Analistas: é preciso apertar ainda mais o cinto - TVI

Analistas: é preciso apertar ainda mais o cinto

Debate quinzenal [INACIO ROSA / LUSA]

Economistas dizem que Governo já está a preparar a opinião pública porque sabe que terá de tomar mais medidas de austeridade

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As garantias dadas pelo Governo sobre o cumprimento do défice este ano terão de ser acompanhadas de novas medidas de austeridade para convencerem os parceiros europeus, consideram os analistas financeiros contactados pela Lusa.

«Em relação a esta reunião de quarta-feira, não me parece que Sócrates tenha sido convidado só para lhe darem boas notícias. Se forem autorizadas condições de alargamento do fundo para que Portugal possa recorrer, isso implicaria a exigência ao Governo de medidas adicionais», disse à Lusa o director de investimentos do Banco Carregosa, João Pereira Leite.

De acordo com o especialista, «quando se diz que esta reunião vai ser para preparar a reunião dos líderes europeus de 11 de Março, mesmo que haja boas notícias no sentido do alargamento do fundo, serão impostas condições adicionais para que Portugal possa recorrer a essa ajuda».

Sócrates reúne-se amanhã com chanceler alemã

Assim se explica que José Sócrates, que na quarta-feira se vai reunir com Angela Merkel, tenha dito, dois dias antes, que Portugal fará «tudo o que for preciso» para cumprir o défice de 4,6% este ano, incluindo novas medidas de austeridade.

No entender de João Pereira Leite, o Governo, ao falar neste tema, está «a dar uma nota ao mercado que as medidas vão mesmo ser reforçadas».

Teixeira dos Santos «não iria neste momento dizê-lo com a visibilidade que o fez se não estivesse convicto que terá mesmo de o fazer», comentou o economista, segundo o qual esta posição do ministro «não é inocente», na medida em que «é já para preparar a opinião pública e os investidores internacionais para novas medidas».

A economista chefe do BPI, Cristina Casalinho, tem a mesma interpretação: «Trata-se de uma mensagem clara às instâncias europeias. É obvio que as autoridades portuguesas, ao reforçarem o seu empenho e o seu compromisso com as metas estabelecidas, estão a dar indicações às autoridades europeias que mantêm o compromisso de envidar todos os esforços para cumprir os compromissos de redução da despesa».

Porta aberta à negociação

Portugal «está a querer mostrar o seu compromisso com o rigor orçamental e quer dar garantias aos parceiros europeus, e à Alemanha em particular, que há empenho e fará o que for necessário», disse, por seu turno, Filipe Garcia, administrador da Informação de Mercados Financeiros (IMF).

Segundo considerou, «Teixeira dos Santos quer mostrar, por um lado, esse compromisso, mas por outro lado, está a transferir o ónus para os países do centro ao dizer que quer um regulamento para impostos e orçamento», conforme o governante defendeu segunda-feira em Lisboa.

Ora, «isto abre uma porta para a negociação. Ao contrário da Irlanda, que nunca abriu as portas a uma harmonização fiscal, Portugal abre essa porta», considerou Filipe Garcia, reportando-se à proposta alemã de mais harmonização fiscal, incluída no pacto de competitividade, que é encarado como uma moeda de troca para permitir a flexibilização dos instrumentos do Fundo.

O recurso ao fundo de garantia europeu, no entanto, não basta por si só, conclui: «As taxas [de juro pelo empréstimo] são muito altas, ajudam mais ao problema do que à solução».
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