Ministro pediu ao presidente da Refer para receber Godinho - TVI

Ministro pediu ao presidente da Refer para receber Godinho

Justiça

Luís Pardal diz que foi contactado diretamente por Mário Lino

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O presidente da Refer, Luís Pardal, admitiu ter sido contactado pelo então ministro das Obras Públicas, Mário Lino, a pedir-lhe para se reunir com o empresário das sucatas Manuel Godinho, principal arguido no processo «Face Oculta».

Luís Pardal, que foi chamado pelo Ministério Público para prestar declarações enquanto testemunha de acusação, não pôde depor nessa qualidade, porque a Refer é assistente nos autos, e acabou por prestar declarações enquanto representante da assistente.

Durante a audiência, o presidente da empresa que gere a rede ferroviária nacional disse ter sido abordado «repetidamente» pelo então ministro das Obras Públicas sobre as queixas de Manuel Godinho relativamente à Refer.

«Ele considerava-se muito injustiçado e dizia que as suas empresas eram perseguidas pela Refer», afirmou Luís Pardal, adiantando que, em agosto de 2009, recebeu um telefonema de Mário Lino a pedir-lhe para receber o sucateiro.

Nessa reunião, segundo o presidente da Refer, Manuel Godinho terá exibido o acórdão de um recurso relativamente ao processo «Carril Dourado», que lhe tinha sido favorável, afirmando que não era ladrão, como se dizia na altura.

«Foi uma entrada triunfalista suportada naquela questão», adiantou Luís Pardal.

O presidente da Refer referiu ainda que a sua recondução para o segundo mandato na empresa "não foi eufórica", tendo estado dois ou três meses a aguardar a decisão.

«As verdadeiras causas que justificam esta demora não as tive, mas que houve questões a condicionar a normalidade da recondução isso houve», afirmou Luís Pardal, acrescentando que, durante esse período, o gestor Lopes Barreira, coarguido no processo, abordou várias pessoas para irem ocupar o seu cargo como presidente da Refer.

Questionado pelo Procurador do Ministério Público sobre as influências de Manuel Godinho na Refer, Luís Pardal começou por dizer que a empresa é «grande e muito dispersa», mas acabou por admitir que isso era algo de que ele suspeitava.

«Suspeitas tinha de ter. Fui confrontado com um contrato onde aparecia uma referência a funcionários da casa que tinham afetações de homens e de máquinas do prestador de serviços que eram impossíveis», disse Luís Pardal, referindo-se ao contrato de limpeza de terras e detritos celebrado entre a Refer e a O2, que pertence a Manuel Godinho.

Segundo Luís Pardal, havia «indícios claros de que alguma coisa era feita com a colaboração de elementos internos» da Refer.

Luís Pardal adiantou ainda que o referido contrato era «muito controverso». «Só a decisão de o celebrar já era pouco prudente. Era um contrato muito aberto, onde se faturavam horas/homem e horas/máquina. Era difícil de enquadrar no seu objeto», afirmou.

O presidente da Refer referiu-se ainda ao contrato de fragmentação das travessas bi-bloco, referindo que «toda a gente ficou mal na fotografia» e admitindo que o conselho de administração teve responsabilidades nesta questão, tal como a então diretora de Aprovisionamento e Logística Helena Neves, porque não acautelaram que a empresa fosse prejudicada.

A sessão foi interrompida cerca das 12:30 e será retomada da parte da tarde. O coletivo de juízes deverá, então, decidir se continuará a ouvir o presidente da Refer ou se faz uma interrupção para começar a ouvir o ex-ministro Mário Lino, que foi chamado para depor às 14:00.
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