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Urânio: Zonas da Urgeiriça requalificadas até 2012

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Durante visita às instalações da Empresa Nacional de Urânio, trabalhadores lembraram perigos a que estavam sujeitos

A Empresa de Desenvolvimento Mineiro (EDM) pretende ter em 2012 ambientalmente recuperadas todas as zonas da Urgeiriça, freguesia de Canas de Senhorim, no concelho de Nelas, que ficaram contaminadas devido à exploração de urânio, noticia a Lusa.

A visita às instalações da Empresa Nacional de Urânio (ENU) na Urgeiriça - em que participaram deputados do PSD, PCP e BE - neste sábado, serviu para um representante da EDM avançar os projectos em curso, enquanto antigos trabalhadores iam lembrando os perigos a que estiveram sujeitos.

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Matos Dias, que no passado foi director e responsável pelo departamento de Geologia da ENU e actualmente é consultor da EDM, contou que depois da selagem da Barragem Velha (onde eram depositados resíduos da exploração do urânio), é necessário recuperar os restantes pontos críticos da Urgeiriça, um trabalho já em curso e que deve ficar concluído em 2012.

Um deles é o Poço de Santa Bárbara, uma mina que atingiu 520 metros de profundidade, com 19 galerias, e que actualmente «já está a drenar nas condições naturais, sem bombagem, ainda que a água não esteja em condições de ir directamente para as linhas de água, devido aos níveis extremamente elevados de rádio».

Há já também trabalho muito visível na zona da Oficina de Tratamento Químico, «que é extremamente delicada», estando o terreno a ser tapado com argila para evitar a exalação do radão, «um gás que se escapa por todo o lado».

Jardim-escola ao lado das instalações da ENU

Durante a visita, o porta-voz dos antigos trabalhadores da ENU, António Minhoto, ia recordando situações que agora culpa por muitas das doenças e mortes de antigos colegas.

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«Os camiões de transporte de minério chegavam aqui e deixavam cair minério. Vinha a chuva e ficava amassado, vinha o sol secava, vinha o vento e levava as poeiras por todo o lado», contou, ainda na estrada fora das instalações.

Uns metros à frente, António Minhoto apontou para o exaustor da secção de secagem.

Matos Dias admitiu que, até meados da década de 80, havia desconhecimento da perigosidade da radioactividade, lembrando que levavam os filhos para um jardim-escola mesmo colado às instalações da ENU.

«A única coisa que me lembro de terem alertado era de não podermos comer agriões da mina da Freixiosa», contou o técnico, sublinhando que «mesmo internacionalmente não havia informação».

Cem mortes por cancro

António Minhoto lembrou também o hábito frequente de acenderam fogueiras com a madeira velha, contaminada, retirada do interior do Poço de Santa Bárbara, para fazerem os grelhados para o seu almoço.

Ao longo de toda a manhã, António Minhoto recordou colegas falecidos com cancro - que estima entre 100 e 110 - muitos dos quais não trabalharam no interior das minas. «Desenhadores, que não andavam nas minas, morreram com cancro. Para a secção de geologia levavam sacos para os técnicos analisarem qual era a grandeza do mineral, que ficavam lá nos gabinetes horas, dias», contou.

Os antigos trabalhadores têm exigido ao Governo que mesmo aqueles que não tinham vínculo à ENU na data da sua dissolução sejam abrangidos por um decreto-lei que os equipare a trabalhadores de fundo de mina, dando benefícios na idade da reforma, e o pagamento de indemnizações aos familiares daqueles que morreram de doenças relacionadas com a exposição à radioactividade.

A 7 de Março, o PS chumbou na Assembleia da República os projectos de lei do BE, PCP e PSD que davam resposta a estas reivindicações.

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