Quem estava à espera do anúncio de decisões concretas significativas no final da cimeira da União Europeia- Brasil, poderá ter ficado desiludido. «Este não foi um encontro de negociações», fez questão de frisar o presidente sul-americano, Lula da Silva. Com uma ressalva do primeiro-ministro português, José Sócrates: «Não se negociou, mas as negociações foram relançadas».
Os dois políticos, em conjunto com Durão Barroso, fizeram questão de sublinhar o nasceu hoje em Lisboa: um momento de cristalização de uma «parceria estratégica de longo prazo».
Para José Sócrates, este passo representa a resolução de uma «lacuna» que existia no relacionamento da UE com o Brasil, um país que descreveu como a «trave-mestra» das relações da América Latina com o Mundo, de forma especial com o Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai).
A partir de agora, Brasil e União vão reunir-se anualmente ao mais alto nível - o próxima encontro «deverá acontecer durante a presidência francesa», explicou Sócrates.
O encontro desta quarta-feira recebeu uma sinalização intensa por parte do Governo português. É o primeiro passo com que presidência portuguesa espera reactivar um triângulo com mais de quinhentos anos, resolvido pelos vértices Europa-Brasil-África.
O primeiro passo dado hoje contou com a presença além de Barroso, o alto representante para a política externa da UE, Javier Solana, e do primeiro-ministro esloveno, Janez Jansa (a Eslovénia acolhe a próxima presidência rotativa da UE), e ainda a do comissário europeu do Comércio Peter Mandelson.
Ambiente e comércio
Na conferência de imprensa, o primeiro-ministro sublinhou três aspectos deste encontro. Em primeiro lugar destacou «aposta num multilateralismo efectivo» assim como «num mundo mais justo e equilibrado».
José Sócrates apontou ainda a «cooperação estratégica» na área do combate às alterações climáticas e no uso de biocombustíveis (produção que o Brasil lidera a nível mundial).
Finalmente, sobre o impasse das negociações da Organização Mundial do Comércio (OMC), que voltaram a fracassar na semana passada, em Potsdam, na Alemanha, José Sócrates referiu que nem o Brasil nem a UE «desistiram do sucesso» da Ronda de Doha, apontado a necessidade de uma «regulação equilibrada e justa da globalização».
«Uma carta no colete»
Sobre este assunto, o presidente brasileiro disse querer «acabar com especulação», referindo que a «verdade nua e crua» é que ainda não existe um consenso, porque existem interesses em choque, por parte de todos. «Toda a gente tem uma no colete e o Brasil também terá a sua». Para Lula, há contudo, algo claro: «Os países que precisam de ganhar mais são os mais pobres».
Mas o presidente brasileiro surpreendeu os presentes ao dizer que era
Lula, um «Silva português»
Durão Barroso também solidificou esta intenção da necessidade de haver um acordo a nível dos países da OMC: «Queremos salvar Doha».
Durante a tarde algumas dezenas de imigrantes brasileiro fizeram ouvir a sua junto ao Pavilhão Atlântico. «Queremos documentos pá galera do Brasiu»
UE e Brasil celebram «parceria estratégica»
- Hugo Beleza
- 4 jul 2007, 20:40
Sócrates: «Não se negociou, mas as negociações foram relançadas»
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