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«Achei que era uma aldrabice»

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Entrevista: Ganhou o Prémio Pessoa, mas nem queria acreditar. Historiadora, Irene Pimentel está habituada ao sossego da investigação. Mas é aí que trilha caminhos polémicos, cada vez mais procurados: Salazar e o Estado Novo vendem livros Premiada «revela notável esforço de objectividade», frisa júri

Ligaram-lhe na noite de quinta-feira. António Barreto passou o telefone a Francisco Pinto Balsemão por volta da hora de jantar. «E disseram-me que ganhei o Prémio Pessoa! Ainda pensei que fosse uma aldrabice, mas eram as vozes deles, portanto só podia ser verdade».

Irene Pimentel é historiadora e, este ano, publicou «História da PIDE», «A Mocidade Portuguesa no Feminino» e os «Judeus em Portugal», além da tese de doutoramento. Um ano em cheio que acaba em beleza com um dos mais importantes galardões do país, atribuído anualmente a uma figura de nacionalidade portuguesa com «intervenção relevante na vida científica, artística ou literária».

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O prémio, no valor de 50 mil euros, foi anunciado esta sexta-feira, e Irene Pimentel «ainda não realizou» o que lhe aconteceu.

A historiadora não se esquiva a temas polémicos e difíceis, sempre com «esforço de rigor intelectual e objectividade académica», frisa o júri do Prémio Pessoa.

Mas esses temas «polémicos», que passam pelo Estado Novo e Salazar, estão cada vez mais presentes no escaparates das livrarias. «As editores fazem apostas arriscadas, com livros académicos e historiadores mais novos», e os leitores estão atentos à historiografia contemporânea. Sedentos, mesmo, de estórias sobre Salazar ou as organizações que o rodearam enquanto foi presidente do Conselho.

Tabus e verdades desfeitas

«Há sempre tabus enquanto as pessoas envolvidas, num determinado período histórico, ainda estão vivas». Irene Pimentel não se esquiva, aliás, à análise do seu próprio percurso e das suas «verdades feitas»: «Estive ligada às organizações de extrema-esquerda quando era nova. Mas não sou saudosista desses tempos» de juventude.

E reconhece que a investigação que levou a cabo desfez «mitos e verdades feitas» com os quais vivia, mas o que a premiada gosta «é de investigar». Com «alguma neutralidade», sublinha: «A objectividade pura é impossível, mas o historiador não tem moral».

Durante a entrevista telefónica com o PortugalDiário, o telefone tocou e o dia, contou, foi longo e agitado. Irene Pimentel sabe da exposição mediática que o galardão lhe trará nos próximos tempos. «Mas espero que não demore muito a voltar à minha vida normal: gosto de estar sossegadinha a ler, a investigar, no meio dos arquivos, a fazer história. Assim é que me sinto bem».

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