Grécia: «Queriam um governo à força para o Syriza não ganhar» - TVI

Grécia: «Queriam um governo à força para o Syriza não ganhar»

Alexis Tsipras (Reuters)

Eurodeputada Marisa Matias analisa a crise política neste país europeu e avisa os portugueses que, afinal, há alternativa

Alexis Tsipras, 37 anos, presidente da Coligação de Esquerda Radical (Syriza) na Grécia, é a nova sensação da política europeia. Após conquistar 16,76 dos votos e 52 lugares no parlamento, nas legislativas de 6 de maio, teve oportunidade de comandar uma coligação anti-troika que poderia abalar o velho continente, mas falhou nas negociações.

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Não prescinde da rutura imediata com o memorando, mas admite que uma saída da União Europeia não seria positiva. E já vai à frente na sondagem pós-eleições, pelo que a crise política grega passa muito por este Syriza, «o Bloco Esquerda lá do burgo», conforme uma expressão utilizada pelo bloquista Daniel Oliveira, num artigo de opinião no semanário «Expresso».

«O Syriza é a melhor solução para os gregos, porque tem a proposta mais moderada, pois fugiram das derivas principais: fugiram do memorando neo-liberal de austeridade (defendido por Nova Democracia e PASOK) e fugiram da saída da UE e da Zona Euro (defendidas pelos comunistas e pela extrema-direita)», afirmou à TVI24 Marisa Matias, eurodeputada eleita pelo Bloco e colega de Alexis Tsipras na vice-presidência do grupo parlamentar da Esquerda Unitária Europeia/Esquerda Nórdica Verde (GUE/NGL).

Admitindo a «mistura muito grande» de partidos, Marisa Matias concorda que «a melhor» solução foi a convocação de novas eleições, contra as «intenções» dos grandes partidos gregos e de Bruxelas. «O que se tentou fazer na Grécia foi um governo à força para o Syriza não ganhar as eleições. Isso não dava jeito a ninguém, só dá ao povo grego. Um governo à força seria muito fraco e obediente e os gregos já não estão para ir em cantigas».

Para a bloquista, «não foi por falta de tentativas» que o Syriza não conseguiu formar uma coligação. «Houve uma pressão enorme do presidente grego para o Syriza alinhar com o PASOK e a Nova Democracia, mas o Syriza não pode fazê-lo, são programas completamente incompatíveis», avisou.

Marisa Matias aponta o dedo a outros partidos de esquerda que não alinharam com a Esquerda Radical. «O Partido Comunista Grego (KKE), que recusou as negociações à partida, surpreendeu-me pela negativa. Como somos do mesmo grupo parlamentar europeu, não me passava pela cabeça que o fizessem. E a Esquerda Democrática está a oscilar muito, tanto para o lado do que eu considero esquerda, como para uma terra de ninguém entre o Syriza, o PASOK e a Nova Democracia».

Sublinhando que o Syriza é um «partido-irmão» do Bloco de Esquerda, a eurodeputada considera que «a Grécia é um terreno experimental» para Portugal, em que «o povo, pela esquerda ou pela direita, rejeitou as políticas de austeridade». «Para grande tristeza minha, os portugueses ainda estão convencidos que não há mesmo alternativa e que a austeridade é a solução, mas, em 2009 [nas legislativas em que o PASOK conseguiu maioria absoluta], os gregos também estavam convencidos disso», afirmou, acreditando que nos próximos anos também a perceção dos portugueses pode mudar.

Embora «não se possa tirar a papel químico» a situação dos dois países, Marisa Matias frisou que os bloquistas, à semelhança da Esquerda Radical grega, também são «completamente contra o memorando» e «defensores da mudança dentro de uma perspetiva europeia».
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