Profissionais de saúde pouco preparados para lidar com mutilação genital feminina - TVI

Profissionais de saúde pouco preparados para lidar com mutilação genital feminina

Saúde

É o que revela o estudo publicado na «Ata Obstétrica e Ginecológica Portuguesa»

Um estudo publicado numa revista científica revelou que muitos profissionais de saúde não estão preparados para lidar com a mutilação genital feminina, com quase metade dos inquiridos a não reconhecerem uma situação destas, apesar de trabalharem na saúde reprodutiva.

A investigação resultou do preenchimento de inquéritos distribuídos entre abril e junho de 2008 a profissionais de saúde da Maternidade Alfredo da Costa (MAC), com vista a apurar «o que sabem os profissionais de saúde» sobre a Mutilação Genital Feminina (MGF).

Dos 112 inquéritos considerados válidos - respondidos por médicos, enfermeiros e auxiliares de ação médica e administrativos ¿ 44 referiam-se a profissionais que já tinham observado pelo menos uma mulher com MGF.

«O facto de nove dos inquiridos já terem sido abordados por uma sequela da prática de MGF e um já ter sido solicitado para a realização da prática traduz que a prática da MGF existe em Portugal», lê-se no artigo, publicado na «Ata Obstétrica e Ginecológica Portuguesa», o órgão oficial da Federação das Sociedades Portuguesas de Obstetrícia e Ginecologia.

Ao contrário do que os autores do estudo esperavam ¿ uma vez que os profissionais que trabalham numa área dedicada à saúde materna e reprodutiva, como a MAC, são a quem as mulheres mutiladas poderão mais frequentemente recorrer por complicações, sequelas e durante a gravidez ¿ «apenas 59 por cento dos inquiridos admitiram saber reconhecer na sua prática clínica uma situação de MGF».

«É significativo que nove médicos e 17 enfermeiros tenham assumido que não saberiam reconhecer uma situação de MGF na sua prática clínica e que, 80 por cento dos inquiridos (entre os quais 26 médicos) tenham admitido não se sentirem preparados para reconhecer e abordar uma situação clínica de MGF na sua prática clínica», escrevem os autores do trabalho: as internas Sandra Barreto e Vera Cunha, a diretora do serviço de medicina materno fetal da MAC, Ana Campos, e a chefe de divisão da saúde reprodutiva da Direção Geral da Saúde, Lisa Vicente.

No estudo lê-se que a MGF «representa um tema pouco abordado durante a formação dos profissionais de saúde».
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