Análise: 4º trimestre difícil e meta do Governo mais improvável

Os economistas estão divididos quanto à análise dos mais recentes dados sobre a economia nacional, que apontam para uma estagnação em cadeia no terceiro trimestre. Nada mais natural, tendo em conta que o momento é de «elevada incerteza». E nisto, estão todos de acordo.

A estimativa rápida do Instituto Nacional de Estatística revela que a economia se manteve estagnada no terceiro trimestre, face ao segundo, e cresceu 0,7% face ao homólogo. Na mesma altura, o Eurostat revelou que a Zona Euro se contraiu 0,2%, no segundo e terceiro trimestres, entrando oficialmente em recessão técnica.

A Agência Financeira contactou alguns economistas para saber como vêem estes dados. Para alguns, esta é a prova de que Portugal não está tão mal como se dizia, e que ainda pode convergir com a Zona Euro este ano. Mas há quem não esteja tão optimista.

Fintámos as previsões de Bruxelas

«São dados mais positivos do que se esperava. A Comissão Europeia tinha previsões que apontavam para uma recessão técnica em Portugal já este ano, e isso já não é possível, mesmo que haja uma contracção no quarto trimestre», lembra João César das Neves. Mais do que isso, segundo as Previsões de Outono de Bruxelas, «o terceiro trimestre era suposto ser o pior, e não foi assim tão mau», embora admita que o último trimestre deste ano deva vir a ser «negativo». Ainda assim, sublinha, «afinal parece que vamos convergir com a Zona Euro».

Para César das Neves, o mais evidente de tudo isto é que «o que está a acontecer mostra o grau de incerteza do momento que estamos a atravessar».

E embora não avance com uma estimativa para o conjunto de 2008, o economista considera que é muito difícil Portugal conseguir cumprir a meta do Governo, que espera uma expansão de 0,6%. «Nunca me pareceu uma previsão muito segura, mas agora ainda me parece mais difícil», concluiu.

Igualmente optimista está Teresa Gil Pinheiro, economista do BPI. A analista já esperava uma estagnação trimestral e acredita que os valores conhecidos esta sexta-feira «dão alguma perspectiva de que Portugal possa evitar entrar numa recessão técnica».

Por isso mesmo, «este é um factor positivo para Portugal, face a outros países da Zona Euro».

Agora, «tudo indica que o pior trimestre deste ciclo será o quarto deste ano e que o primeiro de 2009 também não será bom».

Uma crise diferente das outras

Menos optimista está Filipe Garcia, do IMF, para quem não há qualquer surpresa nem uma boa notícia na estagnação.

«São números em linha com o resto dos países da Zona Euro e mostram que a economia já travou a fundo, desde Setembro, e que o quarto trimestre será, provavelmente, pior», diz, considerando que «não é muito relevante que não tenhamos entrado em contracção».

No fundo, a verdade é que «o contexto actual é muito negativo para Portugal. Há uma redução da procura, interna e externa, qo que se somam as dificuldades de financiamento da economia, incluindo o Estado, as empresas e os consumidores. É um cenário negativo».

Para o quarto trimestre, o economista não sabe muito bem com o que se pode contar, em termos de consumo, mas diz que as perspectivas para estes três meses finais não são muito boas, ao contrário do habitual.

«Do que observamos no terreno, do contacto que temos com as empresas, vemos que estão cépticas e que já puseram um travão, está tudo mais ou menos a parar», alerta.

Por isso mesmo, para o conjunto do ano, Filipe Garcia diz que será difícil ir além dos 0,5%, ou seja, ligeiramente abaixo da meta do Executivo.

Certo é que esta crise está a ser «diferente de todas as outras», quer na rapidez da desaceleração, quer na rapidez com que esta está a chegar ao consumidor. «As bitolas que usamos para definir o período de uma recessão e de uma recuperação, podem não servir para este ciclo. Talvez a recuperação se dê ao mesmo ritmo», conclui.