Entrevista: Adolfo Luxúria Canibal

Adolfo Luxúria Canibal, vocalista e líder dos Mão Morta, falou com o IOL Música em vésperas do lançamento do primeiro DVD da banda, "Müller no Hotel Hessischer Hof". Música, livros e cinema foram alguns dos temas desta conversa com o enigmático artista, que, para quem não sabe, trabalha todos os dias como jurista.

Como vês a evolução dos Mão Morta, quase 22 anos após a formação da banda?

De uma forma muito positiva. Desde uma brincadeira com prazo de validade curto até ser referência de cultura em Portugal, o percurso é longo e gratificante, tanto mais quando na passagem não se perde o espírito diletante nem o deslumbramento da descoberta e o gosto pelo risco. Mas a evolução dos Mão Morta é também, sobretudo, o espelho da evolução dos seus membros, da pós-adolescência à idade adulta, da descoberta do mundo e da aprendizagem constante que essa descoberta proporciona.

O que sentiste ao rever "Müller no Hotel Hessischer Hof", que já tem quase 10 anos?

Primeiro, que a imagem apresentada em DVD é francamente superior à que existia em VHS, e mesmo o som apresenta melhorias consideráveis, soando mesmo melhor do que o CD editado em 1997.

Segundo, uma rememoração da angústia e do stress vividos nos meses e, sobretudo, nos dias e nas horas que antecederam a apresentação do espectáculo. Quando sabíamos que estávamos a pisar chão desconhecido, a mergulhar de cabeça no escuro, mas não sabíamos as consequências dessa ousadia. Também o relembrar de uma alegria superlativa, indescritível, e o alívio sentidos após tudo ter corrido pelo melhor e do espectáculo ter sido um êxito.

Terceiro, o orgulho, hoje, de o termos feito, de sentir que a pertinência estética e artística que o espectáculo teve em 1997 se mantém, sem uma ruga, em 2006. O orgulho de termos criado algo de intemporal e de singular, sem paralelo no que se fez antes ou depois.

Existem ideias para o lançamento de outros DVDs?

Existem ideias e mesmo mais que ideias. Há outro DVD na forja, que está em fase de montagem, baseado nos espectáculos que os Mão Morta deram na apresentação do álbum «Nus», e que têm os concertos do Fórum Lisboa e da Aula Magna, em 2005, como principal ingrediente.

Para quando um novo disco dos Mão Morta?

Não estamos a pensar nisso. Neste momento, e desde há alguns meses, trabalhamos na construção de um espectáculo, na linha do que foi o «Müller no Hotel Hessischer Hof», baseado nos Cantos de Maldoror, do Conde de Lautréamont, cuja estreia prevemos que aconteça em Outubro. Por agora ainda estamos na fase de fixação do texto e no início da colaboração com um encenador ligado ao teatro, António Durães.

Se daí advirá um disco ou mesmo um DVD, a exemplo do que aconteceu com o «Müller...», é uma questão sobre a qual ainda não nos debruçámos; o futuro o dirá!

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