Credores desesperados recorrem aos Cobradores do Fraque - TVI

Credores desesperados recorrem aos Cobradores do Fraque

Devedores

Com a crise a apertar a corda à volta do pescoço das famílias portuguesas, as dívidas aumentam. E como os métodos tradicionais de cobrança parecem já não funcionar, novos e inovadores métodos estão a surgir e a prosperar.

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Nos últimos tempos multiplicaram-se as notícias de comerciantes que divulgam nas montras as listas de nomes de clientes devedores, que não querem regularizar as suas dívidas. Mas, para muitos casos, os «Cobradores do Fraque» foram a última saída.

A empresa é especializada em recuperação e gestão de créditos, ou seja, em recuperar dívidas que os devedores não querem pagar. O método é já sobejamente conhecido: estes profissionais vão aos locais de residência, de trabalho e outros que sejam frequentados pelos «caloteiros», vestidos de fraque. O insólito do traje, associado às várias aparições destes profissionais sempre perto da mesma pessoa, torna-se «embaraçoso» para os devedores e funciona como uma forma «persuasiva e mais inteligente» de levar as pessoas a quererem saldar as dívidas.

E clientes é que não faltam. Fonte da empresa disse à «Agência Financeira» que, «desde que a crise começou, o negócio praticamente triplicou» e que, para os anos que se avizinham, «as perspectivas são as melhores possíveis». Também não é para menos. «Estamos na fase mais negra do ciclo económico, o mais agressivo dos últimos 50 anos», lembra a mesma fonte.

Carros topo de gama causam grande parte das dívidas

E nos tempos que correm, «os gestores já não podem proteger os interesses dos accionistas se seguirem os meios clássicos de gestão, é preciso procurar novas metodologias», explica, acrescentando que «muitas destas dívidas resultam de modas que se instalaram: se o vizinho tem um BMW ou um Mercedes, o outro também quer ter, mesmo que às vezes não possa pagá-lo».

Com os sucessivos aumentos de preços e as baixas actualizações salariais, já para não falar do crescimento do desemprego, os portugueses vão deixando de pagar as contas, desde as de mercearia, talho, telefone, água e luz, até à própria renda ou prestação do crédito à habitação. Só que, enquanto os bancos e outras entidades financeiras têm meios próprios para recuperar o dinheiro, recorrendo mesmo aos tribunais, para as empresas mais pequenas essa nem sempre é a melhor solução.

Clientes vão de particulares a pequenas, médias e grandes empresas

E aqui entram os «Cobradores do Fraque». A empresa celebra com os clientes um contrato onde a dívida é transferida do cliente para a empresa. Os clientes pagam, à cabeça, um pequeno montante para dar início ao processo e para cobrir despesas como deslocações e mão-de-obra.

No final, e apenas quando a dívida é recuperada, pagam uma percentagem à empresa pelo serviço prestado. Esta percentagem varia, consoante as características do caso. «No caso de ser uma dívida astronómica, em que sejam precisas muitas diligências e seja um caso complicado, não podemos cobrar a mesma coisa», justificou a fonte da empresa.

«Os Cobradores do Fraque» não impõem um limite mínimo para as dívidas, a partir do qual aceitam os casos, mas lembram que é uma questão de bom senso não aceitar casos de dívidas muito baixas. «Se estamos a falar de meia dúzia de tostões, alertamos o cliente que não vale a pena prosseguir, porque os nossos honorários acabam por ser maiores do que o montante que vai recuperar. Não compensa», acrescenta.

Os casos são sobretudo devedores que estão de má fé, que não querem pagar. Casos que, se não fossem decididos assim, dariam origem a queixas na polícia e se arrastariam anos em processos nos tribunais. Os clientes dos «Cobradores do Fraque» vão «de particulares a pequenas e médias empresas e até a algumas de dimensão considerável».
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