«Homofobia passará a ser uma atitude escondida e oculta»

Encarar a homossexualidade com normalidade será reforçado com o reconhecimento por parte do Estado do casamento entre pessoas do mesmo sexo e, lentamente, a homofobia será uma «atitude escondida e oculta», defende o sociólogo Pedro Vasconcelos, refere a Lusa.

«Temos assistido progressivamente, sobretudo a partir dos anos 90, a uma normalização da homossexualidade. As pessoas começaram a olhá-la como uma maneira de viver a sexualidade como outra qualquer. Este lugar de normalidade é reforçado quando há um reconhecimento estatal», sustenta.

Segundo o investigador, os comportamentos discriminatórios não vão desaparecer de um dia para o outro, mas a homofobia vai passar a ser «a atitude escondida e oculta», numa mudança que prognostica «lenta».

«Quando o aparelho de Estado, através de medida legislativa, dá igual dignidade a todos os cidadãos, isso tem um efeito de contágio. As coisas escondidas emergem e as pessoas vão conhecer cada vez mais casais do mesmo sexo. Vão habituar-se à banalidade social dessas situações», assinala.

A mesma ideia é partilhada pela socióloga Sofia Aboim Inglez, segundo a qual o facto de passar a haver um reconhecimento legal tem impacto na promoção da mudança, mesmo que esta venha a ser lenta.

«As mudanças culturais são sempre bastante mais lentas do que as mudanças jurídicas. As pessoas também não mudam todas ao mesmo tempo. O país não é uma realidade homogénea e estes são processos complexos que demoram o seu tempo até se fazer uma mudança de mentalidades mais plena», defende.

A docente do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa salienta que o casamento civil ficará ainda mais descolado do casamento enquanto sacramento religioso, uma tendência que já se verifica desde 2006, quando o número de casamentos civis ultrapassou os religiosos.