Loures: «Violência pode repetir-se» - TVI

Loures: «Violência pode repetir-se»

Vestígios dos confrontos no Bairro da Quinta da Fonte

Moradores garantem que «a tensão é muito grande» e o caso pode «não ficar por aqui»

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Actualizado às 00h34

Ao final da noite de sábado, segundo avançava a Sic Notícias, que tinha um jornalista na zona da Quinta da Fonte, várias famílias de etnia cigana abandonaram as suas casas «com medo».

Várias dessas famílias terão mesmo invadido uma quinta na zona de Fetais, com habitações sociais prontas a habitar, mas sem moradores. A polícia de intervenção esteve no local e conseguiu retirá-las.

Sábado sem confrontos

Uma aparente calma reinou este sábado na Quinta da Fonte, Loures, palco de confrontos com armas, na quinta e sexta-feira, entre a comunidade cigana e africana. Mas para os moradores, «a tensão ainda é muito grande» e as «cenas de violência» poderão repetir-se. «A tensão é muito grande e não acredito que isto se fique por aqui», disse um dos moradores à agência Lusa.

A origem dos tiroteios parece ter sido uma discussão entre um casal, relatou à Lusa Ivo Tavares, testemunha dos incidentes de quinta-feira à noite.

«O homem começou a bater na mulher e apareceu o irmão [do homem] todo alterado e começou a disparar para o pessoal que estava aqui», explicou.

Nesse momento, estava a decorrer uma festa de aniversário e mais elementos da comunidade cigana terão descido até à avenida principal do bairro para auxiliar os dois irmãos que, entretanto, se tinham envolvido em confrontos com a comunidade africana.

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Segundo Ivo Tavares, a tensão entre os dois grupos foi aumentando e tudo acabou num violento tiroteio e com 10 pessoas feridas.

Mas Ivo Tavares diz que esta foi uma situação pontual e que normalmente o convívio entre as duas comunidades é «saudável». «Acho errado estarem a dizer que isto foi uma rixa entre dois grupos rivais, isso é mentira, não é justo fazerem essas divisões», reitera.

«Já houve mais tiroteios»

Para este jovem, a culpa maior pertence à polícia que não soube intervir a tempo.

«A polícia tem uma atitude discriminatória connosco, pois pensa que a culpa é sempre dos "blacks", e com eles [ciganos], não querem saber», acusa.

Já para um casal de etnia cigana que falou à Lusa, e prefere não ser identificado, existe uma grande rivalidade étnica no bairro «que já vem de há muitos anos». «A tensão é constante e já houve mais tiroteios sem ser este», dizem.

Para este casal, um patrulhamento permanente seria o ideal: «24 horas por dia, pois só quando a polícia está cá é que nos sentimos seguros».

Este casal disse mesmo que planeia sair do bairro, pois entendem não existir «condições para ficar mais tempo».

O ambiente vivido na mercearia do «Johny», como é conhecido no bairro, era esta tarde de grande apreensão.

No bairro «não existe lei»

Em declarações à Lusa, alguns clientes foram peremptórios em afirmar que no bairro «não existe lei».

«Já fomos muitas vezes assaltados e ninguém faz nada», acusam, acrescentando que todos os anos é a mesma coisa, chegando mesmo a ser frequente «encontrarem-se cartuchos de balas no chão».

Para estes moradores, o aumento de policiamento não é suficiente e por isso reclamam uma esquadra da PSP no bairro. «A esquadra da PSP mais próxima é em Sacavém, a cinco quilómetros daqui», referem.

Entretanto, cerca das 17h foi realizada mais uma diligência policial numa casa do bairro, um procedimento a repetir para neutralizar possíveis ameaças, explicou à Lusa o comissário Resende, comandante da PSP de Loures. No local permanece um patrulhamento reforçado da PSP com intuito de evitar novos confrontos.
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