Morreu Alexei Navalny: "O regime russo é o único responsável por esta morte trágica" - TVI

Morreu Alexei Navalny: "O regime russo é o único responsável por esta morte trágica"

Alexei Navalny

Estava detido "numa colónia penal de regime especial", foi dado como morto esta sexta-feira. Explicação oficial: sentiu-se mal depois de uma caminhada. Morreu o principal opositor de Putin. Morreu Alexei Navalny. Ele que foi repetidamente colocado de castigo numa cela minúscula devido a alegadas infrações, como abotoar incorretamente o seu uniforme prisional

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O principal opositor de Vladimir Putin foi dado como morto pelas autoridades russas. A notícia foi avançada pela Reuters, que cita fonte dos serviços prisionais russos da região de Yamalo-Nenets, onde Alexei Navalny estava a cumprir pena.

Num comunicado publicado no site do Serviço Federal Penitenciário de Yamalo-Nenets pode ler-se que Navalny "tinha-se sentido mal" depois de uma caminhada esta sexta-feira e "perdeu a consciência quase de imediato".

A mesma fonte adianta que foram chamadas equipas de socorro mas que os profissionais de saúde foram incapazes de ressuscitar o principal opositor de Vladimir Putin. O óbito foi declarado no local. A agência russa TASS avançou entretanto que Vladimir Putin já foi informado pelo Kremlin.

O assessor de Navalny, Leonid Volkov, disse no X que existe uma gravação em que elementos das autoridades russas confessam ter matado Alexei Navalny, ressalvando que não tem qualquer forma de verificar a veracidade desta acusação.

"As autoridades russas publicam uma confissão de que mataram Alexey Navalny na prisão. Não temos qualquer forma de o confirmar ou de provar que não é verdade. O advogado de Navalny está a caminho de Kharp", pode ler-se.

“A ideia de que Putin se contentaria era ingénua"

Numa das últimas declarações nas redes sociais, datada de 9 de janeiro e publicada a partir da prisão, Navalny disse que os guardas da prisão de Kharp o acusaram de se recusar a “apresentar de acordo com o protocolo” e que lhe impuseram sete dias na solitária.

“A ideia de que Putin se contentaria com enfiar-me numa fortaleza no polo norte e deixaria de me torturar na cela de confinamento era não só cobarde como também ingénua”, escreveu Navalny.

A última declaração foi mesmo de amor e dirigida à companheira - fê-lo no dia dos namorados, esta quarta-feira: "Sinto que estás perto a cada segundo e amo-te cada vez mais ❤️", escreveu pela última vez Alexei Navalny.

Para o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, o responsável pela morte de Navalny é o presidente russo. “É óbvio que Navalny foi morto por Putin", garante, sublinhando que o caso do opositor deve levar o  chefe de Estado da Rússia a “perder tudo e ser a responsabilizado pelos seus atos”.
 

Na mesma linha, através da rede social X, o presidente do Conselho da UE, Charles Michel, salientou que Bruxelas “considera o regime russo o único responsável por esta morte trágica”. “Alexei Navalny fez o derradeiro sacrifício pelos valores da liberdade e da democracia.”

 

"A Rússia é responsável por isto", vincou o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, durante uma deslocação a Munique esta sexta-feira. "Por mais de uma década, o governo russo - Putin - processou, envenenou e prendeu Alexey Navalny e agora há relatos de sua morte. Em primeiro lugar, se esses relatos forem precisos, os nossos corações estão com a sua esposa e com a sua família."
 

O secretário-Geral da NATO, Jens Stoltenberg, afirmou estar "profundamente triste e perturbado" com a morte de Navalny. “Temos de apurar todos os factos e a Rússia tem de responder seriamente a todas as perguntas sobre as circunstâncias da morte de Navalny.”

 

Já o Governo português prestou homenagem a Navalny através de uma publicação do ministro dos Negócios Estrangeiros, João Cravinho, e responsabiliza Putin pelo sucedido.

 

 

“Não quero ouvir nenhuma condolência”, pediu entretanto a mãe de Navalny, Lyudmila Navalnaya, que conta que quando viu o filho pela última vez na prisão, na segunda-feira, ele estava “saudável e alegre”. “Não quero ouvir nenhuma condolência. Vimos o nosso filho na prisão no dia 12, durante a visita. Ele estava vivo, saudável e alegre”, disse ao canal de notícias independente russo Novaya Gazeta.

O Kremlin também já reagiu através do Ministério dos Negócios Estrangeiros classificando a morte como "uma tragédia", mas acusou os Estados Unidos da América de fabricarem "acusações infundadas" antes de sair qualquer relatório forense. 

Última aparição de Navalny

A última aparição de Navalny tinha sido num vídeo reproduzido em tribunal e onde surgia a sorrir e a gracejar, a partir da colónia penal no Ártico onde estava a cumprir uma pena de 19 anos de prisão.

As imagens foram partilhadas pelas agências de notícias russas. Navalny surgiu com roupa prisional preta vestida e cabelo rapado, numa transmissão televisiva em direto da colónia penal de “regime especial”.

Nas imagens de vídeo e nas notícias da comunicação social sobre a audiência, Navalny, de 47 anos, falou no seu habitual tom irónico sobre as saudades que tinha dos guardas da sua antiga prisão e dos funcionários do tribunal de Kovrov e gracejou sobre a inóspita prisão no extremo norte da Rússia.

“As condições aqui - e dirijo-me a vós, estimados arguidos - são melhores que na IK-6 em Vladimir”, declarou o opositor de Putin, usando o acrónimo da colónia penal.

“Existe, contudo, um problema – e não sei em que tribunal posso apresentar uma queixa sobre isso: o clima aqui é mau”, acrescentou com uma gargalhada.

Navalny foi transferido em dezembro para Kharp, a colónia penal de “regime especial” - o mais elevado nível de segurança das prisões na Rússia -, para cumprir pena por acusações de extremismo.

Passou meses em isolamento na Colónia Penal N.º 6 antes de ser para ali transferido. Foi repetidamente colocado de castigo numa cela minúscula devido a alegadas infrações, como abotoar incorretamente o seu uniforme prisional.

A família

Alexei Navalny era casado com Yulia Navalnaya, 47 anos, e tinha dois filhos: Daria Navalnaya, 23 anos, e Zahar Navalny, 15.

Yulia é economista, filha do cientista Boris Aleksandrovich Abrosimov e sobrinha de Elena Borisovna Abrosimova, uma das autoras da Constituição russa. A mulher de Navalny é uma figura muito mediática e vista por muitos russos como “primeira-dama”. Conheceram-se numas férias na Turquia, em 1998, e casaram-se dois anos depois. 

A filha, Daria, tornou-se conhecida depois de conduzir uma TED Talk sobre as lições que o pai lhe deixou depois de ser preso. Em 2021 recebeu pelo pai o "Moral Courage Award", na 13ª edição do Geneva Summit for Human Rights and Democracy.

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