumento nos casos e pode continuar a fazê-lo "se não desistirmos durante as férias". Popova conclui que “esse é o maior risco hoje."

O vírus “matou” a Estrela de Maio

A Rússia só tem alguns dias úteis, de trabalho efetivo, entre 1 e 11 de maio deste ano, com fins de semana prolongados consecutivos para os feriados do Dia do Trabalhador e do Dia da Vitória. Tradicionalmente, muitos russos tiram este  período inteiro de pausa para viagens ou férias em família.

Anna Popova pede aos russos que permaneçam em casa durante as férias, numa tentativa de ajudar a conter o contágio:

"Devemos isso a nós próprios e aos nossos entes queridos".

           

 

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