Margarida pagava dez euros de renda, mas com a alteração dos critérios de apuramento, que passam a ter em conta o rendimento da família, a portuense tem agora de pagar mais de 100 euros. O rendimento do agregado, composto por três pessoas, é de 450 euros.
Sentada no gabinete do vereador comunista Rui Sá, candidato à Câmara do Porto, a senhora pede ajuda para o seu problema. No último mês falhou o pagamento da renda e viu agravados os juros da dívida acumulada: «Este mês tenho de pagar 200 e tal euros, ando a dar voltas à cabeça para ver como vou fazer».
Rui Sá ouve, faz perguntas, toma notas. É assim há dez anos. Todas as terças-feiras recebe os munícipes no gabinete. Esta semana não foi excepção «mesmo em tempo de campanha», esclarece. Isso mesmo fez constar na agenda de campanha.
O tvi24.pt acompanhou uma reunião que apenas diferiu das restantes no horário. Rui Sá começou mais cedo para sair às 17 horas, mesmo a tempo de um debate.
De volta a Margarida, o vereador admite que o valor desproporcionado face ao rendimento se deva ao facto de o cálculo remontar ao tempo em que o marido, de quem está separada de facto, e o filho empregado já não residirem na casa.
Agora, o agregado é composto por um filho deficiente e por uma filha adoptiva de 14 anos, que a mãe abandonou com meses à porta de sua casa. Esta última não conta como agregado para a fixação da renda, mas os 150 euros que aufere do rendimento mínimo não são esquecidos no momento de fixar o valor a pagar. «É uma situação injusta» como muitas outras que o vereador conhece.
Feitas as contas, o vereador conclui que a família deveria estar a pagar 36 euros/mês. Rui Sá aconselha-a a avisar a empresa municipal Domus Social de que a situação familiar mudou.
Quando o prédio em que vivia, no bairro São João de Deus foi demolido, Justa não tinha o alvará de arrendamento legalizado pelo que não teve direito a ser realojada.
Acabou por se mudar, juntamente com o marido doente, para casa do filho e da nora, que residiam no mesmo bairro e tiveram direito a habitação.
A solução de um T2 para todos não agrada a ninguém. Pois «quem casa quer casa», não é, refere o vereador. Maria da Luz, a nora, anui com a cabeça: «pois a minha sogra tem a mobília dela, eu tenho as minhas coisas ...»
Rui Sá não deixa de avisar: «É mais difícil conseguir um T1. Há muitos idosos a viverem sozinhos».
Rui e Maria da Luz também já pediram para mudar para uma casa no R/C. «É que estou cancerosa e sou obrigada a subir 72 escadas. O médico até diz que posso ter uma hemorragia».
Rui Sá pega no papel e na caneta e decide escrever uma carta à vereadora da habitação, Matilde Alves, «para solicitar a reanálise do processo». Termina e decide lê-la para conferir todos os dados.
No final avisa: «Não posso prometer nada, mas vou tentar ajudar, se vir que não recebe resposta voltem cá».
A nora volta a insistir no seu problema: «Mas eu posso morrer mesmo no meio das escadas», insiste Maria da Luz. O autarca tenta animar «mas sem prometer nada».
Quando se levantam para ir embora, o munícipe hesita e depois pergunta: «Então, diga-me, qual é o seu partido?».
Apenas «15 por cento» das situações acabam por ter solução favorável. «E nunca é à primeira», garante o comunista.
Autárquicas: «Posso morrer no meio das escadas»
- Cláudia Rosenbusch
- 6 out 2009, 21:20
Porto: vereador e candidato da CDU à Câmara recebe munícipes no gabinete. É assim há dez anos. As semanas de campanha não são excepção. Saiba do que se queixam os portuenses
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