Hoje é dia de Christine. E desta vez vai ter mesmo de se explicar aos deputados sobre a TAP - TVI

Hoje é dia de Christine. E desta vez vai ter mesmo de se explicar aos deputados sobre a TAP

Salário de três milhões de euros da CEO da TAP aprovado. "Estado é pessoa de bem e cumpre o que foi acordado", diz Galamba

O percurso foi de polémicas. Mas foi o parecer da IGF, a considerar inválida a indemnização a Alexandra Reis, que ditou o despedimento de Christine Ourmières-Widener. A francesa tem-se segurado como pode ao cargo. E promete contar a sua versão da história, até ao último ponto

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Na última vez que Christine Ourmières-Widener foi ao Parlamento, a 18 de janeiro, a francesa era, sem sombra de dúvida, a presidente executiva (CEO) da TAP. Mas, nesta nova ida à casa da democracia, a certeza quanto ao cargo já não existe. Depois de ser demitida em praça pública pelo Governo, tem um pé fora da empresa, e segura o mais que pode o pé que ainda tem na transportadora, contestando por vários caminhos a decisão.

E tudo por causa da polémica indemnização de meio milhão de euros paga a Alexandra Reis para deixar a empresa. Em janeiro, Christine argumentava que “a única razão” que levou à saída da administradora foi o facto de existir um “desalinhamento na execução do plano de reestruturação”.

Entretanto, a história adensou-se. E há perguntas cuja resposta está cada vez mais difícil: afinal, quem sabia mesmo do processo de negociação para esta saída? A gestora francesa tem insistido que tudo foi feito às claras, com o presidente do conselho de administração Manuel Beja, o Governo e o administrador financeiro Gonçalo Pires a par de tudo desde o primeiro minuto. Mas há outras versões: Gonçalo Pires já foi ao Parlamento dizer que nunca esteve envolvido, só sabendo informalmente do acordo uns dias antes de ele se efetivar.

Alexandra Reis: despediu-se ou foi despedida?

Esta clarificação vai ser a primeira prioridade para a audição prevista para esta tarde, na comissão parlamentar de inquérito à TAP, a partir das 17:30. “Teremos várias questões sobre o caso de Alexandra Reis, com novas informações relativas aos governantes e ao CFO [administrador financeiro]”, traça Bernardo Blanco, deputado da Iniciativa Liberal.

“Depois da audição do CFO, vamos querer perceber se ele teve ou não conhecimento permanente do que se ia passando”, completa Filipe Melo. O Chega deseja ainda clarificar a relação da francesa com Manuel Beja, para perceber porque motivo falharam as comunicações com o Estado, “quando deveria ser ele o interlocutor”.

Uma das questões que Christine Ourmières-Widener deixou por responder em janeiro era uma das mais importantes: Alexandra Reis demitiu-se ou foi demitida? Os deputados prometem voltar a este confronto.

Isto porque, numa das audições prévias, do inspetor-geral de Finanças, ficou claro que a presidente executiva da TAP tentou retirar competências a Alexandra Reis, considerando depois que não estavam reunidas condições para mantê-la na equipa.

Relação complicada com o Governo?

Mas há outro tema forte que os deputados vão abordar: qual é a relação da gestão da empresa com o Governo? Os liberais, com Bernardo Blanco, prometem trazer para cima da mesa a questão da privatização, “que já está a acontecer há praticamente um ano, apesar de não haver nada formal”.

Christine, a avaliar pelas últimas informações que foram sendo tornadas públicas, tem muito para partilhar sobre a relação com o Estado, que assegura estar a par de tudo desde o primeiro minuto. O mesmo Estado que acusa de demiti-la por “pressa política”, em conferência de imprensa, sem a ter ouvido previamente.

Por falar em conferências de imprensa, a gestora francesa terá sido impedida de apresentar publicamente os primeiros lucros na empresa, antecipando metas do plano de reestruturação. Soube-se, na audição de Gonçalo Pires, que uma apresentação “discreta” foi uma sugestão do administrador financeiro, que foi confirmada pela tutela. Mas os deputados não deixarão de tentar perceber se existiram pressões políticas neste sentido.

“Despedimento ao vivo”

Pela comissão de inquérito à gestão da TAP deverão também passar muitas das polémicas que foram marcando o mandato de Christine Ourmières-Widener, como as sucessivas greves, a contratação de uma amiga para diretora, a encomenda de BMW, os vales da Uber ou a mudança de sede para o Parque das Nações. Tudo isto enquanto a empresa enfrenta um plano de reestruturação e há trabalhadores com cortes nos salários.

A francesa foi-se aguentando em todas elas. Mas, no início de março, com o relatório da IGF, a confirmar que a indemnização milionária não estava conforme a lei, a saída tornou-se inevitável. O Governo tem-se mantido em silêncio sobre quando será o último dia em funções, apesar de ter apontado imediatamente o substituto.

Um “processo de despedimento ao vivo” que o PSD considera “bizarro”. “O processo TAP está rodeado de mentiras, omissões, opacidade, ilegalidade e muita, muita irresponsabilidade política”, lamenta o deputado Paulo Rios de Oliveira.

O ministro das Infraestruturas, João Galamba, já descartou a possibilidade de o Governo acionar uma cláusula contratual para pagar a Christine Ourmières-Widener 18 mil euros por mês, nos primeiros quatro meses após o termo do mandato, para a gestora não trabalhar em empresas concorrentes da TAP.

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