«Livro de Saramago é uma operação de publicidade» - TVI

«Livro de Saramago é uma operação de publicidade»

Porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa e religiosos reagem às declarações do Nobel da Literatura

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(ACTUALIZADA ÀS 14:36)

O porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), Padre Manuel Morujão, classificou esta segunda-feira o novo livro de José Saramago como uma «operação de publicidade» e acrescentou que não fica bem a um Prémio Nobel entrar em tom de «ofensa», refere a Lusa.

José Saramago apresentou domingo em Penafiel o seu novo livro, «Caim», onde conta em tom irónico e jocoso a história do filho primogénito de Adão e Eva.

Saramago: «Bíblia é um manual de maus costumes, um catálogo de crueldade»

Confrontado as declarações do Nobel da Literatura, o porta-voz da CEP afirmou, realçando que se trata de uma opinião pessoal: «Parece-me ser uma operação de publicidade porque dizer bem da Bíblia, os grandes e os sábios o dizem como livro religioso, mas também como livro cultural. Ter uma opinião diferente e dizer que é um livro de maus costumes e onde se dizem coisas que não têm sentido nenhum causa impacto».

Para Morujão, «um escritor da craveira de José Saramago deveria ir por um caminho mais sério».

«Poderá fazer as suas críticas, mas entrar num género de ofensa não fica bem a ninguém, sobretudo quem tem um estatuto de prémio Nobel», referiu.

O padre Manuel Morujão adiantou que «a bíblia não tem só livros históricos como tem livros poéticos, livros sapienciais», sendo «evidente que não se vai interpretar poesia com critérios de história e vice-versa».

«Por isso ele [José Saramago] encontra absurdos nesta história que sabemos que é uma história simbólica, de Caim e Adão. O justo e o mau que tem ciúmes daquele que é bom e é louvado. Estamos numa simbologia que é profundamente humana. Estas histórias acontecem hoje e é preciso também interpretá-las com critérios sapienciais, de ler para além do texto e sabendo com que género literários estamos a tratar», insistiu.

Já o bispo do Porto, D. Manuel Clemente, diz que José Saramago «revela uma ingenuidade confrangedora quando faz incursões bíblicas» e, como «exigência intelectual, deveria informar-se antes de escrever».

O prelado, que em 1991 protagonizou um debate com o escritor a propósito do lançamento do «Evangelho Segundo Jesus Cristo», sublinhou que «qualquer introdução a uma edição da Bíblia, mesmo a mais básica, explica que as personagens e os factos relatados são uma leitura religiosa da realidade».

O responsável pela comunidade judaica de Lisboa, o rabino Eliezer di Martino, acusa Saramago de desconhecer a Bíblia, garantindo que o «mundo judaico não se vai escandalizar» com o que o prémio Nobel escreveu.

Para o rabino, o escritor «não conhece a Bíblia nem a sua exegese», fazendo «leituras superficiais das narrativas da Bíblia».

O teólogo Anselmo Borges afirm que o Nobel fez uma leitura «completamente unilateral» da Bíblia, que tem, como qualquer livro, de ser lida como um todo para se apreender o sentido, que é o da salvação.

«Na Bíblia também se encontra o que Saramago disse: um apelo à violência, à crueldade e à imoralidade e por vezes surge um Deus cruel, mesquinho, ridículo e mesmo imoral», referiu Anselmo Borges.

Mas lida no seu todo, a Bíblia «é a grande resposta à pergunta quem é que tem salvação para a Humanidade?. A resposta é Deus».

O director da Faculdade de Teologia da Universidade Católica de Lisboa, Peter Stilwell, considera que «seria espantoso» que José Saramago encontrasse algo divino na Bíblia e sublinhou que o escritor escolheu o fratricida Caim e não Abel, a vítima.

Por seu lado, a Sociedade Bíblica de Portugal, uma das principais editoras da Bíblia, escusou-se a comentar as declarações de Saramago, recordando apenas tratar-se «do livro mais traduzido, mais vendido e lido de sempre».
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