Alerta para efeitos dos «cocktails» de poluentes - TVI

Alerta para efeitos dos «cocktails» de poluentes

  • Portugal Diário
  • 26 out 2007, 14:47

Investigadora defende estudo urgente de danos causados por diversos poluentes

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Uma investigadora da Faculdade de Medicina de Lisboa defendeu hoje a necessidade de uma aposta, com «a máxima urgência», em investigações que apurem os efeitos dos «cocktails» de poluentes desenvolvidos no organismo humano e no ambiente.

Ao intervir em Viseu, nas VI Jornadas Técnicas Internacionais de Resíduos, Fátima Reis deu conta dos resultados alcançados pelo Instituto de Medicina Preventiva daquela faculdade no que respeita à monitorização, nos últimos oito anos, do funcionamento da incineradora da Valorsul, em Lisboa.

No final, garantiu que os resultados apontam que a unidade de incineração está «perfeitamente controlada», não se tendo verificado maior exposição aos poluentes ou maior ocorrência de patologias.

No entanto, questionou até que ponto é que os poluentes emitidos pelas centrais de incineração, «embora a níveis muito reduzidos», juntamente com os emitidos por outras fontes, «não podem ter efeitos na saúde».

Fátima Reis lembrou que, além das incineradoras, há diversas fontes de poluentes, nomeadamente a indústria transformadora, o tráfego automóvel, os incêndios e a queima de lenha e carvão, entre muitos outros, criando um verdadeiro «cocktail».

«Dentro do organismo como é que se comportam estes poluentes? Eles com certeza que não estão em compartimentos estanques, misturam-se uns com os outros», frisou.

Segundo Fátima Reis, esses efeitos «por enquanto não estão identificados, mas a evidência científica mais recente aponta no sentido de que podem ser graves».

«Daí, a minha recomendação para que haja o mais possível um investimento na investigação, exactamente para nós vermos até que ponto é que os níveis que agora nos deixam mais ou menos descansados serão de nos deixar descansados futuramente», justificou.

A investigadora referiu que, «até agora, tudo se fazia ao nível dos poluentes individuais, mas cada vez mais se percebe que não se pode ficar por aí», porque «a dinâmica dos poluentes, os cruzamentos, as sinergias e reacções que se processam podem ter resultados ainda desconhecidos, quer ao nível do ambiente, quer do próprio organismo».

Por outro lado, considerou que podem estar a ser subvalorizados efeitos dos poluentes na saúde, uma vez que «praticamente todos os epidemiologistas ligados a estas temáticas» se têm preocupado em investigar «os efeitos na saúde que se demonstraram ser mais relevantes, como os casos do cancro e das malformações».

«Será que não estamos a privilegiar muito estas linhas de investigação em detrimento de outras, por exemplo, ao nível de problemas renais e de fígado? Estes podem ter também relevância em termos do número de pessoas afectadas, ainda que não sejam tão fatais, nem tenham tanto impacto do ponto de vista de agendas políticas», acrescentou.

Fátima Reis contou que, em Março deste ano, participou num workshop promovido pela Organização Mundial de Saúde, onde foi chamada a atenção para esta questão.

Além da aposta nesta investigação de questões que considera estarem ainda em aberto, defendeu também que os países devem impor a «tolerância zero» para as más práticas da gestão dos resíduos.

«Se temos uma estratégia de «3R» (reduzir, reciclar, reutilizar) que devia estar em pleno e não está, temos que fazer o exercício da cidadania. Não podemos permitir que haja algum fechar de olhos, assobiar para o lado, porque é um problema que tem implicações na saúde», acrescentou.
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