O candidato presidencial Manuel Alegre afirmou esta segunda-feira ter uma visão «poética» de Portugal, num discurso em que evocou personalidades da História nacional que lutaram de «armas na mão e caneta em punho» pela liberdade contra o autoritarismo.
Na sua intervenção, o ex-vice-presidente da Assembleia da República salientou que Eduardo Lourenço, num dos seus ensaios sobre a sua escrita, fala da «nostalgia europeia», noticia a Lusa.
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«Eu tenho essa nostalgia. A minha visão de Portugal é uma visão poética, uma visão integradora, em que se misturam poemas, batalhas, revoluções», assumiu o candidato presidencial.
«Claro que uma tal visão não podia deixar de ter consequências na minha vida e na minha escrita. Também eu, em certas circunstâncias, usei a caneta como arma. E até hoje tenho vivido a conjugar acção e literatura. Não é uma cisão. Essa aparente divisão é, ao fim e ao cabo, a minha própria unidade. Creio, aliás, que vida e escrita são inseparáveis. E que ninguém escapa à sua circunstância histórica», considerou.
Manuel Alegre saiu também em defesa da língua portuguesa contra a «globalização desregulada». Na perspectiva do candidato a globalização «desregulada não tem apenas uma lógica de economia única», possuindo, igualmente, «uma lógica de cultura e língua única, ou pelo menos dominante».
«Escrever ou falar as línguas nacionais começa a ser um acto de resistência», considerou.
Na parte final do discurso, Alegre colocou em confronto a escrita poética e a perspectiva de visão da vida baseada na lógica do mercado.
«Cada língua, como escreveu George Steiner, é um acto de liberdade que permite a sobrevivência do homem. É certo que hoje os novos oráculos não estão em Delfos, estão nas bolsas e nos mercados. Mas a fonte de Castália não secou. A escrita poética preserva o sagrado e é uma forma de resistência contra o grande mercado do mundo e a degradação da vida», concluiu.
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