«Não se vai a Guantánamo vender sabão» - TVI

«Não se vai a Guantánamo vender sabão»

Ana Gomes investiga o polémico dossier dos voos da CIA [fotomontagem]

Ana Gomes defende «inquérito Parlamentar exaustivo» sobre voos

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A eurodeputada Ana Gomes defende que o PS deveria mostrar-se favorável à realização de um «inquérito Parlamentar exaustivo», de forma a apurar «toda a verdade» sobre o alegado transporte de prisioneiros para Guantánamo. A socialista desmentiu ainda que o Governo português tenha entregue toda a documentação relativa a este tema, como as listas de voos de e para Guantánamo.

Os socialistas desvalorizaram uma proposta feita neste sentido pelo PCP, após a divulgação do relatório elaborado pela organização britânica Reprieve, em que o Governo português é acusado de ter tido «um papel de apoio de relevo» no transporte ilegal de 728 suspeitos de terrorismo para o centro de detenção norte-americano instalado em Cuba.

Em declarações ao PortugalDiário, Ana Gomes lamentou a posição do seu partido. «Não me pronunciou sobre o pedido de inquérito do PCP, o que posso recordar é que já há um ano lamentei a decisão do Parlamento e do meu partido em particular de não prosseguir com um inquérito parlamentar», sublinhou, em conversa telefónica.

CIA: Ana Gomes e Carlos Coelho esperam inquérito

«Lamentei porque, além das responsabilidade criminais - colaboração com crimes de tortura é crime no nosso país -, há óbvias responsabilidades políticas», disse a eurodeputada, explicando: «Se as responsabilidade criminais podem ser apuradas num contexto judicial, as responsabilidade políticas não são tratadas nesse contexto, é no Parlamento».

«O meu partido deveria ser de acordo com um inquérito Parlamentar exaustivo», defendeu. «Não se ganha rigorosamente nada em esconder para debaixo do tapete».

«Alguém desviou esta lista»

Ana Gomes reagiu ainda à forma como o Governo e o PS receberam o documento da Repreive. «Manifestamos a nossa condenação, a nossa rejeição e também a nossa indignação (...) tendo em conta que o Governo português prestou todas as informações de que dispunha, com toda a transparência», disse o secretário de Estado os Assuntos Europeus, Manuel Lobo Antunes, citado pela Lusa. O deputado Vitalino Canas acrescentaria: «Este relatório não vem acrescentar nada».

Ana Gomes, por seu lado, a quem o relatório surpreendeu, disse que o Governo nunca entregou a lista de voos de e para Guantánamo, que foi pedida à NAV (Navegação Aérea Portuguesa). «Nunca me foi dada a mim, nunca foi dada ao Parlamento nacional, nunca foi dada ao Parlamento Europeu. E, no entanto, a NAV tinha-a feito porque ela tinha de facto sido pedida, por mim, pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros, pelo Ministério das Obras públicas».

«Ainda hoje ouvi declarações do senhor ministro das Obras Públicas a dizer que entregou tudo o que lhe foi pedido. Ele com certeza está a falar verdade. Ele entregou, mas, no caminho, alguém desviou esta lista. Porque não foi o Ministério das Obras Públicas que encaminhou os dados para o Parlamento Nacional e Europeu, foi o Ministério dos Negócios Estrangeiros», explicou a eurodeputada.

«Não é verdade quando vêm dizer que forneceram todos os elementos», garantiu. «Esse é um elemento que existe mas não foi fornecido pelo Governo português e outro elemento repetidamente pedido pelo Parlamento Europeu foi a lista de passageiros relativamente a outros voos civis privados altamente suspeitos. Sabemos que esses dados existem mas nunca foram entregues».

Ana Gomes assegura que esses dados só chegaram a Estrasburgo pela sua mão. «Quando essa lista veio a público, por iniciativa do Parlamento Europeu, a quem a entreguei, o Governo veio dizer que voos para Guantánamo eram normal eu contestei e disse que não é normal, não se vai a Guantánamo vender sabão».
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