Os países onde o cancro mata mais - TVI

Os países onde o cancro mata mais

Ian Brooks está agora sem qualquer sinal da doença (REUTERS)

O estudo, publicado esta quarta-feira, mostra que o código postal é mais importante do que o código genético para se sobreviver à doença

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Um estudo, intitulado Concord 2, elaborado por 500 investigadores, com dados de 25 milhões de pacientes de 67 países, demonstra que o cancro é muito mais letal nuns países do que noutros.
 
O programa Concord é uma colaboração científica internacional que analisa os dados das políticas nacionais do controlo do cancro. A primeira avaliação, publicada em 2008, contou com dados de quatro tipos de cancro, em 31 países e destacou as grandes diferenças de sobrevivência entre brancos e negros dos Estados Unidos.
 
O segundo estudo, publicado esta quarta-feira na revista médica The Lancet, contém dados de 10 tipos de cancro em países onde vivem dois terços da população mundial e constata que a maior parte das diferenças observadas «é provavelmente atribuída à desigualdade no acesso aos serviços de diagnóstico e tratamento».
 
Segundo os dados recolhidos, a taxa de sobrevivência varia consoante o país em que o paciente vive.
 

«Os resultados mostram que, em alguns países, o cancro é muito mais letal do que noutros. No século XXI, não deveria existir um abismo tão dramático na sobrevivência», declarou a epidemióloga italiana Claudia Allemani, professora da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres e autora principal do estudo, ao jornal El País.

 
Por exemplo, a sobrevivência à leucemia linfoblástica aguda, é de 90% no Canadá, Áustria, Bélgica, Alemanha e Noruega, mas em países como Jordânia, Tunes, Indonésia e Mongólia, a percentagem oscila entre os 16% e os 50%.
 
Já quanto ao cancro da mama, os EUA têm uma taxa de sobrevivência de quase 89%, o Brasil de 87%, Espanha de 84% e a Mongólia, o pior na classificação, apenas de 56%.
 
Além disso, os autores recordam que o número de máquinas capazes de destruir as células cancerosas de um paciente varia consoante os países. Na Europa, existe uma máquina por cada 500 mil habitantes. Na Índia existe uma para 2 a 5 milhões de pessoas. Em países como o Quénia e a Tanzânia, apenas há uma para mais de 5 milhões de habitantes. E em mais de 30 países, africanos e asiáticos, não existe nenhuma.
 
A análise constata que, entre os 10 tipos de cancro estudados, os de fígado e pulmão são os de pior prognóstico, com uma sobrevivência de apenas 20% na maior parte dos países, tanto ricos como pobres.
 
Estes dados sugerem que há «importantes lições que se podem aprender», como a importância de um diagnóstico precoce, segundo um comunicado da revista The Lancet.
 
«Estes estudos de avaliação são fundamentais porque refletem o funcionamento do sistema de saúde», disse Miguel Porta, catedrático de Saúde Pública no Instituto de Investigações Médicas do Hospital del Mar, em Barcelona. Que o cancro seja ou não uma sentença de morte depende da deteção e do tratamento precoces.
 
No entanto, os dados do Concord 2 vão apenas até 2009, antes de terem começado os cortes na saúde pública. Mas o estudo deixa clara a importância das políticas de saúde.
 
Os autores principais do estudo concluem com um apelo à Organização Mundial de Saúde e às Nações Unidas para que reduzam «as crescentes dificuldades legais e de procedimento» para aceder aos dados dos registos dos pacientes com cancro.
 
Recordam, por exemplo, as novas leis de proteção de dados que a União Europeia está a preparar e que «convertem em ilegais ou impossíveis os registos de cancro e a maior parte da investigação no campo da saúde pública em 28 países europeus».
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