No programa desta segunda-feira, o segundo de uma série de especiais pré-eleições legislativas, Medina Carreira começou por dizer que «a despesa social» é o grande problema dos últimos 50 anos em Portugal. Se analisarmos as despesas públicas e os níveis de fiscalidade em Portugal, entre 1960 e 2010, verificamos que a despesa social «é aquilo que adoeceu, e adoeceu por irresponsabilidade política», defendeu o comentador.
Para Medina Carreira, o país nunca antecipou os problemas que podiam advir de um crescimento excessivo das despesas sociais porque a despesa social é uma forma de compra de voto.
«Eu não distingo partidos de acordo com a nomenclatura que adotam. Eu distingo o partido do Estado e os outros. O partido do Estado é aquele que engloba toda a gente que vive recebendo dinheiro do Estado. E essas pessoas votam em grande parte por causa do dinheiro que o Estado dá. E os partidos, irresponsavelmente, ao longo de muitos anos, foram sempre dilatando a despesa social sempre para “comprar votos”», explicou Medina Carreira.
«O Estado é um padrinho, é um companheiro, é um treinador, é uma coisa qualquer assim deste estilo que acompanha o cidadão desde o berço até à morte», acrescentou.
Exibindo um gráfico com dados dos últimos 50 anos, o ex-ministro das Finanças demonstrou que «o acompanhamento» do Estado aos cidadãos se traduziu num aumento da despesa social com reflexo direto no aumento da despesa pública.
Sublinhando que é um «amante» da despesa social sustentável, Medina Carreira alertou que, em Portugal, o social descarrilou por razões políticas: «As pessoas foram sempre querendo dar, não introduzindo as reformas que as novas circunstâncias foram impondo. E, por isso, chegamos a uma situação sem solução».
«Em 50 de anos de despesa pública, que começou em 1960 depois da guerra colonial até 2010, o grande salto da despesa deu-se de 1960 para 1980. O que aconteceu aqui pelo meio foi o 25 de abril. O 25 de abril empenhou realmente bastante o Estado no social. Desde aí, a linha da despesa social continuou sempre a subir até 2010», realçou.
Para Henrique Medina Carreira, é importante perceber que foi a despesa social que, em grande parte, impulsionou a despesa total . E dentro do social é importante ver a importância que as pensões têm (representavam 13% do PIB em 2010).
«E este é o busílis: já se vê agora neste introito de campanha eleitoral que este é um ponto crucial. Há quem não queira mexer [nas pensões], mas vai ter que mexer, sob pena de isto um dia dar um sarilho muito grande. Para já, o meu problema é que os portugueses se convençam que é inevitável mexer nas pensões», admitiu o comentador.
«Para nós não mexermos nas pensões o Estado está a endividar-se. O que significa que você vai ver a sua pensão afetada porque o Estado está a pagar juros de empréstimos que foram contraídos para pagar as pensões», acrescentou.
O comentador da TVI24 explicou que o grande problema do país é a Economia e não a falta de um discurso político. Isto porque as políticas que as pessoas alvitram são problemas que pressupõem economia sólida, dinâmica. Portugal não tem economia, disse Medina Carreira, e isto marca e inutiliza «todo o tipo de políticas que se queira inventar».
«Se nós não mexermos na Economia nós não solucionamos o social. Com Economia há muito social, sem economia não há social que preste. E isto tem de entrar na cabeça de todas essa gente que acha que é possível fazer política desconhecendo a Economia. De facto, o Estado não tem sustentação com esta Economia. E isto tem que se ver com urgência sob pena de um dia termos uma volta qualquer daqui a dois ou três ou a quatro anos muito grande», alertou.
Medina Carreira explicou que a despesa pública atual está a endividar o Estado e aconselhou Pedro Passos Coelho e António Costa a juntar-se para resolver os problemas do país.
«Estamos com desemprego, com falta de investimento, estamos numa situação de completo descontrolo social e económico. Por conseguinte, sair disto não pode ser com o PS, o Sr. António Costa a dizer uma coisa e o Sr. Passos Coelho a dizer outras, eles deviam juntar-se para se sair disto», defendeu.
Para Medina Carreira, os portugueses não se livram da austeridade, «não é por ser apologista da austeridade, é porque não há dinheiro».
O ex-ministro das Finanças disse ainda que o que se tem feito na despesa pública é largamente insuficiente: «Nós não podemos ter uma despesa pública de 85 mil milhões. A nossa economia sustenta 70 e tal, não 85. Por conseguinte não vale a pena puxar daqui, puxar dali».
E como é que o país tem estado a aguentar isto? Com uma carga fiscal absolutamente insuportável e que bloqueia a economia, responde o comentador.
O que os governos fazem é aumentar salários e pensões por razões eleitorais: o caça ao voto é que vai bloquear o Estado Social em Portugal e a queda da economia que se verificou, concluiu o comentador.