Casa Pia: MP diz que Cruz «apanhou um susto» - TVI

Casa Pia: MP diz que Cruz «apanhou um susto»

Carlos Cruz à chegada ao Tribunal de Monsanto

Procurador recordou episódio com menores, ocorrido em 1982, para dizer que ex-apresentador passou a ter «mais cautelas»

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Artigo actualizado às 13h53

O procurador do Ministério Público (MP), João Aibéo começou as suas alegações finais no mega-processo da Casa Pia, esta segunda-feira, no tribunal de Monsanto. Carlos Cruz foi o arguido visado, durante toda a manhã, pelas palavras de João Aibéo.

O procurador, que dividiu as suas alegações em vários grupos, devido à «extensão do caso», centrou a primeira parte do seu discurso «no episódio de 1982», quando dois jovens da Casa Pia foram encontrados no apartamento de Jorge Ritto, em Cascais. Foi nessa altura também que surgiu pela primeira vez o nome do apresentador de televisão. Carlos Cruz acabou por ser ouvido pela judiciária em 1984 e, segundo Aibéo, o susto serviu para que continuasse a praticar os mesmo actos, mas tendo mais cuidado. «Foi o alarme. Depois passou a ter mais cuidado e mais cautelas», acusou.

O MP reconhece que esses factos não são passíveis de incriminar ninguém nos dias de hoje, mas considera que abalam a «credibilidade» dos arguidos, quando estes negam a prática dos factos pelos quais estão agora em julgamento.

O suicídio de Cruz

João Aibéo considerou «estranho» que três dias após a detenção de Carlos Silvino (Bibi), a 28 de Novembro de 2002, Carlos Cruz tivesse «aparecido nos telejornais de todas as televisões a dar entrevistas».

«Quantas pessoas terão força e influência para isso?», questionou, acrescentando com alguma ironia que o apresentador «até se emocionou das três vezes». «E porque sentiu necessidade de o fazer dessa vez, se diz que o seu nome era muitas vezes associado a boatos?», continuou.

O procurador reconhece, a dada altura, que nem todos os envolvidos no caso de abusos sexuais estão sentados no banco dos réus. E que as entrevistas «foram o suicídio» de Carlos Cruz. «Ofereceu-se àqueles que o queriam comprometer».

As contradições das testemunhas

O MP percorreu ainda os depoimentos de várias testemunhas envolvidas no episódio de 1982, explicando as suas contradições e garantindo que «muitos tiveram medo» de contar a verdade em tribunal e «mentiram». Recordou ainda que o nome de Carlos Cruz, como frequentador da casa de Jorge Ritto, foi referido por várias pessoas, em ocasiões diferentes, de alunos, a educadores, até ao porteiro do apartamento do ex-diplomata.

Ainda relativamente ao caso de 1982 e às tentativa da defesa de Cruz ao classificar as histórias dos ex-alunos da Casa Pia como «gabarolices», o procurador alega que a gabarolice «não significa que os factos fossem mentira».

As fotos «encontradas» em casa de Jorge Ritto também foram referidas. E o facto de pessoas que teriam visto as fotografias o terem negado em tribunal, enquanto outras mantiveram as declarações, é outro «exemplo, do medo».

Recorde-se que a aluna encontrada em casa do ex-embaixador admitiu, no seu depoimento em tribunal, ter sido contactada para «concentrar as suas acusações em Carlos Cruz». Algo que não retira veracidade às acusações e, tal como já foi referido, apenas servia «os outros» que não estavam ali sentados, garantiu João Aibéo.

«Consciência tranquila»

À saída para o almoço, Carlos Cruz afirmou «estar de consciência tranquila» e quando se está de consciência tranquila, explicou, «fica-se sereno». Sobre o caminho escolhido pelo MP para começar as suas alegações, o ex-apresentador respondeu apenas que «era previsível».

A sessão do julgamento será retomada às 14h30 e o Ministério Público vai prosseguir com as suas alegações. João Aibéo reconheceu que será impossível terminar esta segunda-feira e que para amanhã deixará, pelo menos, a história «da casa de Elvas e a pronúncia» que descreve todos os crimes ali praticados.
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