Professores: é possível juntar mais de cem mil? - TVI

Professores: é possível juntar mais de cem mil?

A Marcha na Av. da Liberdade (foto: Filipe Caetano)

Sindicatos falam em «manifestação gigantesca», mas ministra da Educação avisa: «Não há nenhuma razão para voltarmos atrás no que quer que seja»

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Depois da divisão, da diferença de datas entre 8 e 15 de Novembro, os professores regressam em força à Baixa lisboeta neste sábado. A Plataforma Sindical diz que é possível juntar mais do que os cem mil que se reuniram na capital a 8 de Março, apelidando a manifestação de «gigantesca». Resta saber se isso vai mesmo acontecer, sabendo-se que vão viajar docentes de todo o país, tendo como argumento fundamental a contestação ao processo de avaliação.

O tempo vai estar propício: céu pouco nublado, vento fraco, 18 graus às 14h30, quando se iniciar a concentração no Terreiro do Paço. Desta vez, o trajecto vai ser o inverso, com final previsto para o Marquês de Pombal, pelas 17h30 (normalmente atrasa-se), para a aprovação da resolução da Manifestação.

Muito mudou desde a marcha da indignação, em Março, com os professores a não esconderem o descontentamento e muitos deles a pedirem a reforma antecipada. A escola mudou, resta saber se vai continuar na mesma após a manifestação deste sábado.

Para o ex-ministro da Educação, David Justino, é tempo de baixar as armas e deixar os professores trabalhar. «O clima de crispação prejudica as escolas. A educação precisa de calma, estabilidade e espírito de cooperação. Estou preocupado e tenho vontade que as pessoas possam resolver os problemas», disse ao PortugalDiário na qualidade de cidadão preocupado, acrescentando à TSF: «Enquanto transformarmos a educação num campo de batalha é difícil encontrar soluções e um rumo que possa unir as pessoas para uma educação de excelência».

Movimento de resistência

As escolas decidiram agir e muitas são as que se juntaram ao movimento de resistência ao novo modelo de avaliação dos docentes. As queixas de falta de tempo para os alunos são constantes, a burocracia aumenta, os docentes vêm-se forçados a trabalhar horas-extra, em casa, e não é a preparar aulas, antes a preencher documentos, papéis. Os professores estão cansados e por isso vão manifestar-se.

A tutela já garantiu que o processo não será suspenso, nem simplificado, como aconteceu em 2007/08, e a ministra da Educação já deixou mesmo um aviso. «Não há nenhuma razão para voltarmos atrás no que quer que seja», disse Maria de Lurdes Rodrigues ao Diário Económico, acrescentando: «Os sindicatos têm uma visão alarmista que procura criar ruído, o que não significa que não haja professores insatisfeitos e a desistir da avaliação». De resto, admite que 400 escolas tenham aprovado moções de resistência ao modelo de avaliação.

O psiquiatra Daniel Sampaio, presidente do júri do Prémio Nacional do Professor, não tem dúvidas em afirmar que «grande parte das horas que os professores passam nas escolas é em reuniões ou preocupados com as grelhas e com o esquema de avaliação de desempenho», numa «actividade muito burocratizada» que deixa pouco espaço para a preparação do trabalho com os alunos.

«A sobreocupação dos professores com tarefas exteriores à preparação das aulas seguramente que os desmotiva e é provável que isso vá ter reflexos no aproveitamento dos alunos e no próprio interesse dos alunos em participar nas actividades lectivas», disse à Lusa.

Movimento online

A manifestação de dia 15 ainda não foi desconvocada, há quem diga que é mesmo necessário que as duas se realizem, mas será difícil juntar um grande número de docentes em Lisboa no espaço de uma semana. Ainda assim, o movimento online continua e com iniciativas interessantes.

Exemplo disso mesmo é a aplicação desenvolvida no site «Tagzania», que utiliza o Google Maps para mostrar as escolas que apresentam resistência à aplicação do novo modelo de avaliação de desempenho de professores.

Mas, como em todas as manifestações, há sempre posições simbólicas. Desta vez, cabe ao professor António Azevedo, de Serpa, marcar a diferença, percorrendo 220 km de bicicleta para estar presente no protesto.
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