Apito: «os árbitros eram escolhidos a dedo»

O inspector titular do inquérito «Apito Dourado», Casimiro Simões, apontou esta tarde no Tribunal de Gondomar o momento em que «os árbitros começaram a ser escolhidos a dedo» para alegadamente beneficiarem o Gondomar Sport Clube (GSC).

Casimiro Simões lembrou que o processo começou com uma tentativa de aliciamento ao árbitro Rui Mendes (já não é arguido), «abordado para beneficiar o GSC».

Mas foi no jogo GSC/Taipas que os inspectores recolheram os primeiros «indícios de que um árbitro ajudou o Gondomar».

Seguiu-se a partida Gondomar/Paredes, que «correu mal» à equipa da casa. «O presidente do GSC tenta que nos próximos jogos sejam nomeados os árbitros que quer. Fala com Valentim Loureiro, no sentido de persuadirem o presidente do Conselho de Arbitragem da Federação, Pinto de Sousa, a nomear os árbitros desejados». Casimiro Simões recorda mesmo uma frase de Valentim, interceptada nas escutas. «Então aquele filho da p... não manda os árbitros que a gente quer!»

«A partir daqui os árbitros começaram a ser escolhidos a dedo», recorda o inspector, para quem os arguidos «atribuíam a derrota ao facto de não ter sido nomeado o árbitro pretendido: Pedro Sanhudo».

Pinto de Sousa nomeava «para agradar» ao major

«Pinto de Sousa nomeava para agradar a Valentim Loureiro», referiu ainda o inspector da PJ, acrescentando que esse dado resultou «essencialmente das escutas telefónicas» a José Luís Oliveira, Valentim e Pinto de Sousa. Todas as diligências do presidente do GSC eram feitas «com a chancela do presidente da Liga, major Valentim Loureiro».

A informação que o inspector ia recolhendo sobre Pinto de Sousa apontava para «uma pessoa íntegra» que «se sentia violentada» pelo que fazia. Mas, acrescentou: «Ele não fazia aquilo de forma gratuita. A compensação era ser escolhido para a lista da Federação Portuguesa de Futebol».

«Ainda abrem uma ourivesaria»

Sobre as entregas em ouro aos árbitros, o inspector referiu que a PJ estava a par de que «todos os domingos de manhã havia entregas feitas pelo ourives ao senhor Oliveira». Este último e o arguido Castro Neves «iam ao balneário e os dois entregavam» o ouro. Nos jogos fora de casa, o procedimento era diferente», sublinha, explicando que «nalguns casos, as ofertas eram entregues posteriormente».

Casimiro Simões recordou até a escuta telefónica em que um árbitro graceja para outro que «com tanto ouro recebido ainda abrem uma ourivesaria»

«Um árbitro específico para cada jogo»

«Os árbitros preferidos eram cerca de dez», sendo que os nomes correspondem aos dos arguidos detidos, em Abril de 2004. Casimiro Simões exemplifica: «Pedro Sanhudo, Manuel Mendes, António Eustáquio e Licínio Santos». José Luís Oliveira «pedia um árbitro específico para cada jogo».

«Havia várias listas, que eram todas as semanas conversadas e ajustadas», afirmou ainda. As nomeações para a 2ª Divisão B ficavam a cargo de Francisco Costa, «mas havia uma pré-indicação de Pinto de Sousa a quem estava responsável pela nomeação». António Eustáquio era um árbitro «muito solicitado para jogos fora de casa», referiu o elemento da PJ.

Ouro, jantaradas e boas classificações

Além do ouro, «as contrapartidas para os árbitros» passavam, igualmente, pela organização de «jantaradas» bem como pela nomeação de observadores «amigos» que garantissem boas classificações aos juízes das partidas. Casimiro Simões exemplificou com os jogos «Bragança/GSC» e «Lousada/GSC» em que foram nomeados «observadores a pedido».

Numa das escutas telefónicas «mais caricatas do processo», Casimiro Simões recorda a frase do próprio árbitro assistente, João Macedo, no final do jogo «Bogadense/Sousense» [José Luís Oliveira era presidente da Assembleia Geral do Sousense]: «Eu nunca vi roubalheira tão grande».

O julgamento prossegue na terça-feira, às 9:30.