Engenheiro matou ex-genro: psiquiatra nem viu a vítima - TVI

Engenheiro matou ex-genro: psiquiatra nem viu a vítima

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Diagnóstico fazia de Cláudio Mendes uma ameaça, mas médico admite que nem sequer o observou

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Um psiquiatra do Porto, que depôs esta quarta-feira no julgamento do homicídio do advogado Cláudio Mendes, esclareceu o tribunal nunca ter visto a vítima e ter feito um diagnóstico impessoal, apenas com base nas informações dadas pela ex-companheira.

Segundo relatou ao tribunal, foi primeiro procurado no seu consultório pelo arguido, António Ferreira da Silva, que não ia para ser consultado, mas estava em grande ansiedade por causa dos problemas da sua filha com o genro e, depois, atendeu em quatro consultas sua filha, a juíza Ana Joaquina.

O documento que produziu, e que levou Cláudio Mendes a fazer uma queixa à Ordem dos Médicos, apenas teve por base os incidentes que lhe foram relatados por Ana Joaquina nas consultas, nunca tendo observado a vítima.

«Fiz um parecer inespecífico e impessoal», disse repetidamente ao tribunal, embora o juiz presidente, Jorge Bispo, lhe observasse que quem estivesse por dentro do conflito familiar em questão, facilmente perceberia referir-se a Cláudio Mendes.

Questionado do «porquê» desse parecer, sem observar o paciente, em que se inclinou para um quadro clínico de «perturbação esquiso-afetiva com grave transtorno da personalidade», o psiquiatra Luís Lopes explicou-o como meio de ajudar as pessoas a lidarem com a situação que lhe era exposta, e admitiu não ter produzido mais nenhum parecer semelhante na sua carreira.

Desse quadro clínico, resulta a possibilidade de a pessoa se poder tornar agressiva e atentar contra a sua própria vida ou de terceiros, o que, segundo o advogado de Defesa, Celso Cruzeiro, foi o que Ferreira da Silva temeu quando abateu a tiro Cláudio Mendes, a 5 de fevereiro de 2011, no parque da Mamarrosa, na visita de Cláudio Mendes à filha.

Celso Cruzeiro aproveitou ainda a presença do psiquiatra para indagar se o agudizar da angústia em que estava o arguido, perante o conflito familiar, seria suscetível de o fazer perder o controlo, mas o clínico foi evasivo na resposta.

Definiu António Ferreira da Silva como pessoa rígida, afetiva e com algum traço obsessivo, mas afirmou que todas as pessoas têm o seu limiar para passar à ação e, mesmo quando o advogado procurou saber se verificou medo pela situação quando atendeu o arguido (um dos motivos que nesse tipo de personalidade pode desencadear a ação), limitou-se a responder que o viu com preocupação.

Já quanto à juíza Ana Joaquina, que assumiu ter sido ela a sugerir o internamento compulsivo de Cláudio Mendes, classificou-a como pessoa racional, com menor ansiedade do que o pai e com uma «credibilidade acima da média», nos relatos que lhe fez e que passou a escrito.
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