«O dinheiro não paga os olhos» - TVI

«O dinheiro não paga os olhos»

Santa Maria admite assumir responsabilidades caso se prove a culpa na cegueira dos doentes. Família diz que hospital «desvalorizou». Conclusões dentro de 15 dias

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A administração do Hospital Santa Maria declarou na tarde desta quarta-feira, em conferência de imprensa, estar disposta a assumir as responsabilidades de um eventual erro médico caso seja essa a conclusão dos três inquéritos em curso sobre o risco de cegueira que seis doentes correm depois de um tratamento efectuado no hospital. Em reposta à esta disponibilidade, Jesus Valder Kellem, irmã de Walter Lagobom, um dos doentes que está actualmente cego, confessou ao tvi24.pt que: «O dinheiro não paga os olhos».

Walter Lagobom, diabético, de 46 anos foi submetido a uma injecção no olho na passada sexta-feira. O objectivo era recuperar a visão de um dos olhos, onde apenas tinha 80 por cento de capacidade ocular. «Ele via, apenas não conseguia ler», explica a irmã indignada: «Ele entrou aqui a ver e tem de sair a ver». Walter acabou por ser submetido à intervenção nos dois olhos, sem que a família entenda o porquê, estando agora «sem ver nada», confirma a esposa, Maria Gorette.

A família explica que Walter está esperançado, «melhor das dores», mas ainda sem nenhuma melhoria a nível ocular. Uma consequência, que segundo explicaram, acontece devido à forma como o caso foi «desvalorizado». «O meu irmão veio cá no sábado e mandaram-no para casa com uns pingos nos olhos, no domingo a mesma coisa, só na segunda é que o internaram porque havia mais pessoas a queixarem-se. É óbvio que aí a coisa já estava pior», declarou.

O hospital admite que alguns doentes terão ido à urgência, no entanto, o diagnóstico foi de que «não parecia que fosse grave». «Não ignoro que isso tinha acontecido», admitiu o director de oftalmologia, Monteiro Grillo.

«Doentes estão melhores»

O mesmo responsável declarou que dois dos doentes apresentam melhorias e que os restantes quatro estão estáveis. Nos primeiros dias houve um agravamento do estado clínico, no entanto, as últimas horas revelaram uma evolução favorável. Questionado sobre se estes doentes vão voltar a ver, o clínico declarou: «Espero bem que sim».

O responsável explicou ainda que este medicamento é usado em «todo o mundo» para este efeito, apesar de estar indicado para o tratamento oncológico. A sua utilização deve-se ao facto desta ser a única esperança para quem está em vias de cegar, não havendo, qualquer outro medicamento que tenha os mesmos efeitos.

O hospital garante ainda que o medicamento é seguro e que já foi usado, com sucesso, em 80 casos no Santa Maria. No caso em concreto, o director do serviço de oftalmologia, explica que as 12 intervenções realizadas no dia 17 foram feitas pela mesma equipa, no mesmo bloco operatório, sendo que a única diferença foi o medicamento administrado, diferença essa que se deve ao facto das patologias serem diferentes, ou seja, em seis casos a origem da degeneração macular era associada à idade e noutros seis casos à diabetes. O mesmo responsável declarou ainda que não há histórico de efeitos negativos em doentes com diabetes.

Lote contaminado, negligência médica ou infecção hospitar?

O relatório sobre os doentes com reacções adversas após tratamento oftalmológico só deverá estar pronto dentro de 15 dias revelou o presidente do conselho de administração, Adalberto Campos Fernandes. O responsável recusou adiantar especular sobre a causa das infecções, garantindo que a principal preocupação do hospital são os doentes e a colaboração com as autoridades nas investigações que já decorrem.

Já o responsável pela farmácia hospitalar, Correia da Cunha, explicou que os estudos apontam que exista um caso em mil de reacções adversas à administração deste medicamento, considerando que a probabilidade da causa das infecções estar relacionada com a molécula do medicamento é reduzida.
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