Crise: portugueses com maior risco de ataque cardíaco - TVI

Crise: portugueses com maior risco de ataque cardíaco

  • Redação
  • - Sandra Moutinho, da Agência Lusa
  • 18 out 2008, 11:22
Enxaqueca

Cardiologistas acompanham casos de pessoas que «perderam tudo» e estão preocupados

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Insónias, dores de cabeça persistentes, palpitações e dores no peito são alguns dos sintomas que cada vez mais portugueses estão a apresentar nos consultórios médicos e que estão associados à crise económica, o que preocupa os cardiologistas.

O presidente da Fundação Portuguesa de Cardiologia (FPC), Manuel Carrageta, disse à Agência Lusa que tem acompanhado a crise económica mundial, e em especial a que se vive em Portugal, através dos seus doentes, que nos últimos meses têm acusado sintomas de risco para o coração que o médico atribui às dificuldades financeiras por que estão a passar.

Em entrevista à Agência Lusa, Manuel Carrageta contou que já acompanhou casos de pessoas que «perderam tudo» com esta crise. Algumas delas, pormenorizou, tinham as poupanças de uma vida no banco Lehman Brothers, instituição norte-americana que faliu recentemente.

«Tenho acompanhado casos de pessoas que têm vindo a perder consecutivamente dinheiro, mas outras perderam tudo o que tinham», disse. Outras ainda, adiantou, foram surpreendidas com os efeitos da crise em aplicações que tinham e que desconheciam estarem ligadas à bolsa, e por isso perderam muito dinheiro.

Manuel Carrageta também seguiu casos de pessoas que perderam o emprego, por pertencerem a quadros de empresas norte-americanas que simplesmente fecharam as portas de um dia para o outro.

Os efeitos da crise não chegaram agora aos consultórios dos cardiologistas, explicou Manuel Carrageta. A maior parte destas pessoas que se queixam de sintomas, e vêem a sua saúde ameaçada pela crise, já sabe há algum tempo das possíveis consequências da crise, pois trabalham nos serviços mais afectados.

«Já acompanhei casos de pessoas que sabiam que a sua situação ia ser muito grave, pois estão no meio do sistema, e sabem o que vai acontecer e as perdas que vão ter», disse.

Organismo sente-se como se estivesse ameaçado por um monstro

No meio desta crise, o organismo sente-se em perigo e começa a funcionar como se estivesse ameaçado por um monstro, libertando hormonas que desde sempre permitiram ao homem fugir e lutar.

Manuel Carrageta explicou que este é um mecanismo que o homem dispõe desde sempre e que permitia, na pré-história, fugir dos animais ou ter mais força para combater com estes ou com outros inimigos.

As hormonas que se libertam em situações de grande stress e de medo levam a que o sangue seja orientado para os braços (para fomentar a luta) e para as pernas (permitindo a fuga).

Como o homem não pode fugir do «monstro» da crise, mas o sangue é na mesma orientado para estes membros, dá-se uma grande sobrecarga do coração, pois sobe a tensão arterial e é maior a frequência cardíaca, o que aumenta os riscos de um ataque cardíaco, explicou. No fundo, pormenorizou, é o próprio organismo que, ao accionar este mecanismo de defesa, se agride a si próprio, ameaçando o coração.
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