Já fez LIKE no TVI Notícias?

Maddie: «Parar para pensar»

Relacionados

Obra que reflecte sobre a papel dos media no caso está nas livrarias

O desaparecimento de Madeleine McCann a 3 de Maio passado tornou-se mais do que um caso de polícia e assumiu contornos mediáticos inéditos em Portugal. Seis meses depois, o jornalista Luís Castro lançou um livro em que apresenta 24 visões diferentes do fenómeno, que alimentou primeiras páginas de jornais e aberturas de rádios e televisões em todo o mundo. Para o coordenador do Telejornal da RTP, era tempo de «parar para pensar» sobre o tema. A obra «Por que adoptámos Maddie» foi apresentada esta segunda-feira à noite numa livraria, em Lisboa.

Pouco tempo antes de se dirigir às dezenas de pessoas que se juntaram na livraria Bertrand do centro comercial Vasco da Gama, Luís Castro explicou ao PortugalDiário que algumas das questões o levaram a questionar 24 especialistas de diversas áreas, de juristas a políticos, de jornalistas a sociólogos.

PUB

«Ao longo destes seis meses apontámos o dedo às polícias, aos pais, aos assessores. Então e nós? Será que também não temos responsabilidade neste impacto que a notícia teve? Será que não adoptámos aquilo que é conhecido no jornalismo como a estrutura circular da informação e nos alimentámos a nós próprios? Será que também não devemos parar para pensar?», apontou.

«A notícia antes de ser nacional já era internacional»

Para o autor, o livro é um ensaio de distanciamento e reflexão a frio sobre opções jornalísticas que foram tomadas a quente, de forma particular no início do caso. «Trata-se de tentarmos pairar sobre nós e olharmos para as nossas decisões, para que no futuro alguns dos erros que cometemos não os venhamos a repetir».

No crescimento exponencial mediático do caso, Luís Castro admite: «Nós [media portugueses] fomos atrás da imprensa inglesa, que acabou por determinar a nossa agenda». Mas sublinha um atenuante: «A notícia antes de ser nacional já era internacional e nós fomos apanhados. Não estávamos preparados para esta invasão de jornalistas estrangeiros, para estas assessorias políticas, para estes códigos emocionais que se geraram em torno ao acontecimento».

PUB

Para o jornalista este foi um caso transversal. Falou-se tanto nos «cafés», como nos «restaurantes de luxo», disse. Castro assumiu as falhas da comunicação social, mas também não poupou o público. «É cinismo quando a opinião pública diz que nós jornalistas também exagerámos. Nós fomos dando aos públicos aquilo que os públicos queriam e quase nos obrigavam a dar».

O autor revelou, no entanto, um desejo pernicioso dos media, que colocou alguma pressão sobre os investigadores. «Quisemos que a justiça andasse ao nosso ritmo».

«Telenovela que passou simultaneamente nos três canais»

Este ponto também foi tocado pelo presidente da Entidade Reguladora da Comunicação, Azeredo Lopes, que esteve a cargo da apresentação da obra. «O tempo jornalístico é diferente do tempo da investigação», afirmou, descrevendo «Por que adoptámos Maddie» como um acto de «coragem». «Faz análise, faz auto-análise, faz quase psicanálise», considerou.

O jornalista da RTP, José Rodrigues dos Santos, que também participou no livro, disse ao PortugalDiário que este livro se trata de «um exercício normal» de autocrítica relativamente a um caso onde existiu uma «cobertura mediática excessiva». Mas disse não acreditar que o exemplo do chamado caso Maddie venha a funcionar como uma vacina para evitar a repetição de excessos a nível de mediatização. «No fim do dia os meios de comunicação funcionam sempre da mesma maneira».

O sociólogo Paquete de Oliveira, provedor do canal público de televisão e outro dos intervenientes da obra, sintetizou ao PortugalDiário o caso, recorrendo a uma comparação irónica. «É uma telenovela que passou simultaneamente nos três canais e que, por isso mesmo, é a mais barata dos últimos tempos».

PUB

Relacionados

Últimas