«Isto é um espectáculo macabro e desumano» - TVI

«Isto é um espectáculo macabro e desumano»

  • Portugal Diário
  • - Pedro Sales Dias
  • 27 mar 2007, 18:00

Famílias culpam Rui Rio. Segurança Social garante que foi apanhada de surpresa

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«Isto é um espectáculo macabro e desumano, lembra a retirada de um campo de refugiados», referiu ao PortugalDiário Vítor Marques, da Associação Romani, que defende os direitos da comunidade cigana.

O representante não tem qualquer dúvida em acusar Rui Rio por toda a situação. «Não há palavras para o que se passa aqui. Rio ordenou o despejo e depois descartou-se da situação. Só se lembram destas pessoas em altura eleitoral, porque eles estão recenseados», frisou.

«Rui Rio havia de estar no nosso lugar», exortou Sandra Gomes acompanhada no desgosto por Perfeita Santos: «Tenho seis filhos e não sei onde vou passar a noite. A culpa disto tudo é de Rui Rio», assegurou.

O forte aparato policial surgiu juntamente com as máquinas da Câmara do Porto(CMP) por volta das 9h40. 50 policias prontos para firmemente controlar as famílias, os curiosos e, principalmente os jornalistas. «Temos o dia todo para estar aqui», referiu um dos agentes que mantinha o cordão policial.

«Vão limpar daqui as pessoas, para depois iniciarem as demolições»

A CMP não mandou nenhum elemento oficial que a representasse, mas apenas um autocarro para levar as famílias até à Rua da Alegria, onde fica a Segurança Social, para fornecerem os seus dados. O assistente social da Junta, José António Pinto, que acompanha há dez anos estas famílias, apressou-se a denunciar aquilo que apelidou de «inteligente estratégia». «Vão limpar daqui as pessoas, para depois iniciarem as demolições» avisava o assistente social que há muito tempo tinha recolhido todos os dados das famílias.

«Já decidimos. Só lá vão as mulheres, os homens não arredam daqui o pé», garantia o morador, José Machado. As mulheres chegaram a entrar no autocarro com os filhos ao colo, mas rapidamente voltaram a sair. Tinha chegado o aviso de que duas técnicas de Segurança Social estavam afinal a caminho.

Fogões destruídos: não tinham onde almoçar

Entre a tristeza e a dúvida, sentados em cadeiras e na berma da estrada a avistar a demolição das barracas em que viveram durante 20 anos, acordaram para a realidade quando os jornalistas fizeram a questão do momento: «Onde vão almoçar?» Não sabiam, os fogões tinham sido destruídos juntamente com a demolição e o que sobrava tinha sido incendiado.

À chegada das técnicas da Segurança Social, as famílias exortavam por apoio: «onde vamos dormir esta noite com as nossas crianças?», perguntavam. «Esta noite terão, pelo menos, um quarto numa pensão», garantia a técnica Paula Varena, que referiu que a Segurança Social do Porto foi apanhada de surpresa. «Recebemos um fax às 10h30 sobre o que aqui se estava a passar», frisou.

Impasse continuou até meio da tarde

Contudo, o problema estava longe de ser resolvido. A decisão do director da Segurança Social, dependia de um ofício da CMP, em que Rui Rio se comprometia com o realojamento definitivo das famílias, findo o período de 60 dias. O autarca não assinava e o impasse continuou até perto das 16h.

«A opinião pública sabe perfeitamente de quem é a culpa desta situação», afirmou Fernando Amaral sem se referir directamente a Rui Rio. «Como presidente da Junta não devo fazer criticas», referiu acrescentando que seria necessário perguntar à CMP porque é que as famílias iriam ficar «sem tecto».

Durante os dois próximos meses, as 16 famílias ficarão alojadas provisoriamente em pensões.
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