Madonna defendeu a coroa da pop em Coimbra - TVI

Madonna defendeu a coroa da pop em Coimbra

40 mil pessoas assistiram a um espetáculo que valeu mais pelo impacto visual do que pela capacidade em conquistar a plateia

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Sinais dos tempos: Madonna em Portugal já não é sinónimo de filas imensas de madrugadores dispostos a cometer loucuras para comprarem o primeiro bilhete. E poucos terão sido os que fizeram questão de passar a noite à porta do Estádio Cidade de Coimbra para assegurarem a pole position na entrada para o concerto deste domingo.

Não houve enchente de público - os preços proibitivos, com ou sem crise, afastaram muitos fãs -, mas ainda assim foram cerca de 40 mil as pessoas que assistiram ao regresso de Madonna ao nosso país.

Em ano de jubileu de outra rainha, a soberana da música pop veio a Coimbra defender o título conquistado a pulso desde há décadas, hoje em dia ameaçado por novas gerações de mulheres decididas a dominarem um mundo criado por Madonna.

Em menos de duas horas, a cantora norte-americana mostrou que continua a produzir espetáculos visuais como poucas outras, mas também acabou por expor algumas fraquezas. Interessada em provar que não quer viver apenas dos êxitos do passado, Madonna construiu um alinhamento cuja espinha dorsal é feita a partir dos principais temas de «MDNA», o novo álbum lançado em março. O que nunca foi suficiente para agarrar verdadeiramente um público que estranhou a cara lavada de hits como «Like a Virgin» ou «Hung Up».

Quebrando a introdução solene e espiritual, a cantora saltou do seu trono para «Girl Gone Wild». No imenso palco metamórfico, o segundo single do novo álbum explodiu numa catedral de música tecno. Com um justo fato preto, contrastando com a loira cabeleira, Madonna entrou destemida e determinada a combater qualquer noção de que a idade começa a pesar na tão cobiçada coroa da pop.

Mas depressa nos questionamos até onde é possível Madonna ir sem cair no ridículo. Na passagem por «Revolver» e «Gang Bang» foi difícil ver outra coisa para além das armas, tiros, sangue e um refrão cantado até à exaustão que inclui «Shot My Lover In The Head». Um lado menos colorido e nada sensual de um espetáculo em que algumas canções mais tarde teria a cantora a apelar à paz, ao respeito e à compreensão entre todos. Uma mensagem que também contradiz outro dos momentos menos felizes do concerto: a necessidade de afirmação em relação a Lady Gaga.

Se é certo que parece inegável que «Born This Way» encaixa que nem uma luva na animada «Express Yourself», a inclusão em jeito de tributo envenenado do tema de Lady Gaga, com o remate final de «She's Not Me», parece mais apropriado a uma disputa entre adolescentes. Mas salvou-se a energia e o ambiente de banda universitária e cheerleaders aproveitados também para «Give Me All Your Luvin'», decididamente a canção de «MDNA» que mais animou o público.

Já depois de ter piscado o olho ao hip hop com os duetos em vídeo com Lil Wayne e Nicki Minaj, o acenar à world music aconteceu com o grupo de percussão basco Kalakan, que acompanhou «Open Your Heart» e «Masterpiece».

«Vogue» foi festejado em clima anos 90, com Madonna e os seus dançarinos a desfilarem pela passadeira do palco, antes de nova transformação para um bar cabaret que serviu de cenário a «Candy Shop» e ao strip tease em «Human Nature». Desta vez, sem mamilos nem rabos expostos. «Esta noite não, hoje sinto-me introspetiva», explicou a cantora, lançando a deixa para uma quase irreconhecível e melancólica versão de «Like a Virgin», acompanhada apenas por um piano.

O estádio inteiro viria finalmente a acordar com um «Like a Prayer» bem mais próximo do original, reforçado com um coro gospel. A saudosa celebração contou com o agitar da bandeira portuguesa em palco e um refrão partilhado no microfone com os fãs, naquele que foi decididamente o ponto mais alto da noite.

O adeus foi feito com os graves bem puxados para «Celebration». Em Coimbra, dançou-se na hora da despedida a um espetáculo que por vezes valeu mais pelo aparato visual do que pela capacidade em conquistar a plateia. Madonna continua rainha - a monarquia tem destas coisas.
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