Isaltino nega ser «monstro» - TVI

Isaltino nega ser «monstro»

Autarca recusa, em julgamento, todas as acusações feitas pelo Ministério Público

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O autarca Isaltino Morais recusou esta quarta-feira em julgamento todas as acusações que lhe são feitas pelo Ministério Público, afirmando que o processo se refere a um inexistente «monstro» preocupado apenas em «enriquecer e violar a lei», noticia a agência Lusa.

Durante mais de uma hora e meia, o presidente da Câmara de Oeiras, que continuará a ser ouvido quinta-feira no Tribunal de Sintra, lembrou que apenas foi interrogado uma vez durante as investigações, na ausência do seu advogado, e lamentou ter sido «julgado e difamado» na praça pública, arrastando familiares e amigos, inclusive os restantes quatro arguidos do caso.

«Concluo que o monstro que ali é apresentado é um Isaltino qualquer, não sou eu, é uma personagem totalmente inventada pela acusação, que parte de dois princípios: que tenho o propósito de violar a lei e enriquecer à custa da Câmara e que a minha vida começou em 1986 [ano em que assumiu a presidência pela primeira vez]», disse o responsável municipal na audiência, que terminou perto das 17:30.

Garantindo ser um presidente totalmente dedicado a Oeiras e reconhecido pela população - o que lhe tem dado «força» ao longo do processo -, Isaltino Morais desafiou a acusação a apresentar «uma só prova», mas assegurou que a mesma «não terá possibilidade de provar um único acto ilegal» por si cometido.

«A acusação mente, todos os factos são inventados, são suposições, e tudo porque tinha uma conta na Suíça», referiu, explicando que a conta que o seu desempenho enquanto membro do Comité das Regiões o obrigou, tal como aos seus colegas e deputados europeus, a abrir conta no KBC Bank Brussel, em Bruxelas (Bélgica), também alvo das investigações, para receber os ordenados e ajudas de custo.

Troca de montantes para francos suíços

Acusado de ter feito depósitos numa conta da Suíça do jornalista e arguido Fernando Trigo como contrapartida por serviços prestados, Isaltino alegou que apenas pediu ao amigo de longa data para trocar montantes para francos suíços - e segundo a acusação para dólares americanos -, pensando que o câmbio era feito de imediato numa visita ao banco e desconhecendo que Trigo depositava as verbas para só as levantar no dia seguinte.

O autarca disse que os valores depositados para conversão estavam entre 16 a 20 mil contos (80 a 100 mil euros) e nunca ascenderam aos mais de 250 mil euros apontados pela acusação.

Sobre a sua relação com Fernando Trigo, que alegadamente aproveitava o seu cargo de director da agência Lusa para utilizar num boletim municipal de Oeiras, Isaltino disse nunca ter tido conhecimento de como as notícias do mesmo eram feitas.

Contrariando a informação constante da acusação, Isaltino negou ter sido beneficiado pelo promotor imobiliário João Algarvio na compra de uma casa e lembrou que nem os rendimentos da sua então esposa foram considerados para avaliar a sua capacidade de adquirir o imóvel.

O ex-ministro é também acusado de ter recebido um pagamento de quatro mil contos (20 mil euros) de João Algarvio, que justificou com o facto de querer oferecer dois quadros ao promotor e à mulher, sabendo, porém, que o casal nunca os aceitaria gratuitamente.

O autarca garantiu que nunca beneficiou o construtor enquanto responsável pelo pelouro do Urbanismo, até porque todos os despachos são sustentados pelos serviços.

«Falhas graves»

Durante o seu depoimento, Isaltino Afonso Morais, de 59 anos e magistrado do Ministério Público aposentado, disse ainda que cometeu «algumas falhas graves» ao longo da vida, entre as quais ter descurado a família e ter confiado em pessoas «que não devia».

«Para muita gente não haverá nada que restitua o meu bom nome, a minha honra. Desde a primeira hora, se alguém combateu a corrupção na Câmara fui eu. A acusação pretende demonstrar que não há democracia na Câmara», concluiu.

Nenhum dos restantes arguidos quis prestar declarações na sessão de hoje.
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