PT/TVI: Manuela Ferreira Leite confirma que sabia do negócio

Segundo o «Diário de Notícias», que avança a notícia, esta quarta-feira, na primeira página, e de acordo com as escutas transcritas no despacho do Procurador Geral da República, Pinto Monteiro, Manuela Ferreira Leite e o PSD estiveram sempre a par do negócio da compra da TVI pela PT.

Isto, no «momento chave de todo o processo», o dia 24 de Junho de 2009, quando Rui Pedro Soares já está em Madrid para negociar com a Prisa e o assunto é levado ao Parlamento.

A questão do processo de compra da TVI pela PT foi levantada no debate da proposta do Governo de Orçamento do Estado para 2010 pelo líder parlamentar do CDS-PP. O primeiro-ministro responde: «Nunca o Governo deu instruções para que se fizesse uma operação na TVI, nem através do dr. Henrique Granadeiro, nem através de nenhum administrador da PT». E o que disse a 24 de Junho, tem sido reiterado, insistentemente, pelo primeiro-ministro, e pelo governo, até hoje.

Nessa noite, Manuela Ferreira Leite dá uma entrevista a uma estação de televisão onde crítica o negócio - que ainda não se fez e que acabará por não se fazer. Mostra-se preocupada com a negócio e com a eventual alteração da «linha editorial» e diz que o primeiro-ministro «mentiu» quando nessa tarde disse que não sabia do negócio.

O que pode não ser exactamente assim, se todos conheciam o negócio, há uma vaga possibilidade de o primeiro-ministro o ignorar, pelo menos a fazer fé no telefonema do dia 25, de Rui Pedro Soares para Paulo Penedos, onde Soares em desabafo diz que Sócrates está «todo lixado comigo» que não sabia do negócio num negócio que já ninguém quer.

Mas em Madrid o contrato não é assinado, e em Lisboa José Eduardo Moniz, também não assina o documento que negociava directamente com a PT e com Zeinal Bava, com quem jantou. Aliás, mais uma vez, segundo o jornal, e ainda do que se pode ler das escutas, foi Moniz que informou Manuel Ferreira Leite do negócio.

Numa primeira fase, diz o «DN», informada pelos «Ongoing» ou por José Eduardo Moniz, Manuela Ferreira Leite terá concordado com negociações da PT com a Prisa. Mas se o fez, foi em privado. Em público, afirma que o afastamento de Moniz da TVI seria «gravíssimo e escandaloso» e que tinha a «certeza absoluta» que José Sócrates conhecia o negócio.

No dia anterior, a 23 de Junho, o jornal «i», na primeira página, avança que a PT se prepara para comprar30% da Média Capital, diz-se que «alguém falou com o PSD» que por sua vez informa o jornal.

E assim o segredo cedo deixou de ser a alma deste negócio interceptado por escutas de um outro processo-crime e pelo conhecimento antecipado de tantos.

De tal forma que a 27 de Julho, Rui Pedro Soares partilha, ao telefone, com Paulo Penedos a ideia que de foram «vítimas de uma cilada» e que uma das pessoas que mais sabia do negócio, e não por ele, era Manuela Ferreira Leite.

Questionada pelo jornal sobre tudo isto, Manuela Ferreira Leite responde: «Ora essa, e qual é o crime que está a ser cometido por ser informada? Agora não posso ser informada? Se fui informada, isso só prova que de facto o esquema estava a ser montado e que o crime estava a ser cometido.»

O «Diário de Notícias» acrescenta que nas escutas interceptadas, sabe-se que Armando Vara - outros dos intervenientes e com considerável relevância no alegado negócio - revelou preocupação com a «fonte» que estava a informar o Presidente da República, alguém que «não quer o negócio», diz. Rui Pedro Soares identifica essa fonte como sendo José Eduardo Moniz.