Fome: problema agrava-se em Portugal - TVI

Fome: problema agrava-se em Portugal

Há zonas onde persistem as filas para a comida

Subida dos preços dos principais bens alimentares na origem das previsões das organizações humanitárias

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Responsáveis de organizações humanitárias portuguesas prevêem um quadro de fome em Portugal ainda mais grave do que o actual devido à subida em curso dos preços dos principais bens alimentares, noticia a agência Lusa.

«A situação é preocupante», alerta Isabel Jonet, presidente da Federação Portuguesa de Bancos Alimentares Contra a Fome, organização que no ano passado ajudou mais de 232 mil pessoas carenciadas em todo o país e se prepara para realizar mais uma campanha de angariação de alimentos no próximo fim-de-semana.

A responsável apela, por outro lado, à «serenidade» para «evitar corridas ao mercados» e à acumulação de bens alimentares que tem como consequência fazer disparar ainda mais os preços.

«As pessoas estão com a corda ao pescoço», afirma o presidente da Assistência Médica Internacional (AMI), uma estrutura que em Portugal apoiou mais de sete mil pessoas em 2007 através dos oito centros Porta Amiga que tem nos principais centros urbanos do país.

Em declarações à agência Lusa, Fernando Nobre atribui esse facto ao endividamento das pessoas, «aliciadas pelos bancos», o que teve como consequência o «empobrecimento da classe média».

Dois milhões de pobres em Portugal

Dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística em Outubro de 2007 calculavam em dois milhões o número de pobres em Portugal, o que equivale a um terço da população entre os 16 e os 64 anos.

Isabel Jonet, também contactada pela Lusa, destaca, entre os diferentes cenários de pobreza o que é constituído pelos idosos, que além da alimentação têm ainda um grande encargo com medicamentos.

«Como não podem deixar de tomar os medicamentos, acabam por comer menos», o que acaba por os colocar no grupo cada vez maior da população portuguesa que necessita de ajuda alimentar, sustenta a mulher que lidera a estrutura constituída por 13 bancos alimentares que recolhem bens doados e os distribuem através de instituições de solidariedade.

Salário não chega para as despesas

Isabel Jonet salienta ainda o aumento de pedidos de auxílio vindos de pessoas que têm emprego, mas cujo salário já não lhes chega para pagar as despesas correntes.

Os números da AMI, por seu lado, indicam 85 por cento das pessoas que recorrem à organização vão à procura de ajuda alimentar e, dessas, 90 por cento dizem que o fazem por razões financeiras, disse Fernando Nobre.

O médico que dirige a organização presente já em mais de 40 países de todo o Mundo considera que a questão só se resolve com a participação de toda a sociedade, desde os indivíduos até às instituições e às empresas.

«Apelo a toda a sociedade para que não caia no facilitismo dos lucros», afirma, salientando o papel das empresas, de quem reivindica mais responsabilidade social.

«Só tornando a questão [da pobreza] uma causa nacional é que se pode inverter a situação», insiste Fernando Nobre.
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