Brexit: Guerra dos tronos com novas temporadas - TVI

Brexit: Guerra dos tronos com novas temporadas

  • Paulo Delgado
  • 1 jul 2016, 14:50

Referendo causou instabilidade política nos dois principais “clãs” partidários. A luta pelo poder está acesa no seio de Conservadores e de Trabalhistas e há um reino que ameaça separar-se da união britânica: a Escócia

Aviso prévio: no spoil! Porque é impossível conhecer os próximos capítulos destas guerras de tronos, já que o enredo vai sendo escrito dia a dia, sem guião pré-definido. E talvez por isso, tome de assalto as atenções de meio mundo. Para começar, o Reino Unido deverá ter em breve um novo primeiro-ministro, do partido Conservador, já que David Cameron se tornou uma carta fora do baralho. Por culpa do Brexit. Por vontade própria.

O atual e ainda inquilino do número 10 de Downing Street anunciou a sua demissão após conhecer os resultados do referendo, em que cerca de 51,9% dos britânicos optaram pelo abandono da União Europeia. Os Tories terão congresso entre 2 e 5 de Outubro. Nesse conclave na cidade de Birmingham será escolhido o novo líder dos Conservadores e previsível próximo primeiro-ministro.

Michael Gove e Theresa May são os principais pretendentes ao “trono”, já que Boris Johnson saiu da contenda. Quinta-feira passada, o antigo mayor de Londres e um dos mais acérrimos defensores do Brexit anunciou a sua decisão.

Depois de consultar os meus colegas de partido e tendo em conta as circunstâncias no Parlamento, concluí que essa pessoa [candidata à liderança do Partido Conservador] não posso ser eu”, foi a justificação apresentada por Johnson.

Foi à última hora, no último dia para serem apresentadas as candidaturas, que Boris Johnson desistiu. Contou espingardas, como quem diz apoios, e terá percebido que já não tinha o suporte do ministro da Justiça, Michael Gove, que antes chegara a prometer-lho publicamente.

Porquê? Porque Gove, tido como grande amigo do demissionário Cameron, apesar de divergências sobre a presença do Reino Unido na União Europeia, decidiu ele mesmo avançar na corrida à liderança dos Tories. Na qual tem concorrentes à altura…

Agora é que são elas
 

Há cinco candidatos ao cargo de líder dos Conservadores britânicos. Melhor dizendo, há três pré-candidatos e duas pré-candidatas, que parecem estar firmes nas suas intenções. E também nas dos britânicos. Pelo menos, a avaliar pelos sites de apostas.

Theresa May, ministra do Interior no atual governo, é a mais cotada como possível vencedora. Segundo o gráfico atualizado diariamente pelo jornal The Spectator, entre os apostadores, reúne 71% das chances de ganhar. Segue-se-lhe a ministra da Energia,  Andrea Leadsom, uma clara defensora da saída britânica da União Europeia, com 20% e só depois Michael Gove, com 16%.

Mas como a sorte e azar dos jogos não rende necessariamente votos, os cinco candidatos precisam antes de convencer os seus pares a apoiá-los. Cabe aos parlamentares conservadores escolher uma short list de quem se apresentará ao congresso de Outubro como real candidato.

Também neste capítulo, Theresa May leva a dianteira. De acordo com as contas do The Spectator, terá o apoio de 81 deputados. Sobre o Brexit, apesar de estar do lado da manutenção na União Europeia, caso seja escolhida como primeira-ministra promete suportar a saída, criando uma task force para levar a cabo as negociações.

Andrea Leadsom, de 53 anos, cuja família viveu em Portugal durante uma década, foi uma clara defensora do Brexit. Terá o apoio de 15 parlamentares, de acordo com as contas do The Spectator, apenas menos dois que Michael Gove, de 48 anos.

Por último, há ainda dois outros candidatos, ambos partidários do Brexit: Stephen Crabb, de 43 anos, secretário de Estado do Trabalho, que terá 22 deputados do seu lado e Liam Fox, de 53 anos, com nove deputados a suportá-lo.

Daqui não saio…

Do outro lado da barricada, entre os Democratas, também se contam espingardas. O líder Jeremy Corbyn está em maus lençóis. Terça-feira passada, três em cada quatro deputados decidiram passar-lhe guia de marcha.

Sem efeito, contudo. Corbyn decidiu não se demitir apesar dos 75% de rejeição a uma moção de confiança votada na bancada Democrata. Até ver, continua como líder, apesar de não faltar quem lhe queira o lugar. 

Dando corpo à velha máxima norte-americana aplicada à política, de que “não se pode vencer alguém com ninguém”, os pretendentes à liderança do maior partido britânico na oposição começam a surgir. Pelo menos, nas páginas dos jornais, já que precisam de 20% de apoios entre os 250 parlamentares para serem efectivamente candidatos.

Tom Watson, Angela Eagle, Keir Starmer, Lisa Nandy, Dan Jarvis, John McDonnell e Yvette Cooper são nomes que deverão alimentar a saga nos próximos episódios. Poderão batalhar, se não pela cabeça, pelo menos, pelo “trono” de Corbyn.

E como tudo parece correr mal ao líder Trabalhista, até do outro “clã” são deitadas achas para a fogueira. O ainda primeiro-ministro Cameron também exigiu a demissão de Corbyn, por causa das suas mais recentes afirmações. Polémicas e entendidas por muitos como uma comparação entre Israel e o radicalismo islâmico.



Os nossos amigos judeus não são mais responsáveis pelas ações de Israel ou do governo de Netanyahu do que os nossos amigos muçulmanos pelas de vários intitulados Estados Islâmicos ou organizações”, foi a frase que agora está a incendiar o reino dos democratas britânicos.



Um bye bye à vista


Último capítulo, até ver, a Escócia ameaça separar-se do Reino Unido, na sequência dos resultados do referendo, em que 62% dos seus eleitores optaram por se manter na União Europeia.

Porta-bandeira da causa de querer permanecer na União Europeia é Nicola Sturgeon, primeira-ministra da Escócia, defensora da independência face à Grã-Bretanha.

Sturgeon pensa já em convocar um novo referendo à separação, depois de há dois anos, 53,3% dos escoceses terem optado pela manutenção no Reino Unido.

Mais. Avisou mesmo que poderá até chumbar o Brexit. Porque, segundo diz, qualquer alteração de tratados internacionais por parte do Reino Unido tem que ser ratificada pelo parlamento escocês.

À procura de apoios e querendo mostrar a vontade de manter a Escócia na União Europeia, Sturgeon procurou apoio junto dos líderes de Bruxelas, por ocasião do recente Conselho Europeu.

Há simpatia, mas também muitas reticências entre os países membros em apoiar frontalmente a manutenção da Escócia na União Europeia, após a saída do Reino Unido. Até porque alguns dos membros dos ainda 28 também enfrentam desejos de independência dentro das suas próprias portas. O que pode abrir outros enredos de outras guerras de tronos.

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