O nome de Cameron aparece no escândalo Papéis do Panamá: o pai do primeiro-ministro britânico, falecido em 2010, foi cliente da Mossack Fonseca, sociedade de advogados que usou para que a sua empresa Blairmore Holdings pudesse fugir ao pagamento de impostos no Reino Unido.
David Cameron já veio a público negar ter contas ou ser acionista de fundos em paraísos fiscais, mas esquivou-se a responder se algum dia beneficiou do esquema de evasão fiscal do pai.
Na manhã de segunda-feira, horas depois de o escândalo ser tornado público, o porta-voz de Cameron fez a primeira declaração sobre o caso, dizendo que se tratava de “um assunto privado”. Mas com isto não acalmou a opinião pública e, na terça-feira, o próprio primeiro-ministro falou sobre o assunto, sem no entanto se referir se beneficiou dos fundos do pai, nomeadamente em herança.
No que diz respeito aos meus negócios, não tenho ações. Tenho o salário de primeiro-ministro e algumas poupanças e tenho uma casa em que vivia até nos mudarmos para Downing Street, e é tudo o que tenho. Não tenho ações, não tenho fundos offshore, nada desse género. E, penso, que esta é uma descrição clara”.
Horas mais tarde, um porta-voz de Downing Street voltou a reforçar a ideia de que “o primeiro-ministro não tem ações”.
Para ser claro, o primeiro-ministro, a esposa e os filhos, não beneficiaram de nenhuns fundos offshore. O primeiro-ministro não tem ações. Como foi anteriormente noticiado, a senhora Cameron tem um pequeno número de ações, relacionados com uma terra do pai, que declara na sua declaração de impostos”
Podia ter sido a última declaração sobre o assunto, mas esta quarta-feira de manhã houve novo esclaricimento, que veio tirar de cima da mesa a hipótese de David Cameron e a família viessem a beneficiar dos fundos deixados por Ian Cameron. Sobre o passado, nada foi dito ainda.
Não há fundos offshore de que o primeiro-ministro, a esposa ou os filhos venham a beneficiar no futuro”.
A declaração não especifica se a mãe de David Cameron continua a ter benefícios da Blairmore Holdings ou outro fundo offshore.
No entanto, o Partido dos Trabalhadores não parece satisfeito com o que foi dito até agora. A deputada Jess Phillips classifica as atividades do pai do primeiro-ministro britânico de “absolutamente nojentas” e acrescenta que quem foge aos impostos “está a roubar a todos” os britânicos e pede mais esclarecimentos.
Os Papéis do Panamá são a maior investigação jornalística da história, divulgada na noite de domingo, que envolve o Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação, com sede em Washington, do qual a TVI, juntamente com o Expresso, faz parte e destaca os nomes de 140 políticos de todo o mundo, entre eles 12 antigos e atuais líderes mundiais.
A investigação resulta de uma fuga de informação de 11,5 milhões de documentos sobre quatro décadas de atividade da empresa panamiana Mossack Fonseca, especializada na gestão de capitais e de património, com informações sobre mais de 214 mil empresas offshore em mais de 200 países e territórios.