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Estamos cada vez mais perto da vida artificial

  • Portugal Diário
  • 24 jan 2008, 19:31

Genoma: investigadores criam genoma sintético de bactéria

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Investigadores norte-americanos do Instituto Venter anunciaram esta quinta-feria que conseguiram criar em laboratório o primeiro genoma sintético de uma bactéria, noticia a agência Lusa.

Trata-se de um passo considerado crucial para a criação de uma forma de vida artificial. Esta é a maior estrutura de ADN - a estrutura base da vida - alguma vez fabricada pelo homem, destacam os autores deste estudo, publicado na revista científica norte-americana Science.

«Isto representa um avanço entusiasmante para nós investigadores e para esta disciplina», afirmou hoje Dan Gibson, principal autor do estudo, no qual também participou Craig Venter, fundador do Instituto e um dos mais controversos pioneiros da biotecnologia.

Catálogo das variações genéticas

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Porém, o principal responsável pelo documento sublinhou que os trabalhos continuam com o «objectivo último» de «inserir um cromossoma sintético numa célula [viva] para criar o primeiro organismo artificial».

«Demonstrámos que é possível criar artificialmente grandes genomas e ajustar o seu tamanho, o que abre caminho para potenciais aplicações importantes, tais como a produção de biocombustíveis ou para o absorção de dióxido de carbono [CO2]», explicou por sua vez Hamilton Smith, um dos co-autores da investigação.

De acordo com este investigador, através desta descoberta será também possível «produzir organismos artificiais para o tratamento biológico de resíduos tóxicos», entre outros.

Falta apenas uma etapa

O principal autor do estudo, Dan Gibson, precisou que a pesquisa «representa a segunda das três etapas para a criação de um organismo vivo inteiramente artificial».

Para a etapa final - na qual os especialistas já se encontram a trabalhar - os investigadores do Instituto Venter vão tentar criar uma célula artificial de bactéria baseada inteiramente no genoma sintético da bactéria Mycoplasma genitalium, que acabam de produzir.

Ou seja, este cromossoma será transplantado para uma célula viva, da qual poderá tomar o controle e transformar-se em uma nova forma viva.

O genoma que os investigadores conseguiram criar em laboratório copia partes essenciais do ADN da bactéria Mycoplasma genitalium e foi baptizado pelos seus criadores de Mycoplasma laboratorium.

O Mycoplasma genitalium é um organismo relativamente simples quando comparado com um ser humano, já que é composta por 580 genes enquanto um humano é composto por 36 mil genes.

Citado pelo jornal britânico The Guardian, o fundador do Instituto, Craig Venter, já tinha afirmado que esta descoberta iria permitir aos investigadores «passar da leitura do código genético» para a possibilidade de «ter a habilidade de escrevê-lo».

«Isto dá-nos a capacidade hipotética de fazer coisas que não foram imaginadas antes», frisou.

De acordo com Pat Mooney, director da organização canadiana ETC Group, um grupo de reflexão sobre bioética, os investigadores estão a criar «um chassis sobre o qual se pode construir praticamente qualquer coisa».

«Pode-se tornar numa contribuição à humanidade tão grande como um novo medicamento, ou uma enorme ameaça, como uma arma biológica», advertiu.
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