O professor que afinal era uma jovem «lindíssima» - TVI

O professor que afinal era uma jovem «lindíssima»

Sociedade

Homem está em julgamento por ter aterrorizado vítima

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Mário Miguel Mendes, professor universitário que está a ser julgado por suspeitas de infernizar a vida de várias pessoas, continua ausente do tribunal com atestado médico, mas foram muitos os pormenores da sua acção persecutória apresentados na sessão de hoje, escreve a Lusa.

Mário Miguel Mendes fazia-se passar por Sofia Sá Guimarães, uma mulher «lindíssima», segundo a foto que enviava às suas vítimas, com «sotaque de Cascais», mas também pelo seu suposto irmão, Francisco Guimarães, «com sotaque alentejano».

A dúvida persistiu em tribunal e a juíza questionou o jovem Vasco Pereira: «Nunca notou que as vozes eram parecidas?». Vasco assumiu que sim, mas não achou estranho, «como eram irmãos...»

A juíza não deixou passar a aparente ingenuidade da vítima, nomeadamente quando viu a foto: «Nunca pensou que era um achado? Uma mulher bonita demais para estar numa situação daquelas? Solteira, loira, de olhos azuis, com ar de nórdica...». Vasco reconhece que não desconfiou. Sentiu-se na sala de tribunal os olhares cúmplices de todas as mulheres presentes: homens...

Vasco Pereira contou todos os pormenores, desde o início da relação e exactamente quando começou o inferno. A 8 de agosto de 2007 Vasco regressou de uma viagem ao estrangeiro e já tinha decidido não atender mais chamadas de «Sofia», mas quando ligou o telemóvel tinha 120 mensagens e dezenas de chamadas não atendidas.

Quando atendeu telefonema do suposto irmão, foi ameaçado, por estar a ignorar a sua alegada irmã, e avisando que ela ia suicidar-se, mas Vasco nesta fase já estava decidido a largar aquela relação e, por isso, disse «olha, que se mate!»

A partir daí começou o inferno. Vasco nunca mais atendeu o telefone, só inadvertidamente, quando não conhecia os números e trocou de telemóvel. Foram então enviadas cartas e «email» para colegas de trabalho e para familiares com as mais horríveis difamações, até dizendo que Vasco tinha sida, perseguições, ameaças.

Um dia, estava no trabalho e começam a chegar, de meia em meia hora, enormes coroas de flores, fúnebres, com a mensagem «repousa em paz». Encomendadas feitas em seu nome, foi grande o embaraço e toda a confusão criada com as floristas.

No entanto, uma das floristas deu a Vasco uma pista que foi útil para a descoberta do caso, pois, como foi dito, «já em tempos fizeram uma brincadeira dessas a um comissário da PSP da Penha de França».

O professor universitário, apesar das trocas de telefone, conseguia sempre descobrir os novos números de Vasco e insistia com as ameaças, sempre apelando para que reatasse a relação com a referida «Sofia». Vasco tem todas as datas na cabeça, apesar de se estar a falar de situações ocorridas entre 2004 e 2008.

O seu advogado não tem dúvidas: «Foi traumatizante, aquele rapaz sabe exactamente a hora e o dia de cada um dos momentos».

A própria juíza levantou a questão no julgamento, como conseguia memorizar todas as datas, mas Vasco não hesitou um segundo na resposta: «Foi algo muito traumático que ficou gravado, posso dizer-lhe que sei de cor todas as matrículas dos carros destes senhores que estão sentados aqui atrás», disse, referindo-se aos detectives, dois agentes da PSP e dois inspectores da PJ, também arguidos no processo.

O julgamento, a decorrer na 2.ª Vara Criminal no Campus da Justiça de Lisboa, prossegue na quinta-feira ainda com a audição de Vasco Pereira e seus tios.
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