Casa Pia: «Não acreditava neles desalmadamente» - TVI

Casa Pia: «Não acreditava neles desalmadamente»

  • Portugal Diário
  • 7 jun 2006, 19:09
Carlos Silvino, no banco dos réus, acompanhado de um guarda (Ilustrações de Hugo Martins, para Lusa)

Inspector da PJ relatou os principais «bicos de obra» da investigação

«Eu sei ouvir e é preciso saber ouvir as crianças», afirmou esta quarta-feira, durante o julgamento da Casa Pia, o inspector-chefe da Polícia Judiciária, Dias André.

O inspector, que foi responsável pela investigação do processo juntamente com Rosa Mota, explicou ainda em tribunal que teve dúvidas perante alguns relatos e que «não acreditava neles desalmadamente».

Durante a sessão desta quarta-feira o inspector foi apenas questionado pelo Ministério Público, que tentou esclarecer dúvidas em relação à investigação.

O procurador quis saber se as testemunhas eram levadas no mesmo carro para a PJ e se, aí chegados, se cruzavam nas instalações. Ao que Dias André respondeu que os jovens iam sozinhos nas viaturas e nunca se viam na PJ. «As deslocações dos miúdos foram o maior bico de obra que tive. Ficava até às três da manhã a planear as diligências e cheguei mesmo a pedir mais meios, que nunca me deram», afirmou em tribunal.

O magistrado do Ministério Público quis ainda saber, ao pormenor, a forma como foi realizada a identificação da casa de Elvas por parte de duas testemunhas e de Carlos Silvino.

Tal como a coordenadora da investigação, Rosa Mota, o inspector chefe admitiu ter sido surpreendido pela notícia do semanário «Expresso» e pela dimensão do caso. Dias André explicou ainda de que forma chegavam à polícia as informações sobre o escândalo, esclarecendo que não eram escritas de imediato no «processo». Havia cruzamento de informação e só depois os dados eram escritos de forma «oficial». Fossem relatos anónimos ou identificados.

Referiu ainda que recebeu um telefonema de uma testemunha, a dizer que tinha reconhecido Carlos Mota (ex-secretário de Cruz), no mesmo dia em que a «SIC» noticiou o seu envolvimento num processo de abuso a duas menores.

Segundo Dias André, o jovem conhecido como «o braço direito de Bibi» era o mais «carente e problemático», daí a relação de maior confiança que estabeleceu com ele, garantindo, no entanto, que todos os rapazes «eram acompanhados da mesma maneira». A referência de «João» (nome fictício) era Carlos Silvino «falava dele como um pai. E o seu sonho era ser motorista da Casa Pia como Silvino», relembra Dias André.

O inspector-chefe da PJ regressa amanhã a tribunal para continuar a ser questionado pelo MP. A sessão ficou marcada para as 13:30. Durante a manhã desta quarta-feira, a sessão decorreu à porta fechada devido à audição de uma outra testemunha de acusação. Que terá declarado «não ter qualquer conhecimento» sobre este processo.
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