UTAO: ajustamento do setor privado «superior» ao do Estado este ano

O esforço de redução do défice externo este ano será conseguido sobretudo graças ao setor privado, afirmam os técnicos de apoio à comissão parlamentar do Orçamento.

Numa análise ao segundo orçamento retificativo do ano, a Unidade Técnica de Apoio Orçamental (UTAO) projeta que a redução do défice de Portugal com o exterior vai ser «superior à inicialmente esperada»: deverá cair o equivalente a 4% do PIB, em vez dos 2,5% inicialmente previstos.

O Governo previa que esta redução «viesse exclusivamente das administrações públicas, por diminuição do défice público de 7,5% para 4,5% do PIB», lê-se no documento da UTAO. No entanto, em vez disso o défice «corrigido de medidas temporárias» cifrou-se nos 6%.

O contributo do setor público para a redução do défice externo acabou assim por ser de apenas 1,5%.

Os outros 2,5% vieram do setor privado, através de uma redução no investimento e de um aumento na poupança, explica a UTAO: «As perspetivas de redução do rendimento futuro e o aumento da incerteza terão induzido uma alteração das medidas de consumo e de investimento privados, incentivando a poupança por motivos de precaução».

Esta redução do défice externo, que é um dos objetivos da troika, poderá ter sido «demasiado brusca», afirmam os técnicos do parlamento: «A condução do duplo e simultâneo objetivo do [programa da troika] de consolidação orçamental e redução do endividamento público e privado pressupõe um equilíbrio muito instável, o qual poderá ter tido como contrapartida um efeito contracionista demasiado forte na procura interna, com efeitos na consolidação orçamental em 2012».