Bush quer «chumbo» de genocídio arménio - TVI

Bush quer «chumbo» de genocídio arménio

  • Portugal Diário
  • 10 out 2007, 17:59

EUA: Presidente pretende salvaguardar interesses na Turquia

A administração norte-americana pressionou hoje o congresso a «chumbar» legislação que classifica de genocídio a morte de 1,5 milhões de arménios pelo Exército otomano entre 1915 e 1917, para não prejudicar as relações com a Turquia, noticia a Lusa.

«A aprovação deste pacote será muito prejudicial para as relações com o nosso aliado da NATO no combate ao terrorismo global», disse o presidente norte-americano, George W. Bush, aos jornalistas, em Washington.

«Lamentamos profundamente o trágico sofrimento por que passou o povo arménio a partir de 1915», mas o texto «não dá uma resposta conveniente ao massacre histórico», acrescentou.

A secretária de Estado, Condoleezza Rice, e o seu colega da Defesa, Robert Gates, entregaram uma petição conjunta na Casa Branca antes de a Comissão dos Negócios Estrangeiros do parlamento começar a votar a legislação a que se opõe Bush.

Aviso de Ancara

Ancara - que na altura dos factos era o Império Otomano, porque a República só seria proclamada em 1923 - avisou Washington de que, se esta legislação for aprovada, as relações entre os dois países ficarão gravemente afectadas.

A Turquia, membro fundador da Aliança Atlântica (NATO), é o principal aliado dos Estados Unidos para as operações militares no Médio Oriente.

Rice partilha da posição de Ancara e Gates precisou que 70 por cento da carga e pelo menos um terço do combustível com destino ao Iraque passam pela Turquia.

«O acesso aos aeroportos e rede rodoviária turca estarão em risco se a legislação passar e Ancara reagir como é de esperar», insistiu Gates.

O secretário da Defesa adiantou que 95 por cento dos blindados anti-minas com destino ao Iraque estão a seguir via Turquia.

O braço-de-ferro de Ancara com a administração Bush surge depois de o parlamento turco ter aprovado, na terça-feira, uma operação militar transfronteiriça no Curdistão iraquiano (norte) para «limpar» a resistência de pelo menos 3.500 guerrilheiros separatistas entrincheirados em «santuários» onde recebem apoio local.

O Partido dos Trabalhadores do Cusdistão (PKK) - cujo líder, Abdullah Ocalan, cumpre prisão perpétua numa cadeia turca de alta segurança - é considerado terrorista por Ancara, pelos Estados Unidos e União Europeia (UE).

Desde os alvores dos anos 1980, os combates entre o exército turco e o PKK já fizeram cerca de 36 mil mortos. Os guerrilheiros recrudesceram a sua acção desde o princípio do ano, que culminou em dois recentes atentados sangrentos.

O exército turco tem estacionados cerca de 200 mil homens e sofisticado equipamento bélico no sudeste da Anatólia, e está há meses pronto para uma incursão no Curdistão Iraquiano que só ainda não ocorreu por não ter «luz verde» do governo e esbarrar com a oposição frontal dos Estados Unidos.

Para Washington, uma ofensiva militar turca abriria uma frente de guerra na região mais estável do Iraque.

Uma história com duas versões

A agência noticiosa turca Anatólia, citando um responsável político que deu voz à versão oficial sobre o alegado genocídio arménio, diz que se trata de «uma mentira histórica e imperialista à escala internacional».

De acordo com a versão oficial turca, independentistas arménios, com apoio militar russo, tirando partido do envolvimento do debilitado sultanato na I Guerra Mundial, invadiram a Anatólia em 1915 matando cerca de 300 mil soldados otomanos, mas acabaram por ser rechaçados, com baixas em número idêntico às infligidas.

A Arménia tem uma versão diferente: o genocídio de 1,5 milhões de arménios civis - e não 300 mil militares - foi uma vingança contra o separatismo da então província otomana.
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